O portal Saúde Brasil conversou sobre o assunto com Tania Cavalcante, secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco (Conicq), do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Ela explicou que aproximadamente 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados por meio de prevenção ao tabagismo, alimentação saudável e diversificada, além de prática regular de atividades físicas dentre outros fatores de risco.
“Em 2015 tivemos mais de 500 mil casos novos de câncer no Brasil, sendo que 73.500 são atribuídos ao tabagismo. Ou seja, são casos que poderiam não ter acontecido se as pessoas não fumassem. Desses, quase 27 mil são de câncer de pulmão”, enumera Tania. “Cerca de 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados por meio de prevenção no que diz respeito ao tabagismo, alimentação e atividade física, dentre outros fatores de risco de câncer. Muitos tipos de câncer causados pelo tabagismo poderiam sequer existir. O principal deles é o câncer de pulmão, que é o que mais mata homens e o segundo que mais mata mulheres no Brasil. Nesse tipo de câncer específico, 80% dos casos são atribuídos ao tabagismo”, acrescenta.
Na fumaça gerada pelos cigarros já foram detectadas cerca de 7 mil substâncias químicas, das quais 60 são cancerígenas. Essas substâncias em contato repetido com os tecidos do corpo humano provocam agressão e lesão às células, que podem sofrer mutações e dar início a formação de um câncer. “O pulmão é o principal órgão de choque por onde as substâncias cancerígenas da fumaça passam e depois entram na circulação sanguínea. Fora isso, o tabagismo ainda causa câncer de boca, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, rins, bexiga, leucemia e até colo de útero. A relação do tabagismo com esses tipos de câncer não é tão forte quanto o de pulmão, mas há uma fração atribuída. Há uma proporção de casos que poderia não existir se as pessoas não fumassem”, acentua.
Casos evitáveis
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo. No Brasil, a prevalência de fumantes na população vem caindo com o passar dos anos. No entanto, dados de 2013 revelaram que ainda existem mais de 20 milhões de fumantes. São pessoas dependentes da nicotina que encontram-se sob risco de desenvolverem câncer e outras doenças causadas pelo tabagismo como infarto, derrame, enfisema, dentre outras. Esse número ainda elevado de fumantes no Brasil é o resultado das estratégias de fabricantes de cigarros para captar novos fumantes entre adolescentes com o objetivo de substituir os que morrem ou os que param de fumar.
Um exemplo é a colocação de aditivos para dar sabores aos cigarros com a finalidade de tirar o gosto ruim e facilitar a experimentação entre adolescentes. Em 2012, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu essa prática, mas as empresas entraram com uma ação judicial que suspendeu a sua implementação e desde então aguarda-se uma decisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso, a luta contra o tabagismo precisa continuar forte.
Dicas para parar de fumar
“Você que é fumante, antes de acender cada cigarro pense: será que de fato preciso desse cigarro? Quem sabe você perceberá que pode ficar sem muitos dos cigarros que fuma todos os dias. Quem sabe você encontrará seu próprio caminho para ficar sem fumar definitivamente. Certamente sua saúde e a saúde das pessoas de seu convívio serão beneficiadas”, afirma Tania. “Fumantes passivos – aqueles que não fumam, mas estão próximos a fumantes – também correm risco de desenvolver câncer e outras doenças relacionadas ao tabaco”, finaliza.