Llosa, em entrevista coletiva no Copacabana Palace Hotel-RJ, produziu pérolas de culto pensamento, que mesmo com alguma discordância, achei o raciocínio inovador em relação a povos e poder da América Latina. (Pena que tenha perdido a eleição para presidente do Peru, para o hoje foragido, Fujimori).
Historiando o exercício interno de poder dos latinos, condenou não apenas a falta de oportunidade aos jovens, como culpa ainda, aos conquistadores dos poderes, de deterem vôos mais altos, a lutadores de grande potencial e inteligência. Os tem mantido com curtas possibilidades, dificultando-lhes vergonhosamente, a escalada a uma vida cultural de melhor nível. Tais atitudes, afirma, sejam por razões ideológicas, econômicas ou políticas, produzem danos irreversíveis aos mais novos e as nações.
Sendo peruano, diz só ter acontecido no mundo literário, porque se foi para outras plagas e culturas, vivendo mais no eixo Paris- Londres- Nova York, completando com incoerência, que sua maior tristeza é que 60% dos jovens na América Latina sonham em deixá-la.
Uma dúvida pareceu-me pairar. Afinal, ele se referia a que? À falta de nacionalismo? A inexistência de raízes e amor ao torrão natal, ou a síndrome de vergonha assumida por ser mais pobre, subdesenvolvido e ainda apenas país emergente (termo idiota), como dizem agora, para país pobre metido a besta?
O escritor me pareceu um pouco cruel com todos nós, ainda que, um dos melhores livros que já li, seja dele, “A Guerra do Fim do Mundo”, que retrata o episódio bem brasileiro da saga Canudos. Diz agora, que o escreveu prestando homenagem a Euclides da Cunha, pela narrativa no “Sertões”. Intenção liquidada ao dar a seu livro, interesse de leitura, brilho e paixão, ficou claro que Euclides foi um chatíssimo e confuso escriba, até como narrador.
De outra parte do mundo, e-mail de Rachel, diferente, me anima e acalma qualquer tristeza com outra realidade talvez discutível, por isso, apenas transcrevo:
“–Meu Pai, acho que no que dependeu da África e da sua gente sofrida, entendo agora, nesta viagem a Moçambique e África do Sul, que este nosso país tem mesmo que ser cordial, alegre e pujante e com tudo isto assumir que já deu certo e trabalhar.
A cor da vida aqui, é pura e límpida, exatamente como as mulheres e os homens que vejo na rua.
A feliz satisfação, fica por conta das vestes alegres, harmônicas e cheias de orgulho ostentadas por um povo que só tem a si mesmo e sua história.
Aproveitando um tiquitinho do que você escreveu, acho que o que nos falta, já que não temos a pureza da cor, é a história, quem sabe misturada, tal quais as vestes africanas cheias de brilho, de cores, de imagens e de vida.
Precisamos é de história contada e repassada, daqueles que lutaram com firmeza tão veemente embora sem reconhecimento, para esta nação existir e se fazer respeitar, mesmo, às vezes, com os nossos desencantos, descréditos e falta de coragem para brigar.
E por falar em coragem, agradeço a Deus ter me dado um pai, que me ensinou a ser um pouco corajosa, um pouco só, mas o suficiente para me fazer encontrar nesta África distante, em Maputo, capital de Moçambique, colonização portuguesa como a nossa, uma Vice- Ministra da Agricultura, em suas vestes reluzentes e imponentes, de aperto de mão sofrido e forte, de quem já foi para frente de batalha, empunhando armas, em guerrilhas verdadeiras. Não aquelas forjadas por discursos armados na hipocrisia de uma esquerda sem história, mas de sobrevivência, o que lhe da autoridade para pedido verdadeiro e honesto, de que para aqui, os brasileiros que agora se aventuram a vir, tragam a sua história concreta, de fato e de solução. Não de falácias e falsas esperanças, mas de responsabilidade de quem sabe responder exatamente sem pestanejar “porque demos tão certos por aí”.
Eu sei responder, não tudo, mas o porquê e como aprender, você me ensinou a ver. Sinto-me orgulhosa da coragem que me trouxe aqui”.
Beijos, sua filha, Rachel – Maputo 13/06/07
O notável é que para muitos, até na África, o Brasil é exemplo e dá certo, só “nois mesmo”…
José Altino
Jornalista diário, escritor, aviador, ex-fundador da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal, ex-membro do Conselho Superior de Minas.