Suas flores preferidas, as amarelas, as rosas amarelas, embora cultivasse flores de todas as cores em seu jardim com aroma inesquecível da dama da noite. Procurava plantas exóticas, gosto pelo mistério.
E os pomares? Seu reino encantado com muito zelo e amor cuidado era acompanhado de uma máxima aprendida e com consciência aplicada e repetida: “Não importa que eu não vá comer do fruto desta árvore, importa plantar. Alguém comerá, talvez quando chegue aqui de uma longa viagem nas constantes mudanças que há na vida das gentes. Nas inúmeras mudanças, muitas vezes já comi dos frutos de árvores que outros plantaram, antes que em determinado lugar eu chegasse”.
Ela misturava sabores em quitutes que nunca mais vi. Era uma arte particular para agradar o paladar de quem estivesse ali. Armazenava merengues em latas verdes, enormes latas, no closet dos quitutes, ao lado de bolachas natalinas, para a chegada das netas. Com folhas de bananeira, depurava o forno na temperatura ideal para um pão de ló sem igual, receita original, e enviava para a bisneta. Ah, mas os meus preferidos eram os rosquetes. Já procurei, mas não os encontros em lugar algum, apenas simulacros sem gosto nenhum.
E, embora muitas vezes participasse do ato de fazer as especiarias natalinas, era adolescente, já vai tempo, milênios na roda das horas, não anotei as receitas. Na minha mente e coração mãe é eterna, descuidei-me, esqueci-me que a eternidade não é aqui.
Ela amava a verdade. Recebi esse estigma abençoado. Nada a incomodava tanto como uma mentira em qualquer canto. Talvez esse seja um traço das almas curiosas e sedentas de saber. Vasculhava a história e a geografia de todos os continentes; no entanto, foi ao Brasil de Norte a Sul e Leste a Oeste que quis conhecer e se emocionar com as paisagens avistadas e os caminhos desbravados.
Nem santa, nem pecadora. Uma mulher, humana senhora. A minha mãe abençoada. Gratidão não deve ser debulhar de lágrimas, mas de algumas lágrimas emocionadas, e a eternidade nas lembranças perfumadas de dezembros.