O futebol brasileiro vive um novo ciclo de afirmação internacional. Com Flamengo, Fluminense, Botafogo e Palmeiras protagonizando campanhas marcantes em competições globais e enfrentando gigantes europeus com altivez, o Brasil volta a ocupar com dignidade e brilho o centro do palco futebolístico mundial. Já não somos apenas celeiro de talentos exportados na adolescência nem protagonistas de glórias passadas guardadas em VHS. O que se vê é uma geração de clubes organizados, jogadores maduros e técnicos com proposta de jogo, impondo respeito e revivendo o espírito da “pátria de chuteiras”, expressão consagrada por Nelson Rodrigues, o mais ufanista dos cronistas esportivos. De repente, como num gol improvável aos 45 minutos do segundo tempo, o Brasil reencontra a confiança de sua camisa amarela — ainda que vestida com escudos diferentes — e volta a fazer o mundo temer seu futebol.
A retomada desse protagonismo tem fundamentos além da paixão e da mística. É resultado de um novo ciclo de profissionalização no futebol nacional: categorias de base reformuladas, estruturas físicas de padrão europeu, e um mercado interno que passou a reter talentos, com reforços de peso retornando ao país. A política de SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) introduziu uma nova lógica de gestão e investimentos, permitindo que clubes tradicionais como o Botafogo voltassem a sonhar em grande escala. Felipe Luís, Abel Ferreira, Renato Gaúcho, Renato Paiva e outros nomes simbolizam a pluralidade de estilos e ideias, que misturam disciplina tática, criatividade e ousadia. Como disse Guardiola, ao comentar sobre o futebol sul-americano: “o Brasil sempre terá algo que ninguém pode ensinar: o talento como identidade”.
Mais do que tática ou técnica, o futebol brasileiro está reencontrando a sua alma. Um jogo que se dança, que se improvisa, que reluz como o gingado de Garrincha e a leveza de Sócrates. Os clubes que hoje nos representam no mundo não jogam apenas por resultados, mas por uma afirmação simbólica: a de que o futebol brasileiro não é uma nota de rodapé do passado, mas um capítulo em construção. Como ensinou o filósofo italiano Umberto Eco, “o futebol é a única religião sem ateus” — e o Brasil, por sua vez, é seu altar mais vivo. Em campo, nossos clubes resgatam a alegria do torcedor, a dignidade da camisa e a certeza de que ainda há beleza no nosso jeito de jogar.
Abandonamos, pelo menos por ora, a síndrome de vira-lata que por décadas nos fez acreditar que o auge havia passado. Voltamos a bater no peito com orgulho, não por arrogância, mas por justiça histórica. O mundo nos vê novamente com olhos de respeito e, mais importante, voltamos a nos enxergar com confiança. O futebol brasileiro se reconcilia com seu destino — não como relíquia romântica do passado, mas como potência viva, pulsante e moderna. A redenção está em curso, e como dizia João Saldanha, “o Brasil não precisa se adaptar ao futebol do mundo; o mundo é que deveria entender o futebol do Brasil”. Amém.
A Redenção do Futebol Brasileiro
