Mozart.
Nada mais impossível…
É sutil, é puro ar,
esta música tão doce … Incrível
o delicado soar
do fraseado divinal, inconsútil,
do piano…
Chove bem de leve, em gotejar
diáfano.
A natureza queda em suspenso,
silente;
pára o vento; faz-se tenso
o ambiente;
é a pausa, é o silêncio magistral
dentre as notas escolhidas
do concerto. Em sucessão divinal,
são gotas caídas
da mais sublime genialidade.
Prender Mozart
nestes pobres versos… impossibilidade
absoluta:
é querer prender com as mãos o ar.
A batuta
conduz, segura, a performance
(romance?)
dos músicos a namorar seus instrumentos.
Pensamentos elevados da mais fina espiritualidade
diluem-se
ao ouvir intercambiantes de tonalidade,
a coda magnífica.
Ao fim, permanece a sensação beatífica
da música de Mozart.
Transporta-te, meu eu,
neste momento de enlevo,
e vai dizer que levo
ao gênio de Salzburgo
meu reverente louvor
e gratidão
pelo prazer intenso com que me expurgo
da rotina do cotidiano
para entregar-me a esse instante de puro deleite
com que ouço o piano.
Ouço Mozart sozinho.
Aceito, com agrado,
esta solidão benfazeja
e adoçada ao infinito
pela divinal sonoridade
que me afaga,
que me beija.