Andei falando, nos últimos artigos, sobre como o mundo pede calma. Estamos mais estressados, ansiosos e, muitas vezes, à beira de um burnout, frequentemente deprimidos e insatisfeitos com inúmeras coisas que não podemos controlar. Por isso, no fim, acredito que tudo ao nosso redor, em seus detalhes, pede um respiro. Estamos, na verdade, desesperados.
O jeito que nos deixamos moldar pelas redes sociais está fazendo com que a gente mude aspectos importantes da existência humana. Coisas que, há dez ou oito anos, não imaginaríamos estar vivendo… A impressão que tenho é a de que perdemos a mão, o controle não é mais nosso e, agora, quando já não tem volta, só nos resta tentar recuperar o que ainda temos da nossa sanidade mental.
As pessoas andam muito estressadas e ansiosas e apenas um minuto andando na rua, de alguma grande cidade, em horário de rush, já é o suficiente para provar isso: buzinas em todos os volumes, falatório e gritaria, luzes brancas, vermelhas, verdes e amarelas, motos enfileiradas fazendo bagunça nas ultrapassagens e desvios acelerados, motores roncando, crianças chorando, som de britadeira de obra misturado com a risada de alguém ao telefone e sirenes ao longe… Uma grande desordem que faz até quem não é de xingar soltar bons palavrões ao volante.
São muitos estímulos fora e dentro de casa. Na rua, aquela confusão e um celular notificando sobre tudo o que acontece na sua vida, mais um relógio que, além disso, monitora os seus passos, os seus batimentos cardíacos e quase todas as suas funções vitais… Em casa, além deste mesmo celular, uma televisão e um computador com atualizações do que acontece do lado de fora, na vida de outras pessoas.
É como se estivéssemos presos em um emaranhado de fios do qual é impossível sair. Ou, talvez, como se estivéssemos na teia de uma aranha que, depois de prender a gente, toma a decisão de nunca mais nos deixar sair.
Estamos mais cansados do que seria o normal da história humana. Ficamos, agora, exaustos por sobreviver ao excesso de estímulos do mundo de dentro e de fora. Me pergunto, no entanto, o que acontece depois disso, quando já fomos capturados por esse modelo insano de viver, que escolhemos inconscientemente, há anos atrás?
Há pouco tempo, para a minha geração, um convite para sair era sinônimo de animação e a ansiedade era para saber como se desenrolaria a noite, como seria o passeio, etc. Hoje, aceitar esses convites se torna cansativo porque não engloba apenas o ato de, literalmente, sair, mas pensar em um look inédito, fotografar para postar, aparecer nas mídias e na vida real, performar o momento para além do que se vive verdadeiramente.
Somos seres coletivos, isto é um fato conhecido por todos nós. Contudo, aos poucos, fomos trocando o real pelo virtual e socializar passou a fazer mais sentido nas telas. Ainda que os encontros aconteçam, o que mostramos sobre eles aos que não participaram, parece ser mais importante…
A gente só não leva em conta que não fomos feitos para sustentar uma vida com tantas tarefas em paralelo e ainda estar à par de todas as notificações que chegam, responder as 200 mensagens do WhatsApp, postar a vida no Instagram e no TikTok, lembrar de beber água e, ao mesmo tempo, manter uma boa conversa com quem senta com a gente na mesa do jantar. Fora as responsabilidades com trabalho, estudo, uma boa noite de sono, direção nesse trânsito caótico e fazer atividade física. É impossível, mesmo que nos dediquemos.
As conversas por trás das telas estão substituindo o cara a cara. Os jogos de computador já criam o nosso mascote, como um personagem “real” e, a cada dia que passa, torna-se mais e mais possível que compremos roupas de marcas do mundo físico para os personagens do mundo virtual.
Marcas como Louis Vuitton, Moncler, Balenciaga e Ralph Lauren fizeram parcerias com jogos famosos, como Fortnite e League of Legends. Elas entenderam que o universo dos jogos pode ser um caminho lucrativo para a moda, já que a possibilidade de colecionar itens de luxo, com design exclusivo, transforma a experiência do jogador em algo único, mais parecido com o que se vive aqui fora, onde a gente se expressa através da moda.
Na vida virtual, pisamos no acelerador e nunca mais paramos de acelerar? Na vida real, precisamos lembrar de mudar a marcha do carro porque o sinal abriu e nos distraímos, porque estávamos no celular…
Estamos, eu acredito, enjoando disso. Não da virtualização, mas de se debruçar e de se dedicar tanto à ela. Afinal, ela já foi feita, já existimos do lado de lá. O que precisamos agora é desacelerar, buscar hobbies e coisas que nos alegrem do lado de cá. Precisamos diminuir o tempo de tela e aumentar o tempo que se olha pela janela, sabe? Isso também vai ajudar a desestressar. Talvez pudéssemos existir menos nas telas, para simplesmente poder vivenciar mais as experiências reais da vida.
Tempo de olhar pela janela

