Também na semana passada, antes de Bolsonaro anunciar a troca na pasta, Pazuello deu uma entrevista coletiva em tom de despedida. Disse que não pediu para ir embora, mas admitiu que o presidente Bolsonaro estava “reorganizando a pasta”.
No dia seguinte ao anúncio, em 16 de março, ao chegar ao Ministério da Saúde para uma reunião com Pazuello, Queiroga afirmou que “executará a política do governo”.
“O governo está trabalhando. As políticas públicas estão sendo colocadas em prática. O ministro Pazuello anunciou todo o cronograma da vacinação. A política é do governo Bolsonaro, não é do ministro da Saúde. O ministro da Saúde executa a política do governo”, disse Queiroga.
A assinatura do termo de posse ocorre com mais de uma semana de atraso. O nome de Queiroga ainda aparece como administrador de duas empresas com registro na Receita Federal. A nomeação que oficializa o médico no comando da Saúde não pode ser publicada em Diário Oficial da União enquanto essa etapa não for resolvida.
Por lei, servidores públicos estatuários são proibidos de serem sócios-administradores de empresas privadas. No caso de Queiroga, ele é sócio administrador de duas clínicas de cardiologia em João Pessoa (PB). Para assumir o cargo de ministro, é necessário que ele deixe a administração das empresas, embora possa continuar sendo sócio.
De acordo com registros da Receita, Marcelo Queiroga é sócio de três empresas, sendo sócio-administrador das duas últimas: Centro de Cardiologia Não Invasiva da Paraíba; Hemocard Clínica de Cardiologia e Hemodinâmica; e Cardiocenter Centro de Diagnóstico e Tratamento das Doenças Cardiológicas.
Com a nova mudança no Ministério da Saúde, o médico será o quarto a ocupar o cargo desde o início do governo Bolsonaro, em 2019.
O presidente começou o mandato ao lado do também médico Luiz Henrique Mandetta, que permaneceu no cargo de ministro por um ano e quatro meses. A exoneração do então ministro ocorreu em 16 de abril, ainda no início da crise do coronavírus.
Bolsonaro e Mandetta discordavam sobre como lidar com o combate à pandemia. O ex-ministro apoiava medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos, constantemente atacadas por Bolsonaro.
O médico também se negou a endossar o uso geral de medicamentos sem comprovação científica no tratamento da Covid-19, como defendeu o chefe do Executivo no início da pandemia, a exemplo da cloroquina.
Para o lugar de Mandetta, Bolsonaro escolheu o oncologista Nelson Teich, que permaneceu no cargo durante 28 dias. No período em que comandou a pasta, Teich manteve o posicionamento adotado por Mandetta, em defesa do isolamento social e contrário ao uso de medicamentos sem eficácia no tratamento da doença.
O oncologista, inclusive, negou-se a alterar o protocolo do Ministério da Saúde sobre o “tratamento precoce” da Covid-19. Dias depois, já com o general Pazuello no comando interino da pasta, o governo divulgou uma nota informativa com orientações para “manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”.
Marcelo Queiroga, de 55 anos, é médico formado pela Universidade Federal da Paraíba. Fez residência médica no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro, e treinamento em hemodinâmica e cardiologia intervencionista, na Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Atualmente é responsável pelo Departamento de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital Alberto Urquiza Wanderley, em João Pessoa (PB), e é presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
O médico tem no currículo intensa atuação na Associação Médica Brasileira (AMB) e na Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), que também presidiu.
É casado com uma pediatra e tem três filhos – uma é médica, outro está a caminho da mesma formação, e o terceiro filho é advogado.
Queiroga é amigo do também cardiologista Hélio Roque Figueira, sogro do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República. Flávio chegou a indicar o nome de Queiroga para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Ele esperava a sabatina do Senado, suspensa por causa da pandemia.