Ao caminhar domingo para as urnas o eleitor, de regra, irá cabisbaixo, envergonhado e com medo justificável de revelar sua preferência de voto, concorrendo para a concretização da famosa “espiral do silêncio”, em linha com a teoria de comunicação de massa usada para descrever a formação da opinião pública. Segundo essa teoria o eleitor tende a escamotear sua preferência temendo isolamento social, dificultando, assim, a captação real de sua preferência fazendo com que os institutos de pesquisas cheguem a resultados contraditórios, subtraindo a confiança de seus trabalhos, com subnotificação de votos, ensina o cientista político Antônio Lavareda, presidente do IPESPE e com trânsito na Universidade Federal de Pernambuco.
Na verdade, essa eleição presidencial carrega em seu conteúdo sociológico um fato interessante, consubstanciado na disputa polarizada entre o vencedor da última eleição, Jair Messias Bolsonaro, e aquele que deixou de concorrer, embora favorito, Luiz Inácio Lula da Silva, por comprovadas manobras judiciais, cujos processos foram anulados por vícios processuais insanáveis, fortalecendo a tese de seu principal protagonista de que fora vítima de law fare. Assim, quatro anos depois, o duelo se realiza num cenário tosco onde, de um lado, figura o atual presidente, com seu comportamento bizarro e avesso à liturgia do cargo e valores democráticos e, de outro, o candidato Lula, carregando toda sorte de acusações por processos que foram declarados nulos pela Corte Suprema.
Nesse contexto, resta ao eleitor, no momento de sua confissão íntima com a urna, cara a cara com o privilégio das democracias, isto é, o exercício da soberania popular pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, fazer a melhor escolha para assegurar, como disse o saudoso Ulysses Guimarães, no preâmbulo da nossa Carta Política, o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias. É fácil, muito fácil, saber qual dos candidatos está comprometido com esses valores de índole constitucional e que almeja a pacificação social.