Naquelas noites, nas quais você se sente pra baixo, sem vontade de fazer nada, mas querendo fazer tudo ao mesmo tempo, onde tudo te chateia e é esse tudo que te acompanha. Você olha para os livros, e lá eles ficam; tu ligas a televisão, e nada está legal; pegas o celular, e os amigos do “Whatsapp”, Instagram, ou de qualquer outra rede social que não os atendem ou não parecem importantes.
Então, você pensa: “A vida é uma droga! Que dia péssimo!”
Eu, como qualquer outro ser humano, estava nessa “viver” (como dizem os manos da atualidade). Só que eu busco recursos de todos os lados para ver uma ponta do brilho do sol para me fazer sorrir.
Fui à minha discografia do “Spotify” e vi umas músicas dos Paralamas do Sucesso e Titãs, um álbum ao vivo que eles gravaram juntos que, por sinal, é muito bom.
E logo de cara, ouvi a música “Diversão”, uma canção que me trouxe uma reflexão imensa, pois a primeira frase da letra da música é: “A vida até parece uma festa”. Logo pensei uma festa qualquer que eu já tivesse participado. Realmente a vida é assim mesmo. Ali, pessoas tentam colocar a melhor roupa, tentam se produzir da melhor forma (não para elas, mas para os outros), pois o que vale são os “likes”. Encontram seus “amigos” sinceros ou não. E todos tentando se divertir de forma a esquecer os problemas. Entre um copo de cerveja ou destilados e outros, uma chegada naquela pessoa que acabou de conhecer, um bate papo mais acalorado com aquele ou aquela que se quer atravessar a noite, ou fica somente no “birinight” como num bom neologismo noturno.
Naquele local, a única entrada proibida fica para “Os problemas”. Ele jamais deve entrar lá, ele é o antagonista da festa, ele é a razão pela qual muitos estão ali, ele é a “persona no grata” de qualquer cotidiano, o qual se quer esquecer a todo custo.
E no decorrer da canção, percebi que o autor da letra acha também que tudo não passa de uma ilusão, pois o uso de álcool e outras substâncias podem mascarar a realidade e depois te trazer angústia e decepção. Então pensei: “isso depende da forma que você vai para uma festa, como também depende da festa. Mas na maioria dos casos, a vida até parece uma festa.”
E é isso mesmo, pois um dia fui a uma festa de criança, lógico que quando se vai a esse tipo de festa, é normal você pensar que a inocência é a única coisa que não ficará do lado de fora, como também os problemas, pois para muitos pais, a festa já é um grande problema que não será esquecido, visto que ela é o problema.
Porém, eu estava enganado, perdi todo o conceito de inocência. Era uma festa de 5 anos de gêmeas, lindas, filhas de um casal de amigos.
Assim que chegamos a festa, eu e minha esposa, percebemos que muitas mulheres estavam exuberantemente bem-vestidas, mas algo meio inadequado para o horário, porém, em uma competição social, não há horário para sair-se vencedora, pois essas competições são coisas de mulheres.
Nem precisei esperar muito, perto da mesa de doces, ou vi algumas meninas, com os seus 5 ou 6anos, falarem uma para outra.
— O que vocês acharam do meu vestido? Gostaram?
— É lindo. Respondeu uma garotinha loirinha.
— Onde você comprou?
— Ah, não importa. O que importa é que está bonito e melhor do que a da fulana de tal.
— Obrigada, amiga.
Mas assim que mocinha do vestido lindo saiu, a amiga falou para a outra menina que ficou com ela.
— É bonito, mas não melhor que o meu. Minha mãe disse que o meu vestido seria o mais bonito da festa.
E assim decorreu a festa mais bonita do que a da colega “X” ou da colega “Y”.
Mas essa competição é generalizada e não é algo só para o grupo feminino.
Alguns mocinhos estavam comparando os seus tênis Nike e Adidas, pois um usavam os do Messi e outros do Cristiano Ronaldo. Era fácil de ouvir: “O meu é mais atual do que o teu”, “o meu é mais bonito, o Messi ganhou oito bolas de ouro e o CR7 apenas cinco”, “tu não podes dar opinião que nem bola tu jogas”.
Sem dizer que um estava aprendendo inglês, pois ia para a Disney, enquanto o outro não. Então a vida não parece só uma festa, a vida é pura competição dentro, também, das festas.
Mas também percebi que essa festa é a tradução da alegria, pois um amigo, naquele dia, iria ser pai, era o nascimento do seu primogênito e eu como bom amigo, fui convidado a visitar o “rebento” do grande amigo, e fui.
O menino nasceu às 8 h, e eu fui na visita das 17 h.
Entrei no apartamento do hospital, e lá estava a bela criança já toda encapada, igual a bebedouro novo, mas bem acomodada. Eu fui a sexta pessoa a entrar no apartamento.
— Ah, que coisa mais linda do mundo. A criança mais bonita desse país — dizia a sua avó, toda feliz.
Bem, só pelas palavras, imaginei que ela já tinha visto todas as crianças do mundo, as quais possibilitaram a ela dizer que o seu neto era o mais lindo de todos. Mas vi que não, pois logo ela disse que era só do Brasil. Então ela não conhecia as do mundo todo, presumi eu.
— Meu amigo, o meu filho não é lindo? Não é a minha cara? Pergunto o pai do bibelô.
— De fato, ele é uma criança valorizada.
Eles não entenderam a ironia, pois logo a mãe disse.
— Além de ser a única criança que não nasceu com a cara de joelho, pois é a minha cara, por isso ele é lindo, ele tem grande valor.
— Negativo, ele é a cara do pai. Replicou a avó, como já imaginava a sogra.
A vida é tão competitiva que até há sogras melhores e sogras piores.
Eu olhei àquela criança e lhe disse:
— Não se assuste meu nobre, logo tu vais entrar nesse balaio de competitividade.
O pobre do rebento não tinha nem um dia de vida e já estava aprendendo a dura realidade da vida. De qualquer forma, ele tinha de ser o mais bonito.
Contudo, ele não sabe que quando ele completar um ano de vida, vai haver uma festa, a qual haverá uma competitividade entre os convidados.
Especialmente quando forem partir e oferecer o primeiro pedaço do bolo, assim como aconteceu nos cinco anos das gêmeas. Muitos ficam esperando ser a pessoa que vai receber o primeiro pedaço do bolo, o grande prêmio pelos seus grandes feitos, pela sua grande importância na vida daquele ser. E quando não é, acabou. “Não fui reconhecida, não farei mais tanto. Que injustiça! Estou decepcionada”. Mas não se deve esquecer que: ninguém não nos decepciona, mas sim a expectativa que eu criei sobre aquela pessoa.
A competição é um grande problema e faz parte da vida, a qual “parece uma festa” e está presente nas festas, mas não deveria, pois é um problema, e os problemas deveriam ficar de fora das festas.
Eu fico com o Nando Reis: A vida é viver, e viver é uma arte, um ofício, mas que precisa de cuidado.
Não somos melhores e nem piores, apenas somos diferentes, e cada um com a sua importância. A Rosa só é bela, cheirosa e viva, por conta de sua raiz, a qual ninguém vê.
A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA
