No ano de 2050, conforme previsões de organismos sérios, teremos 10 bilhões de habitantes no nosso planeta. 10 bilhões de bocas famintas e guerras provocadas pela fome se não mudarmos e não nos prepararmos. Até hoje o mundo, em matéria de alimentação, tem “tocado de ouvido” sem o mínimo planejamento. Isso tem que mudar, temos que nos preparar para o que vem pela frente. Organismos como a FAO, OCDE e outros vem estudando o grande dilema de como alimentar o planeta em 2050, fazendo projeções de soluções e creio que é chegada a hora de todos os países começarem a trabalhar neste mesmo sentido.
Será que a previsão de uma população de 10 bilhões de habitantes em 2050 está correta, será maior ou menor que esse número? Vejamos, as populações da China, África e Índia somadas em 2018 alcançaram o patamar de 4 bilhões. A China, recentemente, ampliou o seu controle de natalidade permitindo que as famílias pudessem ter 2 filhos, anteriormente o permitido era 1 filho. A África que em várias regiões o costume tribal permite ao homem ter 5 esposas. O crescimento populacional da Índia é praticamente impossível de mensurar. Tudo sem falar do mundo Islâmico com os seus preceitos religiosos. Então, sem nos deter em números, a previsão é que ocorrerá uma explosão populacional até o ano de 2050. A previsão que fica é: 10 bilhões de bocas famintas precisarão ser alimentadas para evitar a falência da civilização como conhecemos hoje.
Os maiores produtores como os EUA, China e União Europeia tem grande dificuldade de aumentar as suas produções por falta de novas áreas agricultáveis. Vejamos a China que sofre com falta d’água. O que esses países podem fazer diante da perspectiva de uma explosão populacional prevista para 2050? Absolutamente nada, não tem mais espaço para crescer a produção de alimentos e enfrentar o problema.
Durante milhares de anos os alimentos que saciavam a fome do mundo eram produzidos em áreas temperadas, regiões com clima temperado e conseguiam satisfazer as populações da época. Os habitantes das áreas com clima tropical eram coletores extrativistas, a única exceção era o Brasil com o café e o cacau, o restante das atividades eram extrativista com madeira, látex e outros produtos. O mundo mudou, a população cresceu e a agricultura temperada não tinha mais condições de alimentar todas as bocas famintas.
Eis que de repente surge o milagre, a revolução agrícola do Brasil acontecida há apenas 50 anos. Os brasileiros aprenderam e desenvolveram a agricultura tropical, para seu consumo próprio e para exportar para outros países, hoje alimentando ¼ da população mundial. Será isso suficiente diante da perspectiva de crescimento populacional do planeta? Não. Precisaremos de uma nova revolução agrícola.
Os brasileiros recompuseram e fertilizaram o cerrado com tanta competência que é de lá que sai a maior parte da soja que produzimos para o mundo, já produzimos mais de uma safra de milho por ano, porém, ainda não é o suficiente. Aprendemos a recuperar as áreas degradadas e o fizemos, ainda em pequeno percentual. Precisamos ampliar a ação.
O que precisamos agora é fazer o aumento da produção na Amazônia sem desrespeitar o atual Código Florestal. Os Amazônidas que trabalham cumprindo o estabelecido pelo Código, apesar de todas as restrições, demonstraram que é possível aumentar a produção da região com ações dentro da legalidade.
Alysson Paulineli, Ex Ministro da Agricultura e um dos grandes responsáveis pelo surgimento da Agricultura Tropical, declara:
“842.000 propriedades deram origem à revolução agrícola no Brasil e ainda existem 4.500.000 propriedades que podem ser a origem da nova revolução da agricultura”
Conforme afirmam os organismos internacionais, o mundo precisará produzir 51% a mais de alimentos e o Brasil deverá ter a responsabilidade de produzir 41%, ou seja, teremos que triplicar a nossa produção. Como atingir toda essa produção diante de tantas restrições internas e externas?
Na minha opinião o aumento da nossa produção passa por uma assistência técnica rural bem respaldada, crédito orientado e aprimoramento da gestão, todavia, precisaremos do apoio governamental fazendo renascer a Embrater e cada Emater estadual para efetiva assistência técnica e que sejam as reais multiplicadoras das inovações desenvolvidas pela Embrapa. A assistência técnica rural não pode ser concentrada apenas no Senar, a tarefa é muito grande e não poderá ter sucesso sem o apoio governamental com a formação e contratações de técnicos dispostos a fazer carreira nos interiores deste enorme Brasil.
Precisamos da consciência que não exportamos meras comodities e sim produtos com enormes valores agregados representados pela fiscalização fito sanitárias do Ministério da Agricultura garantindo a segurança alimentar do mundo, além, da garantia da preservação do meio ambiente com o cumprimento das duras regras, inexistentes em qualquer outro país, do código florestal, que por falar nisso, o IBAMA tem que ser reforçado não apenas para fiscalizar, tem que se tornar um órgão efetivo de orientação e fiscalização. É muito fácil sair com um papel e caneta simplesmente autuando e multando, queremos vê-lo orientando. Será que diante disso o que exportamos são meras comodities?
O mundo exigirá, no futuro, saber a origem da produção e produtos naturais, não confundir com orgânicos. A rastreabilidade de todos os produtos do Agro não será esse arremedo proposto pelas duas grandes indústrias frigoríficas. A fiscalização seria feita pelo estado. O Ministério da Agricultura já aprendeu muito bem, rastreia e orienta perfeitamente as questões fito/sanitárias, não vejo por que o Ministério do Meio Ambiente não possa aprender e aplicar na sua área de atuação.
Os EUA têm US 96 bilhões de subsídios para o Agro, a União Europeia US 104 bilhões, a China US 236 bilhões e o Brasil por volta de US 10 bilhões. O que nos faz concluir, diante dos valores mundiais, que o governo brasileiro praticamente não subsidia o Agro. A ideia é pedir uma ação efetiva de apoio ao Agro, incluindo-se o apoio a uma maior tecnificação das agroindústrias, além da conectividade no campo e da regularização fundiária com a identificação dos gargalos prejudiciais. O governo e o Ministério da Economia não precisam se preocupar, tudo é uma questão de custo/benefício, o Ministro Paulo Guedes vai entender bem o recado – se triplicarmos a nossa produção o Agro trará para o Brasil US 1,2 trilhões anuais. Finalmente vamos poder afirmar, sem medo de errar, o que vem sendo dito há muito – Brasil o país do futuro – com o apoio do Agro a frase se tornará verdadeira para nós e para o resto do mundo!
Gil Reis
Consultor em Agronegócio