A idolatria sempre foi a tentativa humana de substituir Deus por algo que reflita o próprio ego. No passado, os homens moldavam ídolos de pedra; hoje moldam imagens de si mesmos.
O mandamento do Decálogo “não farás para ti imagem de escultura, não as adorarás, nem lhes prestarás culto”, no século XXI poderia ser parafraseado: não faças imagem de ti mesmo.
No espelho, na tela do celular, nas redes sociais, cada um busca ser visto, admirado e validado. Na vida digital, todos querem ser vistos, mas poucos querem ser conhecidos. O “like” virou a nova oferta de incenso.
Na sociedade pós-moderna, o homem se tornou um deus autocentrado e ensimesmado; o homo deus é aquele que acredita bastar-se a si mesmo e julgar seus próprios atos. C.S. Lewis já advertia que “o orgulho é o pecado que fez do diabo um diabo”. E como lembrou Tim Keller, “a idolatria não é apenas adorar falsos deuses; é adorar o eu, o sucesso, o status ou qualquer coisa que ocupe o lugar de Deus”.
Vivemos tempos em que a aparência substituiu a substância. Blaise Pascal escreveu que “a vaidade é tão profundamente enraizada no coração do homem, que até o mendigo se gaba de si mesmo”. O barulho das redes é o eco do vazio. Como diz o ditado: a carroça vazia faz mais ruído e quanto menos conteúdo, mais necessidade de exibição.
O narcisismo é a nova religião do espelho. “Narciso acha feio o que não é espelho”, disse o poeta, e essa é talvez a síntese do homem moderno: fascinado por sua própria imagem, incapaz de amar o que não reflete o seu rosto.
Mas, como lembrou A.W. Tozer, “a pessoa que vive para ser vista nunca verá a Deus”.
Enquanto o homem continuar a adorar sua própria imagem, continuará cego para a semelhança divina.
Narcisismo e o Culto à Imagem

