“Lá é um lugar
Que não é aqui
Porque é lá.”
Essas linhas integram livro, em breve a ser lançado.
O advérbio lá indica lugar distante da pessoa que fala.
Contudo, quando o referencial é o nosso país, todas as regiões que o compõe são aqui, são Brasil.
Tudo sob o Brasil é aqui.
É gente daqui, brasileiros: cerca de 28 milhões de pessoas.
É território daqui, brasileiro: cerca de 60% (ou 2/3) do país. Compreende Mato Grosso, Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
É o conjunto de riquezas, conhecido e explorado e desconhecido e inexplorado, daqui.
Sob esse ponto de vista, a Amazônia Legal é tão aqui quanto qualquer Estado da Federação ou a Capital Federal: Brasília.
Focando em cobiça internacional, é a última fronteira, rica. As zonas do território no Sudeste, Nordeste, Centro Oeste e Sul já estão reveladas, como exemplificam o imenso Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais e a mina de Urânio na Bahia – esta explorada pelas Indústrias Nucleares do Brasil.
Se, por absurda hipótese, perdêsse-mos a Amazônia Legal, o país ficaria apenas com 1/3 do território!
Dentre tantos aspectos, perderíamos muito da rica cultura e matrizes nacionais, como o Açaí e o Guaraná, dentre outros.
Ficaríamos sem 28 milhões de brasileiros, o ferro de Carajás, sem os 20% do Cerrado ali existente, sem as florestas e várias formas de vida e, muito importante, sem a imensa riqueza em água doce, pura.
Sob a calha do Rio Amazonas e da região é sabido que corre imenso fluxo de água subterrânea, pura, limpa.
Assim, seria quase como se tivéssemos dois imensos rios, um sob o outro.
Enquanto temos problemas com água doce e a sua falta em algumas regiões do Sudeste, ali a temos com fartura. Por isso, cobiçam as inesgotáveis fontes de água doce pura daquela imensa Região Amazônica – e não se cobiça as águas poluídas do Rio Paraíba do Sul ou do Tietê.
Não percebemos o tamanho do jogo e focamos em aspectos pouco divulgados e, diria, até valorizados por nosso povo. Parece que não compreendemos – ou não queremos perceber – o alcance de posturas que tem sido divulgadas, na imprensa e em vários cenários.
Não vemos críticas equivalentes às que se faz, quando queimam – naturalmente, pelo ciclo da vida – árvores na Califórnia (EUA) ou na Europa (França, Portugal, etc). Queimam lá (aí, sim), anualmente, como aqui. As árvores do Cerrado possuem forte casca, produzida pela sábia natureza, exatamente para proteção durante as queimadas anuais, que ocorrem, aqui, nas savanas africanas, na Califórnia e na Europa.
Por qual motivo a natureza teria dotado as árvores do Cerrado com aquela grossa casca? Isso não explicam… A propósito, cerca de 20% da Amazônia Legal é composta por vegetação de Cerrrado, além das áreas de transição. Região que, pela própria natureza, não é de florestas e está sujeita a esse ciclo anual.
Aliás, muito além disso, a Europa tem visto a destruição de árvores que integram florestas seculares, por necessitar de madeira, para a produção de carvão, diante da crise energética que atravessa.
Acima de tudo, pouco se divulga sobre os reflexos dessa cobiça. Apenas engana-se quem pensa que seja algo recente ou decorrente de pautas modernas.
Em idos de 1823 nascia nos EUA a Doutrina Monroe, que defendia a não intromissão europeia no continente americano e era contra o surgimento de novas colônias e a participação norte-americana em conflitos que envolvessem países da Europa. Na prática, a ideia tanto revela a defesa continental contra as potências colonizadoras europeias quanto a reserva das américas à sua hegemonia.
Como corolário e parecendo que todo o continente americano sujeitava-se àquela doutrina, Mathew Maury considerava imensas as riquezas ao longo do Amazonas no Século 19 e sugeriu que americanos colonizassem a região, de início trazendo parte da população liberta, após a Guerra Civil.
Falava-se também na formação de uma república amazônica e forçava-se a abertura da navegação nosso grande rio, medida então considerada tão importante quanto a ligação ferroviária entre as costas Leste e Oeste dos EUA.
Contudo, Dom Pedro II, o Imperador do Brasil, proibia tal pretensão. A solução governamental veio pela outorga, ao brasileiro Barão de Mauá, dos direitos de criação da Companhia de Navegação do Amazonas.
Por aqui, a Doutrina Monroe tinha a oposição de Rui Barbosa e do Embaixador Oliveira Lima – este considerava que significava a reserva do continente para futuros empreendimentos americanos.
Em idos de 1910, Percival Farquhar focou no Brasil e buscou o monopólio das minas de ferro brasileiras, passando depois a ter negócios do Amapá ao Sul do país, explorando madeira, borracha, minérios, frigoríficos e portos. A Fordlândia, surgida no período entre guerras, gozava por 50 anos de isenção de todos os impostos, presentes ou futuros. Ali se podia ter segurança própria, pesquisar minérios, fundar bancos e criar escolas – até sem a obrigação de se falar a língua portuguesa.
Missões religiosas estrangeiras também penetraram nas regiões das florestas, tanto na Amazônia brasileira quanto noutras sul-americanas. Louváveis iniciativas. Contudo, os americanos Gerard Colby e Charlotte Dennet, na magnífica obra intitulada Seja Feita a Vossa Vontade, registram que havia projetos com “uma inspiração menos espiritual: a invasão americana da Nicarágua” e outros onde missões “assumiram o papel de vanguarda para as empresas petrolíferas”.
Houve também a Teoria do Cerco sobre a Amazônia, cogitada nos minuciosos trabalhos da CPI da Venda de Terras a Estrangeiros, realizada no Congresso Nacional em 1967, que falava na aquisição de milhões de hectares, muitos fazendo um “laço” em torno e acima do Paralelo 14.
De outras paragens também chegam cobiçadores gestos direcionados à Amazônia, como noticiado pela imprensa, em falas de lideranças europeias, e de negócios de interesses dos chineses – em torno do Belt and Road (BRI), projeto geopolítico para as próximas décadas.
Há lugar para modelos de desenvolvimento sustentável e o país precisa de investimentos, nessa economia globalizada. Noutras palavras, desenvolvimento com responsabilidade, algo que o ser humano deixou de lado, no mundo, desde a Revolução Industrial.
Viramos consumidores e, no lugar do “Penso, logo existo”, de Descartes, vigora algo como o “Consumo, logo sou alguém”.
Hoje existem 195 países no mundo. Eram 69, no ano de 1939. Dividir, fraciona a força. Apesar de tantas mudanças no mundo, mantivemos a unidade do nosso imenso território e continuamos bem cuidando das nossas matas, florestas e rios, mormente quando se os compara à poluição intensa de tantas grandes áreas no mundo, inclusive por poluição nuclear e industrial.
A Amazônia é aqui e daqui. Assim é e deve ser.