A França enfrenta uma onda incomum de proliferação de águas-vivas e physalias, também conhecidas como caravelas-portuguesas, na costa atlântica do país. A invasão desses organismos marinhos, registrada desde o final de julho, tem provocado o fechamento temporário de praias no sudoeste francês e, nesta segunda-feira (11/8), paralisa a maior usina nuclear da Europa Ocidental, localizada no norte da França.
Quatro unidades da usina nuclear francesa de Gravelines foram automaticamente desligadas na noite de domingo (10/8) para segunda-feira (11/8), após uma invasão inesperada de águas-vivas nas estações de bombeamento de água do circuito de resfriamento dos reatores. A operadora francesa EDF informou que os desligamentos não comprometeram a segurança das instalações, dos funcionários ou do meio ambiente.
A usina, que possui seis reatores de 900 megawatts cada, está temporariamente fora de operação, já que as duas unidades restantes estão em manutenção. A EDF mobilizou equipes para realizar diagnósticos e intervenções, com o objetivo de retomar a produção de energia com segurança, o mais rápido possível.
Localizada no litoral do mar do Norte, Gravelines é a maior usina nuclear da França e da Europa Ocidental em número de reatores e capacidade de produção.
Praias interditadas no sudoeste francês em pleno verão
No litoral do sudoeste do país, especialmente nas praias de Biarritz e Anglet, a presença das caravelas-portuguesas tem levado as autoridades a proibir temporariamente o banho de mar. As physalias, frequentemente confundidas com águas-vivas, possuem um corpo colorido, semelhante a um balão inflado de cor azulada, e tentáculos que podem ultrapassar dez metros.
Mesmo após encalharem na areia, as caravelas continuam perigosas por dias. O ferimento causado por seus tentáculos se assemelha a grandes chicotadas. Em contato com a pele, eles injetam secreções neurotóxicas que provocam queimaduras, dor intensa, coceira e inchaço. Normalmente, os sintomas desaparecem em cerca de duas horas.
No entanto, o contato pode levar a complicações. Em casos graves, os sintomas incluem náuseas, dificuldades respiratórias e até risco cardíaco. Desde o final de julho, ao menos cinco pessoas precisaram ser internadas.
O Hospital Universitário de Bordeaux, na região sudoeste da França, recomenda não esfregar a área afetada e seguir um protocolo específico. O ferimento deve ser lavado com água do mar antes da aplicação de espuma de barbear e da remoção dos resíduos com uma espátula de madeira ou cartão rígido.
Causas e medidas preventivas
A chegada desses invertebrados marinhos, originários do Caribe e do Golfo do México, às praias da França e da Espanha está relacionada a ventos fortes e correntes oceânicas, que os empurram do mar aberto para a costa. O aquecimento da superfície do Atlântico pode estar contribuindo para sua presença cada vez mais frequente, embora especialistas alertem que ainda é cedo para estabelecer uma relação direta com as mudanças climáticas.
As autoridades locais intensificaram os protocolos de segurança. Sempre que há mais de cinco pessoas feridas ao mesmo tempo, bandeiras vermelhas são hasteadas e a praia é fechada temporariamente. Desde 24 de julho, a medida já foi adotada pelo menos quatro vezes.
Além disso, avisos de alerta foram instalados em algumas cidades. O objetivo é proteger os turistas ao longo dos 720 quilômetros de praias da região durante o verão no Hemisfério Norte.
Apesar de sua aparência fascinante – uma bolha azul flutuando na água – a caravela-portuguesa continua sendo um desafio para a ciência. Sem antídoto conhecido para seu veneno, a única forma de evitar acidentes é a prevenção. A recomendação é clara: se avistar uma dessas criaturas, admire, mas mantenha distância.
Fonte: Metrópoles