Vivemos em uma cultura que valoriza a imagem de invulnerabilidade. Muitos se esforçam para mostrar apenas força, conquistas e certezas, ocultando as lutas e as fragilidades. Criamos uma persona para os outros, acreditando que seremos amados e respeitados apenas quando pareceremos impecáveis. Mas essa fachada cobra um preço: isolamento, solidão e a perda de conexões genuínas.
Brené Brown, pesquisadora que se tornou uma referência mundial sobre o tema, afirma que a vergonha se alimenta do silêncio e da ocultação. A vergonha sussurra: “Se as pessoas souberem quem você realmente é, não o considerarão digno de amor.” A vulnerabilidade, por outro lado, tem outra voz: “Sou imperfeito, mas ainda assim digno de amor e pertencimento.”
A vergonha é mais do que um sentimento de culpa pelo que fizemos. É a crença de que somos indignos por quem somos. Foi o que aconteceu com Adão e Eva, que, depois de pecarem, cobriram-se com folhas de figueira e se esconderam de Deus. A primeira resposta da vergonha foi o afastamento e a tentativa de disfarce. Onde a vergonha governa, a autenticidade morre.
A vulnerabilidade, ao contrário, não é fraqueza. É coragem. É o ato de admitir limites, de dizer que não temos todas as respostas, de pedir ajuda quando necessário. É reconhecer que dependemos de Deus e também precisamos uns dos outros. O apóstolo Paulo declarou: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12:10). Pedro, ao negar Jesus, chorou amargamente, e sua vulnerabilidade abriu o caminho para a restauração.
Brené Brown diz que a vulnerabilidade é o berço da criatividade, da inovação e da mudança. Sem ela, ficamos presos na performance e na tentativa de controlar a imagem que os outros têm de nós. A cultura atual, especialmente nas redes sociais, reforça o mito da perfeição. Mostramos vitórias e conquistas, ocultamos falhas e fraquezas, e assim contribuímos para uma vergonha coletiva, porque todos comparam seus bastidores com a vitrine alheia.
O evangelho nos chama a andar na luz, a viver com honestidade diante de Deus e dos outros. Isso não significa expor tudo a todos, mas cultivar autenticidade nas relações que importam. A vulnerabilidade abre a porta da conexão verdadeira, porque nos permite ser vistos e acolhidos como somos. A comunidade de fé deve ser um lugar de graça, não um tribunal. Onde há espaço para admitir fraquezas, há espaço para cura e transformação.
Ser vulnerável não é sinal de fraqueza, mas de coragem. É trocar a armadura da performance pela leveza da graça. A vergonha nos isola. A vulnerabilidade nos conecta. Quando escolhemos viver de modo autêntico, abrimos espaço para que o amor de Deus e a graça de Cristo floresçam em nós e através de nós.