O colega Eduardo Navarro atuou com exímia competência, tanto na Vara de Família, como na condução dos trabalhos na jurisdição eleitoral. Quando terminou sua designação, elogiei-lhe o desempenho na jurisdição comum e na eleitoral, pedindo ao presidente do Tribunal que levasse o expediente ao Pleno e, em seguida, que determinasse registro do louvor nos assentamentos funcionais do Juiz Substituto. Nada mais justo, pois a atuação daquele magistrado foi de imensa valia para entrega da prestação jurisdicional.
Reviver aquele momento em que estava na ativa muito me comoveu, sobretudo ao ver o valor que o colega deu à justa homenagem que lhe fiz, guardando durante esses dezesseis anos cópia do ofício e a ele, hoje, referindo-se com gratidão. Se o presidente da Corte deu ao encômio o destino que lhe pedi ou não, ignoro. O importante é o reconhecimento feito à excelência da judicatura do homenageado e o apreço que este último teve ao preservar a referência que lhe fora favorável. Para mim, é quanto basta.
O segundo episódio inicia com mensagem que recebemos de querida amiga maranhense pedindo que déssemos sugestões de como se poderia prestar ajuda a uma senhora da cidade de Redenção, interior do Pará. Essa cidadã, nossa conterrânea, mãe de três filhos, desempregada, está muito doente. Achava-se em situação da mais aguda penúria, quase em desespero. Minha mulher e eu tivemos a ideia de pedir intercessão do Ministério Público, essa valorosa instituição que, entre outras altas e nobres atribuições, se encarrega de assistir a vulneráveis e aos incapazes e desvalidos.
Minha sobrinha Daniela é Promotora de Justiça no Pará. A ela recorremos. Prontamente entrou em ligação com a colega do MP em Redenção, do que resultou que a situação foi equacionada e a cidadã foi satisfatoriamente atendida em tudo aquilo de que precisava.
O caso acima relatado é singelo, mas, sobretudo à mulher a beira do desespero, assume valor inestimável.
Jules Henri Poincaré (1854/1912), matemático, físico e filósofo francês, deixou-nos pérolas como esta que segue:- “Duvidar de tudo ou crer em tudo, são duas soluções igualmente cômodas que nos dispensam, ambas, de refletir.”
Casa-se aquela lição aos fatos que relatei. No primeiro exemplo, razão e fé trouxeram um jovem advogado baiano a enfrentar o desconhecido, preparando-se com devoção para corajosamente enfrentar um concurso público ferozmente disputado em uma terra para ele inteiramente estranha, logrando ser aprovado em primeiro lugar. E, persistindo no seu mister, hoje, Juiz Titular na entrância final, presta assessoria à Corregedoria Geral de Justiça do Amapá. Muito me orgulha ter sido um dos primeiros a reconhecer a competência do colega, disso deixando registro.
No segundo caso, uma conjunção de esforços permitiu à mulher quase em desespero chegar até um grupo de pessoas moradoras em vários Estados brasileiros, do que afinal resultou a chegada do socorro tão ardentemente buscado.
No enfrentamento à pandemia, reporto-me a uma lição sobre razão e fé que me foi transmitida por um padre guerrilheiro que atuou como missionário no Congo. O bravo sacerdote, falando do ato de fé, comparou-o à ação do combatente que se lança no espaço confiante de que o paraquedas irá abrir, embora desconheça como foi fabricado o artefato, mas firmemente confiando naquele que dobrou e embalou os panos do velame que, ao abrir, impede a queda livre, permitindo que o paraquedista chegue à terra em segurança.
A solução para o Brasil sair desse tenebroso primeiro lugar no mundo em números de mortes e de doentes pela Covid 19 está na vacinação, aliada à obediência às orientações dos sanitaristas. Isso me leva a indagar onde está o espírito de solidariedade dessa gente que insiste em se aglomerar em festas e bares sem usar máscaras, desprezando o isolamento necessário para tentar inibir a propagação da doença viral, expondo-se, a si e aos demais, a contrair o mal. Em nome de uma estúpida joie de vivre, ou são seres completamente irracionais, ou são dotados de uma fé cega e fanática que os leva a nutrir a esperança de que a Covid 19 pode atingir o próximo, porém ele mesmo, o folião, passará incólume.