Em 1925, aconteceu a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas em Paris, que apresentava as ideias do que mais tarde, por causa desse evento, receberia o nome de Art Déco.
O famoso estilo é abrangente e dominou o design, a arquitetura e as artes no início do século XX, tendo maior relevância nos anos 20 e 30 e se destacando por sua modernidade, elegância simplificada e luxo.
Esse período foi marcado por um senso de glamour e otimismo em relação ao futuro, especialmente ao se consolidar depois da Primeira Guerra Mundial. Pensado para a vida urbana e para suprir as demandas da modernidade, buscava unir essa elegância com funcionalidade. O art déco é caracterizado por formas geométricas, linhas retas e simetria, com mistura de materiais como mármore, vidro, metal, espelho e madeira.
Na arquitetura, por exemplo, o estilo é marcado por fachadas com relevos decorativos, portões metálicos com padrões geométricos e interiores luxuosos com essa variedade de materiais que falei anteriormente. No design, vemos móveis e objetos decorativos com detalhes metálicos. Nas artes e na moda, o art déco aparece em jóias geométricas, ilustrações estilizadas e roupas que refletem um espírito moderno e urbano e, claro, que pensam nos grandes bailes da elite. É um estilo visualmente marcante que se desdobra especialmente nesse período entre guerras.
No início do século XX, com o aumento dos processos industriais, os estilos passaram a ser simplificados, pensando mais na função do que na forma. Gombrich diz que “o funcionalismo se baseia realmente numa supersimplificação”.
No pós-guerra, a ideia era simplificar ainda mais a forma dos objetos e da arquitetura em geral, para baratear os custos da produção. Hoje, a gente vive um pouco disso ainda, apesar da escassez não ser o maior problema: temos questões de segurança que precisamos contornar e baratear a imagem, muitas vezes, está associado a esse conforto. É a nova modernidade, por um novo prisma.
Lana Del Rey tem uma música chamada Art Déco, onde ela faz uma metáfora usando as características do estilo para descrever uma pessoa que se destaca na cena noturna, mas é distante. Quando ela diz “brilhando como metal, frio e instável” ela quer ilustrar a exuberância e a frieza dessa personagem. A música, apesar de não tratar daquela época, utiliza suas características estéticas e simbólicas para dar corpo à crítica sobre uma figura glamourosa, mas emocionalmente distante. Como se ela quisesse dizer que, por trás da fachada reluzente da vida noturna e do status, há solidão.
Vi um vídeo outro dia de uma moradora de Copacabana que relatava que escolheu o prédio onde ia morar, em partes, por causa da grade de rua do prédio, de metal preto e dourado. Ela conta que, recentemente, essa grade foi retirada e uma de alumínio genérico foi colocada no lugar. Ao fim do vídeo, ela ainda mostra alguns prédios da vizinhança que continuam com os portões, grades e portais originais do século XX, com detalhes para além da função, muitos no estilo art déco.
A partir de determinado momento na história, deixamos de querer coisas bonitas e passamos a querer coisas funcionais, apenas. Passamos a simplificar muito as formas, a homogeneizar tudo porque os processos se tornam todos industriais.
O bairro tem portas lindas, em diversos prédios pouco conservados num lugar que foi perdendo o glamour com o passar dos anos. Alguns, nesse tempo, perderam as grades e portas originais para que o prédio ganhasse uma nova fachada, mais “moderna”, ficando sem a identidade tão marcante da era de ouro desse lugar tão visitado até hoje.
Copacabana, entre os anos de 1920 e 1950, viveu seu período de maior relevância dentro do cenário carioca, sendo a praia mais frequentada e o ponto de encontro entre o Brasil e o mundo, por causa do seu glorioso Copacabana Palace, que foi inaugurado em 1923, tornando-se responsável por acelerar a modernização e a ocupação do bairro, que estimulou a sua verticalização. O hotel era palco de grandes eventos e bailes para a elite mundial.
O Copa, como os cariocas chamam, é um hotel majestoso que mora de frente para o calçadão de pedras portuguesas e do mar mais frequentado por banhistas, é uma jóia art déco, apesar do seu interior misturar influências diversas que o tornam eclético.
Fico pensando: ninguém derrubaria o imenso e famoso hotel, que já foi vendido para o grupo LVMH, da Louis Vuitton, para construir um novo com arquitetura mais moderna e menos “datada” como o prédio original. Também não derrubariam uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Cristo Redentor, principal cartão postal da cidade e que é a maior estátua do mundo do estilo art déco, para modernizar a paisagem do Rio de Janeiro.
Por que, então, derrubam os portões, as portas, os portais e as grades art déco dos prédios? Até que ponto a modernização é bem vinda? Quais são os limites éticos que podem ser tomados para que exista uma modernização, até por questões de segurança que temos hoje na contemporaneidade, mas que preserve a história? Será que, em nome da segurança e da praticidade, devemos abrir mão de tudo o que carrega a memória de uma época?
Gombrich diz que, “ao eliminarem todos os ornamentos, os arquitetos modernos romperam, de fato, com a tradição de muitos séculos”. Aqui, não cortaram só custos e introduziram uma nova estética, mas nos reduziram a viver no prático, no seguro, em prejuízo do belo e agradável aos olhos e aos sentidos.
O ideal da modernização é sempre caminhar com a memória, andar ao lado da preservação da história, porque modernizar sem honrar o que havia ali é apagar esse período onde Copacabana brilhava.
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Nas grades da modernidade
