Câncer colorretal
1. Dia 27 de março foi o dia do combate do câncer colorretal. O que é essa doença e qual sua incidência no nosso estado?
Primeiramente, é importante definir que o sistema digestivo é responsável por remover e processar os nutrientes provenientes da alimentação – vitaminas, minerais, carboidratos, gorduras, proteínas e água, também ajudando a eliminar os resíduos indesejáveis. Este sistema é composto pela boca, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. O cólon e o reto fazem parte do intestino grosso, sendo portanto os tumores colorretais, cânceres desta região. Segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer, a taxa estimada é de 4 casos para 100 mil habitantes no Estado do Amapá. Em recente trabalho de pesquisa do qual fiz parte, publicado na Revista Brasileira de Ciências da Saúde, evidenciou-se que o câncer de colorretal encontra-se entre os mais frequentes na população do Amapá correspondendo a 7,84% de prevalência entre os tumores sólidos.
2. Na sua opinião o que favorece o número alarmante deste tipo de câncer no Brasil?
Realmente nossos números são alarmantes, pois estima-se que para o triênio de 2020 a 2022, sejam descobertos mais de 20 mil casos de câncer colorretal tanto em homens, quanto em mulheres. Dados dos Estados Unidos (EUA) evidenciam que o câncer colorretal é mais comum nas pessoas com idade entre 65 e 74 anos, no entanto as taxas de novos casos entre adultos com 50 anos ou mais estão diminuindo devido a um aumento no rastreamento e o combate aos fatores de risco como o tabagismo.
O Brasil encontra-se no processo de envelhecimento populacional, aumento da expectativa de vida, com consequente crescimento do número dos casos de câncer, sem o devido crescimento e aparelhamento da rede de assistência médica para investigação, diagnóstico e tratamento dos casos de câncer colorretal. Reitera-se que o combate a uma determinada patologia vai desde a prevenção, diagnóstico e efetivo tratamento dos casos.
3. Sabe-se que existe uma estreita relação entre o câncer e os fatores genéticos, comportamentais e ambientais. Quais seriam os principais fatores de risco para o câncer colorretal ?
Fator de risco é qualquer fator que aumente a chance de contrair uma doença. A idade avançada é o principal fator de risco para a maioria dos cânceres, incluindo o câncer colorretal. O histórico familiar e alterações genéticas herdadas como a polipose adenomatosa familiar e a síndrome de Lynch (câncer colorretal hereditário não polipose) são importantes fatores que devem ser investigados, assim como a presença de um parente de primeiro grau (pai, irmão ou filho) com câncer colorretal. Pacientes com histórico pessoal de câncer colorretal, câncer de ovário, câncer de mama devem ser investigados com atenção, assim como pessoas com história pessoal de retocolite ulcerativa ou doença de Crohn (doença inflamatória do intestino) por oito anos ou mais.
Em relação aos fatores de riscos comportamentais: a prática do tabagismo, obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de carnes processadas como salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon, peito de peru, salame entre outros, assim como a baixa ingesta de alimentos ricos em fibras como frutas, legumes e verduras estão bem documentados na literatura médica.
4. Como é feito o diagnóstico do câncer colorretal e quais os sintomas mais comuns da doença?
Entre os sinais e sintomas do câncer colorretal, deve-se atentar para a existência de sangue nas fezes, mudanças no hábito intestinal como diarréia ou constipação (prisão de ventre), ocorrência de tenesmo que consiste na sensação de que o intestino não esvazia completamente. A presença de fezes “em fita” (mais estreitas do que o normal), chama atenção para quadro iminente de obstrução intestinal. O paciente pode ter queixas de dor ou desconforto abdominal, queixa frequente de gases, distensão abdominal e sensação de plenitude. A perda de peso sem motivo conhecido, cansaço e ocorrência de vômitos já são sinais de doença mais avançada.
A investigação diagnóstica sempre se inicia por entrevista médica e exame físico bem realizados. O histórico de sinais e sintomas como os citados anteriormente, além do levantamento dos hábitos de vida, outras doenças prévias e na família são fundamentais. O exame físico pode revelar dependendo da fase da doença, massa palpável no abdome, sinais de doença em outros órgãos (metástases), sendo o exame retal imprescindível, pois pode revelar presença de sangramento e alguns tumores de reto podem ser tocados.
A investigação pode seguir com pesquisa de sangue oculto nas fezes, coletando-se uma pequena amostra e enviando-se para o laboratório de análises. A constatação de sangue nas fezes pode ser um sinal de pólipos no intestino ou câncer. O diagnóstico definitivo é obtido através da realização da colonoscopia que consiste na passagem de um aparelho (colonoscópio) que examina o interior do reto e do cólon em busca de pólipos, áreas anormais ou tumores. O médico endoscopista realiza uma biópsia, que trata-se da remoção de pólipos ou amostras de tecido suspeito para câncer. Tais amostras são encaminhadas para o médico patologista para verificar se existe sinais de câncer.
5. Como as pessoas podem diminuir os riscos para o câncer colorretal?
Parte dos cânceres são evitáveis através de boas práticas de saúde e hábitos de vida saudáveis como por exemplo não fumar. A divulgação da informação e educação da população é fundamental. Saúde pública de qualidade se inicia pela disseminação do conhecimento. Massificar ao máximo a informação associada a implementação de programas efetivos nas escolas, nas unidades básicas de saúde, nas associações de bairro, na comunidade de um modo geral sobre os sinais de alerta para a presença do câncer colorretal são fundamentais. A prevenção ao câncer colorretal esta inserida em programas de manutenção do peso corporal adequado, estimulando-se a prática de atividade física e ingestão de alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas, grãos e sementes, portanto uma alimentação rica no consumo de fibras que provém num bom funcionamento intestinal.
Em termos de política pública a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o rastreamento do câncer colorretal por meio do exame de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos. Em caso de exame positivo, prosseguir com realização de colonoscopia para detecção de pólipos (lesões pré-malignas) ou câncer. No entanto, diversos grupos médicos na Europa e nos Estados Unidos recomendam o rastreamento de rotina com colonoscopia a partir dos 50 anos. A American Cancer Society recomenda que o rastreamento de rotina inicie a partir dos 45 anos.
6. Em relação ao câncer colorretal quais aspectos são determinantes para o resultado do tratamento?
O fator preponderante inicialmente para determinar o tratamento é o que chamamos de estadiamento oncológico, que consiste em definirmos quão avançada encontra-se a doença, se em fase inicial ou se a doença se disseminou para outros órgãos (metástases). Tal estadiamento é realizado através de exame clínico, exames laboratoriais com inclusão de marcadores tumorais e exames de imagens como a tomografia computadorizada. Dependendo do estadiamento o câncer colorretal poderá ser tratado somente com cirurgia, que deverá ser realizada por cirurgiões com expertise em tratamento oncológico, para que haja melhor resultado no tratamento. Em outros casos o tratamento torna-se associado a quimioterapia e radioterapia.
7. O que falta para existir um tratamento completo no nosso Estado?
O Amapá possui profissionais qualificados em todas as etapas do atendimento ao paciente com câncer colorretal, que incluem o diagnóstico, o tratamento e o cuidado multidisciplinar, no entanto ainda não dispomos da radioterapia, que é fundamental no tratamento de tumores de reto baixo, porém existe perspectiva de implantação desse serviço em nosso estado.
Dr. Achiles: Médico Radiologista; Professor da Unifap; Mestre em Ciências da Saúde
Hoje no #vemcomigofalardesaude temos como convidado o cirurgião oncológico Roberto Marcel, que abordará o tema câncer colorretal.
Convidado da semana
Dr. Roberto Marcel
Contatos (96) 33444444 / 991213955