Uma jovem mulher queria tirar a carteira de motorista e se inscreveu numa autoescola. Certo dia, durante uma aula de direção prática, numa rua com muito trânsito, o instrutor disse baixinho no ouvido dela:
– Ouvi bem? Você me chamou de “meu querido”?
– Senhor! – gritou espantada a jovem se virando para o lado do homem. O instrutor, sorrindo, disse para ela continuar olhando para a rua. Depois acrescentou: – Não se preocupe. Faço isso com todos os alunos, para lhe ensinar uma lição: não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada. No 11º Domingo do Tempo Comum, retomamos a leitura do evangelho de Mateus. Depois do grande discurso do Monte (cap. 5-6 e 7), o evangelista apresenta as “obras” do Messias, sobretudo as curas e a tempestade acalmada. No entanto Jesus não deixa de chamar pessoas a segui-lo, como faz com Mateus, o cobrador de impostos. É, porém, na página deste domingo que Jesus escolhe os “12”. Os nomes deles estão aí, para sempre, com as suas diversidades, dúvidas e medos, como veremos no próximo domingo. Era comum, naquele tempo, e hoje também, com as devidas diferenças, que um “mestre” tivesse ao seu redor discípulos dispostos a aprender com ele. “Seguidores” de verdade, prontos a partilhar a vida dele, não meros amigos virtuais, cada um sentados no sofá da sua casa, como acontece em nossos dias. Eles tinham deixado família e trabalho para segui-lo. Essa tinha sido uma primeira virada na vida deles. Agora Jesus os envia em missão com algumas recomendações claras, inovadoras e muitos desafios. Antes, porém, o evangelista coloca novamente Jesus “vendo” as multidões. Na primeira vez, depois de “ver” as multidões, ele tinha oferecido o seu ensinamento (Mt 5,1-2). Dessa vez, o seu coração se enche de compaixão pelo povo cansado e abatido, parecendo “ovelhas que não têm pastor”. Ou, numa outra comparação, um campo pronto para a colheita, mas largado por falta de trabalhadores. Jesus convida a rezar, a pedir ajuda ao “dono da messe” e, ele mesmo, começa a escolher e a enviar os operários. Com isso, entendemos que a Igreja é missionária por constituição. O dia que deixasse de evangelizar, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Mas, atenção, junto com a ação vai também a oração, porque sem a força e a luz do Espírito Santo a missão se tornaria propaganda. Ela não é o resultado de um planejamento ou de um esforço de vontade nossa, como diz Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões do próximo mês de outubro: “É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma”. Tudo isso, porém, não significa que a obra, nunca acabada, do anúncio do Evangelho seja algo improvisado, sem rumo, sem meta e sem conteúdo. Não. Jesus, é claro. Tem que começar pelas “ovelhas perdidas da casa de Israel”, o povo eleito. Depois virão também os samaritanos e os pagãos, como os apóstolos fizeram. Fundamental, contudo, é a mensagem que devem comunicar: “O Reino de Deus está próximo”. Deus não está longe, está aqui no meio da humanidade, deixa-se encontrar, porque fala, cura, doa vida nova, salva e liberta por meio do seu Filho Jesus. Por fim, um sinal inequivocável para reconhecer a autêntica ação evangelizadora: a gratuidade. A missão não é um “negócio”. Quem reconhece ter sido alcançado “de graça”, sem merecimento algum, pelo am or de Deus, por puro dom da sua bondade, deve também partilhar generosamente este bem tão precioso com quem o quiser acolher. Esse é o “foco” da missão da Igreja: fazer saber à uma humanidade confusa e atraída por infinitas propostas de felicidade que o caminho para dar um sentido grande à vida é o seguimento de Jesus Cristo. Com ele, aprendemos a confiar no único “mandamento” que é o verdadeiro bem ao nosso alcance e que ninguém pode nos roubar: o amor doado que nos faz felizes alegrando os outros. O cristão é como um motorista que está dirigindo. Não pode se deixar distrair por qualquer conversa ao seu redor. O seu olhar deve ficar sempre atento na estrada. Jesus é, ao mesmo tempo, o caminho e a meta da viagem. Vamos lembrar.
– Ouvi bem? Você me chamou de “meu querido”?
– Senhor! – gritou espantada a jovem se virando para o lado do homem. O instrutor, sorrindo, disse para ela continuar olhando para a rua. Depois acrescentou: – Não se preocupe. Faço isso com todos os alunos, para lhe ensinar uma lição: não ligue para o que os outros lhe dizem. Quem dirige deve ficar sempre atento na estrada. No 11º Domingo do Tempo Comum, retomamos a leitura do evangelho de Mateus. Depois do grande discurso do Monte (cap. 5-6 e 7), o evangelista apresenta as “obras” do Messias, sobretudo as curas e a tempestade acalmada. No entanto Jesus não deixa de chamar pessoas a segui-lo, como faz com Mateus, o cobrador de impostos. É, porém, na página deste domingo que Jesus escolhe os “12”. Os nomes deles estão aí, para sempre, com as suas diversidades, dúvidas e medos, como veremos no próximo domingo. Era comum, naquele tempo, e hoje também, com as devidas diferenças, que um “mestre” tivesse ao seu redor discípulos dispostos a aprender com ele. “Seguidores” de verdade, prontos a partilhar a vida dele, não meros amigos virtuais, cada um sentados no sofá da sua casa, como acontece em nossos dias. Eles tinham deixado família e trabalho para segui-lo. Essa tinha sido uma primeira virada na vida deles. Agora Jesus os envia em missão com algumas recomendações claras, inovadoras e muitos desafios. Antes, porém, o evangelista coloca novamente Jesus “vendo” as multidões. Na primeira vez, depois de “ver” as multidões, ele tinha oferecido o seu ensinamento (Mt 5,1-2). Dessa vez, o seu coração se enche de compaixão pelo povo cansado e abatido, parecendo “ovelhas que não têm pastor”. Ou, numa outra comparação, um campo pronto para a colheita, mas largado por falta de trabalhadores. Jesus convida a rezar, a pedir ajuda ao “dono da messe” e, ele mesmo, começa a escolher e a enviar os operários. Com isso, entendemos que a Igreja é missionária por constituição. O dia que deixasse de evangelizar, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Mas, atenção, junto com a ação vai também a oração, porque sem a força e a luz do Espírito Santo a missão se tornaria propaganda. Ela não é o resultado de um planejamento ou de um esforço de vontade nossa, como diz Papa Francisco, na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões do próximo mês de outubro: “É Cristo que faz sair a Igreja de si mesma”. Tudo isso, porém, não significa que a obra, nunca acabada, do anúncio do Evangelho seja algo improvisado, sem rumo, sem meta e sem conteúdo. Não. Jesus, é claro. Tem que começar pelas “ovelhas perdidas da casa de Israel”, o povo eleito. Depois virão também os samaritanos e os pagãos, como os apóstolos fizeram. Fundamental, contudo, é a mensagem que devem comunicar: “O Reino de Deus está próximo”. Deus não está longe, está aqui no meio da humanidade, deixa-se encontrar, porque fala, cura, doa vida nova, salva e liberta por meio do seu Filho Jesus. Por fim, um sinal inequivocável para reconhecer a autêntica ação evangelizadora: a gratuidade. A missão não é um “negócio”. Quem reconhece ter sido alcançado “de graça”, sem merecimento algum, pelo am or de Deus, por puro dom da sua bondade, deve também partilhar generosamente este bem tão precioso com quem o quiser acolher. Esse é o “foco” da missão da Igreja: fazer saber à uma humanidade confusa e atraída por infinitas propostas de felicidade que o caminho para dar um sentido grande à vida é o seguimento de Jesus Cristo. Com ele, aprendemos a confiar no único “mandamento” que é o verdadeiro bem ao nosso alcance e que ninguém pode nos roubar: o amor doado que nos faz felizes alegrando os outros. O cristão é como um motorista que está dirigindo. Não pode se deixar distrair por qualquer conversa ao seu redor. O seu olhar deve ficar sempre atento na estrada. Jesus é, ao mesmo tempo, o caminho e a meta da viagem. Vamos lembrar.
Dom Pedro Conti
Dom Pedro José Conti é bispo católico, quarto bispo da Diocese de Macapá. Conti estudou Filosofia e Teologia no Seminário Diocesano de Brescia e foi ordenado sacerdote em 12 de junho de 1976