Lembro lembranças de alguém a cantar nas tardes anoitecidas ou nas manhãs recém-nascidas com o olhar no além perdido ou ao encontro de um sonho jamais esquecido: “Nesta rua, nesta rua, tem um bosque…”.
Quem será este alguém? Serei eu? Serás tu? Seremos nós na estrada percorrida por nossos avós, bisavós, tataravós?
Impossível não viajar com esta música que embalou gerações e que nos coloca no colo, transporta aos acalantos da infância, enquanto desenha círculos concêntricos em piruetas de devaneios românticos e/ou visionários esculpindo um ideário no universo do imaginário de amores verdadeiros, beijos roubados, abraços consentidos ou o enlace e a despedida no cais da vida.
E a minha, a tua, as nossas ruas? As ruas por onde andamos, as ruas que nos conduzem no destino diário de nossas noites, bem ou mal dormidas, como nós as ladrilhamos no decorrer dos dias percorridos?
A realidade da rua de nossa gente, na década vigente (2023), é crua, nua, sem pudor algum, ela nos expulsa do canto que encanta. Bosques encontro, mas não habitados por anjos e sim por saqueadores do valor humano no arcabouço da construção de uma cidadela onde a desigualdade e exploração são os conceitos determinante e o único valor é o da moeda dominante – e a dor se estampa em tantos semblantes ignorados e ou esquecidos pelas ruas em desatino.
Ah, se esta rua, se esta rua fosse minha… Eu mandava, eu mandava cobrir com as flores da solidariedade, iluminar com as arandelas das alegrias espalhadas pelos olhares de amores contaminantes. Amores de todas as cores, tendências e procedências. Amor de mães, de filhos, de pais e de amigos. Amor de amantes enternecidos… Amores novos e antigos.