Ivana David, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e vice-presidente da Comissão de Segurança da Corte, nunca acreditou na suposta aliança entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), disse em entrevista ao Metrópoles. Segundo ela, a conciliação entre os grupos era apenas uma estratégia elaborada pelos advogados das lideranças.
“Ao meu sentir, isso foi uma gestão entre advogados das duas organizações criminosas, tentando vender uma versão de que as duas maiores organizações criminosas do país estavam unidas para lutar contra a opressão do sistema prisional”, afirmou a desembargadora.
A estratégia seria atacar o Sistema Penitenciário Federal (SPF), com o objetivo de transferir as lideranças das facções para presídios estaduais.
“Obviamente o caminho é errado, porque é lei. Tanto os juízes federais quanto os juízes estaduais cumprem requisitos de portarias, de lei especial, no que tange a isso. Passados três meses, é claro que aquilo não daria certo”, destacou. Para Ivana, a trégua “até que durou muito”.
Salves das facções
O fim da breve aliança recente entre PCC e CV foi comunicada aos membros das facções por meio de “salves” encaminhados pelas lideranças em diversos estados do país. Muitas das mensagens passaram a circular nas redes sociais.
À reportagem Ivana falou que dois estados chamaram a sua atenção: Santa Catarina e Amazonas. No primeiro, o CV falou em “guerra”. No segundo, a facção carioca convidou integrantes do PCC para mudar de lado, “rasgando a camisa”.
Para a desembargadora, isso mostra um Comando Vermelho “muito audacioso”.
Trégua entre PCC e CV
- PCC e CV firmaram uma trégua em fevereiro deste ano, conforme revelado pelo Metrópoles.
- O acordo teria sido costurado desde 2024, após anos de uma guerra violenta que resultou em centenas de mortes dentro e fora dos presídios.
- Elas teriam unido forças para pressionar o governo a flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF), em que seus principais líderes estão encarcerados, sob rígidas restrições.
- Apenas dois meses depois, no entanto, a aliança chegou ao fim. “Salves” divulgados pelas facções orientam seus membros a encerrar a trégua.
- “O PCC é nosso inimigo declarado. A guerra é sem fim, até a última gota de sangue. Não queremos ideia nenhuma com essa organização”, diz um comunicado divulgado pelo CV.
- “Assim como chegamos a um consenso na aliança, o término ocorreu com respeito e humildade por ambas as partes, reconhecendo os pontos cruciais que envolvem todos os lados”, diz um “salve” do PCC.
- O Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou a autenticidade dos comunicados e apontou que eles estão sendo difundidos em diversos estados.
- As facções, que já tiveram relações amistosas no passado, romperam em 2016, por conta de uma disputa territorial pela fronteira do Paraguai.
Fonte: Metrópoles