Ocorre evento sobre as mudanças climáticas na bela e imensa e Região Amazônica que, na simbologia cravada no nosso imaginário, nos remete a vastidões, muita água, terra e ar.
Dos quatro elementos da natureza, só faltava o fogo – que nos chegou por incêndio em área de evento da COP 30, em Belém, com vítimas, felizmente não fatais.
Como é que, num evento da Organização das Nações Unidas – ONU, realizado no Brasil, ocorre um incêndio de tais proporções e tão rapidamente, levando mais de 5 minutos para ser controlado e produzindo fumaça que ganhou os ares, carregando os gases resultantes do material queimado?
Por mais que se explique, o imaginário global está marcado pelo incêndio e pela imagem do fogo e da fumaça, que as palavras não serão capazes de apagar.
A propósito, como dizia o historiador Moniz Bandeira, citando Oswald Spengler, “não há ideais, mas somente fatos, nem verdade, mas somente fatos, não há razão nem honestidade, nem equidade, etc, mas somente fatos […] e palavras não mudam a realidade dos fatos”.
Quando se pensa em água, na Amazônia, logo vem à mente o grande Rio Amazonas. Mas não é somente ele que é imenso, como tudo ali, como comprovam os rios Tapajós, Negro, Juruá, Solimões, Purus e Madeira. Na região, além dos rios, há os igarapés e igapós, sendo os primeiros pequenos (para as dimensões amazônicas) braços de rio, navegáveis, cercados de floresta e vida, enquanto os igapós são trechos de floresta sazonalmente alagada e inundada, pelas cheias dos rios. Também não são somente os rios que carregam a imagem da água no Amazonas, pois, inegavelmente, a evapotranspiração deve ser considerada, sendo fenômeno regional responsável por enormes quantidades de água, formando-se pela evaporação e que se mistura com a transpiração das plantas. Há, ainda, as chuvas generosas e frequentes, que alimentam a vigorosa força da presença das águas… e os rios voadores, que carregam os vapores por nuvens que farão chover noutras áreas do país.
A terra na região é absolutamente gigantesca, afinal, estamos falando de cerca de 60% do território nacional, formado por 9 estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins e Roraima, além de partes do Maranhão e Mato Grosso. O imaginário pensa nas terras cobertas por florestas com altas árvores, mas a biodiversidade local é muito maior, pois a região possui floresta tropical e Cerrado e Pantanal, além de trechos com diversos tipos de formação vegetal.
O ar, além de puro, é úmido em grande parte da região, impulsionado pelas correntes de vento…
Só faltava o elemento fogo que, normalmente, na região, está associado às queimadas ilegais e criminosas. Contudo, também existe a coivara, técnica usualmente praticada por indígenas e outras comunidades, consistindo na queima controlada da vegetação, preparatória para o cultivo. A natureza também tem queimadas em seus ciclos, notadamente nos cerrados.
Mas, não precisávamos do elemento fogo na própria COP, inegavelmente produzido pelos seres humanos, criadores do cenário para o surgimento deste incêndio, já que o fogo não surgiu do nada ou de evento da natureza. Perícia haverá de apontar as causas e o modo e motivo desse rápido espalhar das chamas e fumaça.
Infelizmente, muito além de outros resultados, a COP 30 ficará marcada pelo incêndio. As imagens televisionadas para o mundo inteiro mostram como o fogo evoluiu rapidamente e a fumaça se fez, no interior do ambiente, extravasando para os céus.
Os jornais do mundo repercutiram o fato e o jornal espanhol El Pais, na matéria publicada hoje (20.11.2025), assinada por Manuel Planelles e intitulada Un incendio obliga a suspender y desalojar la cumbre del clima de Brasil, registra (em livre tradução) que “Na semana passada, a ONU enviou carta ao Governo brasileiro para cobrar um plano para melhorar a segurança e a infraestrutura da cúpula. A missiva, assinada por Simon Stiell, a principal autoridade das Nações Unidas no que se refere ao clima, foi enviada após um grupo de indígenas invadir à força a área reservada às negociações. A ONU criticou a fragilidade do cordão de segurança, as falhas do ar-condicionado e o alagamento dos pavilhões devido às chuvas”.
Se, como se diz, a propaganda é a alma do negócio, é certo que não precisaríamos do “marketing ruim” que o incêndio na COP 30 lega ao mundo, associando-nos ao fogo produzido por humanos e que arde e queima, agredindo a natureza, pois é o que fica no subjetivo, no pensamento não cognitivo e mais emocional das pessoas.
A mencionada Carta da ONU também deve ser levada em conta, com a advertência que continha, vaticinando que algo assim pudesse ocorrer.
É verdade que algo assim pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Mas, convenhamos, não consta tenha havido incêndio nas 29 edições anteriores da COP…
Nem podemos dizer que foi um aviso da natureza, pois, no evento, tudo o que se fez foi obra humana.
Isso tudo deve nos fazer refletir… sobre padrões de segurança, sobre padrão global para eventos internacionais, sobre custos e sobre imagem. Qual imagem?
AR, ÁGUA, TERRA E… FOGO NA COP.

