O comportamento suicida é um fenômeno complexo, com múltiplas causas e diversos fatores envolvidos, se revela num continuum de autoagressões que envolve ideação (ideias suicidas), planejamento, tentativas e atos suicidas. Os pediatras brasileiros têm sido confrontados com a realidade deste fenômeno mais regularmente, devido ao cotidiano de ambulatórios, enfermarias e serviços de emergência pediátrica.
O suicídio é hoje a terceira causa de morte na adolescência e a tentativa de auto extermínio a principal causa de emergência psiquiátrica em hospitais gerais.
Nos últimos 10 anos, têm aumentado as taxas de tentativa de suicídio e suicídio consumado em jovens.
98% das pessoas que cometem suicídio apresentam algum transtorno mental à época do Suicídio (Flesmann, 2002), especialmente transtorno do humor (depressão, bipolar, etc).
Mais de 70% das crianças e adolescentes com transtornos de humor grave não apresentam sequer diagnóstico que dirá tratamento adequado.
Em média, um único suicídio afeta outras seis Pessoas (Fleishman, 2002).
Muitas vezes o suicídio é omitido pela família, que apresenta dificuldade e preconceito para lidar com esta difícil questão (Bertolote, 2004).
O suicídio é uma das 10 maiores causas de morte em todos os países.
Homens cometem suicídio quatro vezes mais do que as mulheres e estas últimas tentam suicídio mais vezes, com métodos, porém menos letais.
A baixa incidência do suicídio em crianças está relacionada a maior dificuldade de acesso a métodos letais e imaturidade cognitiva.
No Brasil, a taxa de suicídio em jovens entre 15 a 24 anos aumento 20 vezes de 1980 para 2000, principalmente entre homens (Wang, Bertolote, 2005).
Contribuições
A ideação suicida é comum na idade escolar e na adolescência; as tentativas, porém, são raras em crianças pequenas. Tentativas de e suicídio consumado aumentam com a idade, tornando-se comuns durante a adolescência.
Crianças suicidam com fatores desencadeantes: discussão com os pais, problemas escolares, perda de entes queridos e mudanças significativas na família.
Até os 6 a 7 anos a criança encontra-se na fase do pensamento pré-lógico, com predomínio do pensamento mágico q, com dificuldade de simbolizar e conceituar o que lhe chega sob forma de percepção.
No seu modo egocêntrico e animista de pensar, a criança não admite a existência do acaso, já que relaciona todos os eventos a suas próprias experiências (Assumpção, Tratado de Psiquiatria).
Nesta fase, a ideia de morte ´e limitada e não envolve uma emoção em especial.
O pensamento mágico vai sendo substituído pelo raciocínio lógico e a morte para de ser vista como processo reversível e torna-se uma ideia de processo de deterioração do corpo irreversível; sem preocupação, porém com o que virá após a morte.
Aos 11 a 12 anos, há passagem do pensamento concreto para o pensamento abstrato, Estágio das Operações Formais (PIAGET , 2000). Nesta etapa surge a preocupação com a vida após a morte (Toress, 1999).
O jovem entra no mundo através de profundas alterações no seu corpo, deixando para trás a infância e é lançado num mundo desconhecido de novas relações com os pais, com o grupo de iguais e com o mundo.
Assim, invadido pó forte angústia, confusão e sentimento de que ninguém o entende, que está só e que é incapaz de decidir corretamente seu futuro.
Isso ocorre, principalmente, se o jovem estiver num grupo familiar também em crise, por separação dos pais, violência doméstica, alcoolismo ou doença mental de um dos pais, doença física ou morte (Resmini, 1997).
O jovem que considera o suicídio comum a solução para seus problemas deve ser observado de perto, principalmente se estiver se sentindo só e desesperado, sofrendo a pressão de estressores ambientais, insinuando que é um fardo para os demais. Pode chegara dizer que a sua morte seria um alívio para todos.
Fatores de risco
90% dos jovens apresentam algum transtorno mental no momento do suicídio (e em 50% destes o transtorno mental já estava presente havia pelo menos 2 anos). Agressividade e desesperança são os fatores mais comuns (Shaffer, 1996).
Comportamentos de risco: envolvimento em esportes radicais sem técnica e equipamentos adequados, dirigir embriagado, uso abusivo de drogas ilícitas, atividade sexual promíscua, brigas constantes e de gangues.
Fatores Cognitivos que indicam risco para uma primeira tentativa ou recorrência do comportamento suicido nesta população (Kuczynsky, 2003):
1 – Desesperança
2 – Menor potencial para geração de soluções alternativas para situações problemáticas interpessoais e menor flexibilidade para enfrentar situações problemáticas
3 – Estilo de atribuição disfuncional (considerar eventos negativos como de sua responsabilidade, duradouros ou de impacto sobre todos os aspectos de sua vida) – frequente associação com quadros depressivos de longa evolução
4 – Impulsividade.
Violência Física e Sexual (Shaffer, 2001)
Fatores Socioculturais: sucesso escolar (cobrança dos pais), mudanças sociais abruptas, acesso fácil a armas de fogo.
Para saber mais:
http://www.crianca.mppr.mp.br/pagina-1498.html
http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/tentativa-de-suicidio-infantojuvenil-lesao-da-parte-ou-do-todo/14945?id=14945