Há algum tempo, muitos amapaenses têm ouvido falar da COP-30, que está na iminência de acontecer em Belém do Pará. No entanto, por mais que seja um dos temas mais falados na mídia e pelo Governo do Estado, pouca gente sabe o que realmente significa, ou sabe dizer qual a importância e, concretamente, o que representa para o Amapá, para Amazônia e para o Brasil.
Fiz a prova disso, pois diariamente lido com muita gente, e decidi perguntar sobre a COP-30, fiquei intrigado, quando mais de 90% das pessoas com quem eu falava não sabiam dimensionar o que era o evento. E olha que eu lido com pessoas instruídas. Mas esse foi o percentual. – Como dizemos no Amapá, fiquei besta em saber!
Diante desse cenário, resolvi falar sobre o que é a COP-30, para que o cidadão comum, imerso a uma rotina exaustiva de trabalho, que pouco tem tempo de lhe dar com esses assuntos, possa entender e saber o que acontecerá em Belém, afinal, ele também está pagando por isso, considerando que foram empregados mais de R$ 5 bilhões de reais de recursos públicos.
Pois bem. Sendo redundante propositalmente, vamos começar pelo começo.
O que é a COP?
A COP — ou “Conferência das Partes” — é a reunião anual dos países que assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Esses países (quase todos os do mundo) se reúnem para discutir como lidar com a crise climática, especialmente sobre como reduzir emissões de gases de efeito estufa, como adaptar-se às mudanças já ocorrendo, como mobilizar financiamento e como cooperar internacionalmente.
A primeira dessas conferências, a COP-1, aconteceu em Berlim em 1995. Desde então, quase todos os anos ocorre uma nova edição, e à medida que os impactos da mudança do clima se tornam mais visíveis, essas conferências ganham maior atenção e, também, maior urgência.
O que exatamente se discute numa COP?
As negociações envolvem várias camadas, dentre elas estão: Metas de redução de emissões, que consiste na necessidades dos países declarar o que farão para cortar ou limitar seus gases de efeito estufa. No âmbito do Acordo de Paris, essas são chamadas de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Ainda, perpassa pela transparência e monitoramento, onde cada país demonstra o que está fazendo para dar cumprimento às metas, demonstrando por meio de relatórios que mostrem progresso ou lacunas. Discute-se também, o financiamento climático, ou seja, os recursos que subsidiarão os países em desenvolvimento para reduzir emissões de gases poluentes (mitigação), quanto para adaptarem-se às novas realidades (adaptação). Também há mecanismos para proteger florestas, para dar suporte a comunidades vulneráveis e para financiar tecnologias limpas. Ademais, soluções específicas, como florestas, uso da terra, agricultura, energia renovável, transporte, recuperação de ecossistemas, assentamentos humanos, são discussões sempre presente, acompanhado de justiça climática, direitos de povos indígenas, financiamento baseado em resultados, comércio de carbono, remoção de dióxido de carbono, entre outras.
Essas conferências são uma combinação de negociações técnicas (delegados de governo, especialistas, ONGs) e anúncios políticos bilaterais ou multilaterais que visam dar o tom da “ambição” global.
E o que é a COP-30?
A COP-30 será a 30ª edição desse encontro. Por ser realizada em 2025 no Brasil, assume um caráter especial, sobretudo porque o Brasil abriga parte da gigantesca região amazônica, um dos bens naturais mais relevantes para o equilíbrio climático global. Sediar o evento traz responsabilidade, visibilidade internacional e também a oportunidade de colocar temas de florestas tropicais, conservação, populações tradicionais, e desenvolvimento econômico sustentável no centro da agenda.
Para o Brasil, significa, mostrar liderança, atrair compromissos financeiros, articular agendas com países tropicais, negociar mecanismos de pagamento por serviços ambientais, e, idealmente, ampliar ações domésticas de combate ao desmatamento, à degradação florestal e à promoção de alternativas econômicas de baixo impacto.
Por que a COP-30 importa para a Amazônia e para o Amapá?
Para quem vive na Amazônia ou no Estado do Amapá, a COP-30 pode significar tanto uma oportunidade quanto um desafio. No aspecto das oportunidades atrai maior atenção internacional à região, principalmente, com o foco voltado para florestas tropicais, o que poderá resultar na captação de recursos para conservação, restauração, monitoramento e inovação sustentável. Também, apresenta novos modelos econômicos, voltados ao desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis ligadas à floresta, pagamentos por serviços ambientais, turismo de natureza, uso não-predatório dos recursos naturais. E, por fim, oportuniza no fortalecimento de políticas públicas e parcerias nacionais e internacionais que beneficiem o Amapá em termos de infraestrutura, capacitação técnica, participação de comunidades tradicionais.
Já no campo dos desafios, residem, uma maior pressão normativa e de imagem, pois como sede da COP, o Brasil estará sob o microscópio — isso significa que promessas e falhas ficam mais visíveis. Para estados amazônicos, isso pode se traduzir em exigências maiores, fiscalização ampliada e até restrições mais rígidas. Ainda entra em choque a ideia de desenvolvimento versus conservação, em que o exacerbamento de pautas puramente ambientalistas se imponha, de modo que, limitarão as oportunidades econômicas locais sem oferecer alternativas reais. É possível falarmos também no descompasso entre discurso e prática, quando os compromissos internacionais não se traduzem em ações concretas, fazendo com que quem vive na região acabe arcando com custo de fiscalizações, bloqueios ou expectativas frustradas, sem ver os benefícios.
Uma reflexão crítica sobre os países desenvolvidos e os compromissos
Aqui vale uma reflexão que não pode faltar, que consiste no fato de, apesar de bilhões de dólares prometidos em conferências climáticas, os resultados nem sempre seguem o ritmo ou a ambições publicadas. Países desenvolvidos (muitas vezes os maiores emissores históricos) assumem compromissos — alguns elevados em discursos — mas enfrentam atrasos, recuos ou falta de vinculação legal para cumprir. Esse fenômeno gera dois problemas principais. Primeiro, cria um déficit de confiança. Quando na COP alguém anuncia “investimentos massivos em clima”, mas meses depois poucos recursos chegam, o efeito prático se reduz. Isso compromete o sistema de cooperação internacional, pois dificulta que países em desenvolvimento planejem com base em expectativas confiáveis. Segundo, e aqui entra a crítica dura, isso gera uma potencial injustiça ambiental e de desenvolvimento, pois os países em desenvolvimento, especialmente aqueles com grandes florestas tropicais, como é o caso do Pará e Amapá, acabam assumindo parte do ônus da mitigação e conservação, mesmo quando a estrutura global não entrega o suporte necessário, ou seja, nós protegemos florestas, conservamos biodiversidade, regulamos uso da terra, mas não recebemos proporcionalmente os incentivos ou compensações adequadas. Pensemos na questão da Exploração de petróleo, tão importante e significativo, mas tão demonizado pela agenda climática.
Diante disto, a COP-30 tem um significado simbólico elevado. É uma chance de redirecionar esse desequilíbrio, mas também um alerta de que sem responsabilidade e consistência global, nós, amazônidas, podemos acabar sendo os que menos ganham com isso.
O que devemos ficar de olho e cobrar como cidadãos?
Para que a COP-30 funcione de fato, não somente como evento ou anúncio — e beneficie o Amapá, algumas “caixas de verificação” são fundamentais, começando com compromissos financeiros claros, consistentes em quem vai pagar, quanto, como será desembolsado, com que metas de resultado. Seguindo-se pela transparência desses recursos; passando pela inclusão das populações tradicionais; chegando na integração das metas com a economia regional; finalizando com a elaboração de mecanismos de monitoramento e avaliação de impacto, com intuito de verificar se, após a COP, os anúncios se traduziram em resultados concretos.
Concluindo, a COP-30 não é apenas mais uma conferência internacional para o Brasil e, particularmente, para a Amazônia e o Amapá, é uma encruzilhada entre visibilidade global e realidade local.
Se bem aproveitada, pode ser a porta de entrada para uma nova era, onde florestas tropicais são vistas não como obstáculos ao desenvolvimento, mas como ativos estratégicos para a economia, onde comunidades tradicionais participam ativamente da cadeia de valor, onde o Estado do Amapá capta investimentos para monitoramento, restauração e inovação sustentável. Mas, se for apenas palco de promessas e anúncios soltos, sem coerência e sem respaldo financeiro, podemos assistir à repetição de um padrão – grandes compromissos no papel, pouca implementação na prática — e quem vive na linha de frente (nós, amazônidas) fica com o ônus, e não com os benefícios.
Portanto, leigo ou especialista, cidadão ou empresário, quem vive ou atua na região precisa se preparar, conhecer seus direitos, suas oportunidades e seus riscos. A COP-30 é nossa chance de colocar a Amazônia e o Amapá no centro da agenda do futuro, mas depende de articulação, cobrança, compromisso e ação concreta.

