O Brasil derivado das Capitanias Hereditárias sempre tratou e trata a Amazônia como unidade patrimonial. Quando nos vinculam à Nação ou mesmo diretamente ao Estado Nacional costuma dizer esse velho e desbotado bordão: a Amazônia é do Brasil. Como o mesmo eixo dominial como nos referimos a uma chácara de fulano o carro de sicrano. Em verdade somos Brasil, com o mesmo idioma e compartilhamos de todas as paixões nacionais: Flamengo, Coríntias, café, samba e cerveja.
É bem verdade que a floresta cria, no homem sua marca. A sociedade Caboca se fez cultura quando foi adotada pela grande floresta e aprendeu a ser parte do “Rio Mar”. Nosso mundo social, nossa pobreza, nossas culturas e riquezas etnoambientais, são um corolário de que fomos adotados pela floresta revelando que em nossa região especial brasileira a floresta se fez gente e todos nos fizemos Amazônia.
O Brasil sempre buscou as riquezas da grande floresta, incentivou a sua ocupação socioeconômica sem nunca se preocupar com a dimensão dessa transmigração, as implicações negativas dessa antropia produzidas nas alcatifas de Brasília e suas anunciadas e consequentes tragédias socioambientais – ciclo da borracha, corridas do ouro, os grandes eixos rodoviários e a anabolização das questões e áreas patrimoniais indígenas, implantação não planejada de hidrelétricas e a internalização de problemas locais como Chico Mendes, Eldorado do Carajás, queimadas, Peter Blake, Irmã Dorothy Stang e muitas outras que são propagadas por maus brasileiros, que tratam nosso Brasil como protagonista do apocalipse ambiental amazônico.
Todo esse anunciado decálogo de tragédias amazônidas, segundo os ecólogos climaticídeos catastrofistas, anunciam nossas tragédias ambientais sempre ignorando nossas realidades sociais. Sob esse imenso continente verde e seu manto de biodiversidade vivem 25 milhões de brasileiros com um dos mais ricos acervos culturais nascidos das relações do rio/floresta com os filhos do Senhor da Vida.
Essa imemorial relação fez evoluir uma continuada passagem da natureza para cultura que tem marcado fortemente a relação da Amazonia com sua tri gênica sociedade marcando nessa eugenesia um perfeito equilíbrio entre homem, trabalho e natureza.
Esses estudos, pouco ou quase nada, se reportam aos graves problemas socioeconômicos de nossa Amazônia. Como nos dói, ver pelos estratos gregorianos da grande mídia, pessoas, políticos, jornalistas e até “estudiosos” lançarem bulas sentenciais sobre o controle e destino de nossos recursos ambientais (Governança Global), nossa soberania e, quase sempre, sem nunca esboçarem uma única preocupação com a nossa sociedade amazônida, ou ao menos nos inserir em seus pergaminhos acadêmicos e em suas análises quase sempre proféticas do apocalipse ambiental.
O Professor Armando Mendes, calou o plenário do Senado da República, quando lançou sua flexa da verdade e de nossas realidades: “Senhores Senadores, a Amazônia não é pura e simplesmente natura, é essencialmente cultura.” e perguntar-nos, se temos o direito de construirmos o nosso próprio futuro. Sob nossa Pangea Tropical de Natura (a floresta) existe um rico e belo mundo de cultura (a nossa gente).
Por que é tão difícil pro mundo acadêmico do Sul e Sudeste, e principalmente por que essas legiões de ONG´S, nos incluir-nos em seus estudos e debates! Para clarear a verdade dessa perfeita trilogia que marca a relação na Hileia de Humboldt, da floresta, sociedades e riquezas, basta lembrar que tudo que se debate sobre os mais de 80% de ecossistemas preservados, ocorrem porque nós, os seus ocupantes, a defendemos e a preservamos. Assim somos depois das sociedades imemoriais os sujeitos mais importantes e protagonistas de sua existência e preservação.
A nossa miséria local é uma tragédia produzida pela ausência quase criminosa
do Estado Nacional, pressionado pelo terrorismo econômico global, que
silenciosamente age sem ética e sem humanismo.
A sina de termos nascidos na Amazônia se tornou a peça principal dos autos de nossa sentença, condenando-nos, a uma vida miserável e agora criminalizada pelo julgo vexatório das grandes corporações econômicas de nos proibirem de sermos senhores de nossas riquezas e donos de nossos destinos. Vivemos num grande paradoxo onde estamos inscritos no domínio de incalculáveis riquezas, vivendo na mais profunda pobreza, contemplando a natureza.
Pouco, ou quase nada, foi destruído na Amazônia, pela gente daqui. Somos o endereço fixo, que os precatórios ambientais inquisitórios encontram para legitimar os culpados de uma tragédia, onde somos tão vítimas quanto à natureza. Os autores objetivos desses crimes, na sua maioria, vivem fora da Amazônia e, muitas vezes, são inimigos invisíveis.
Não podemos aceitar que os nossos recursos naturais, nossa importância positiva para o equilíbrio no sistema climático internacional seja compartilhada numa necessidade econômica sem se contrapor, através de uma ética global, uma responsabilidade social planetária que equalize a descompensada relação socioeconômica e ambiental entre países ricos e pobres.
Se a Rússia sozinha aquece a Europa Ocidental produzindo significativamente para o aquecimento planetário por que essas nações poluidoras e grandes protagonistas do aquecimento global, não nos ajudam a alcançarmos um patamar mínimo de bem-estar social, já que fazemos, na Amazônia, exatamente o contrário: combatemos com nossas florestas (quase 40% de todas capas verdes originárias removidas por esses estados nacionais da biosfera) promovendo a esses caucasianos um bem-estar e vida com conforto e riquezas.
Há vinte anos, a Amazônia Legal tinha pouco mais de dez milhões de habitantes. Naquela época, havia para cada dez habitantes 6 nas cidades e 4 no campo. Hoje, nossa região tem mais de 22 milhões de habitantes e a relação urbano-rural é de oito habitantes nas cidades para dois no campo. A Floresta está menos habitada e mais antropizada. Estradas e energia fortalecem a tecnificação do meio rural amazônico. As cidades amazônicas são a gêneses da agonia e do caos ambiental de nossa região. O nosso País precisa conhecer a Amazônia humana e, finalmente, nos reconhecer FLORESTA, TERRA E GENTE.
Até a incorporação pela Rússia, de parte da Ucrânia, o Brasil e a grande mídia só tinham olhos para desmatamento, mercúrio e garimpos da Amazônia. Agora o Maniqueísmo disfarçado de uma FAKE “Guerra Fria” entre Baden x Putin, marcam um dualismo hipócrita e vazio, que emoldura uma nova modalidade de Guerra Planetária, não mais marcada por armas que matam pessoas, mas por atos das megacorporações econômicas que num segundo apenas, empobrecem Nações…e, pela fome, produz o extermínio de dezenas de milhões de humanos.
O mercado financeiro já é o Grande Armagedon dessa guerra. A Inflação virá como a força e destruição de um Tsunami. A Guerra da Ucrânia revelou a nudez e hipocrisia dos discursos de conter o aquecimento Global, pois para combater o frio e produzir conforto aos europeus vale tudo: do uso do poluidor carvão mineral às perigosas usinas núcleo-elétrica. Tudo isso fica regado a um banquete de lucros para a Noruega que é, hoje, um dos grandes produtor e fornecedor de Petróleo para a Europa Ocidental. E, ainda, querem dar lição a nós brasileiros.
Não basta só planetarizar a natureza e nossas riquezas, é fundamental integrar, com ônus ao mundo dos povos ricos, às sociedades emergentes dos países pobres para constituirmos humanitariamente também, um único “Pangea” social. Chama-se equilíbrio e vida com dignidade.
O teorismo conservacionista do desenvolvimento sustentável nunca atenderá a agonia social existentes nas cidades amazônicas e nem será um produto acabado, mas uma eterna busca da vaidade humana, que necessita de ética científica e, principalmente, equilíbrio político, para transformar o descontrolado caos social na Amazônia urbana e o seu inevitável cataclismo socioambiental no meio rural.
Na Amazônia, o desenvolvimento terá como grande desafio encontrar mecanismos conciliatórios que permitam um máximo de benefícios sociais para uma vida estável com um mínimo de danos irreversíveis ao meio ambiente local e planetário. Não há meios e soluções para natureza sem trabalho para suas sociedades inscritas e circunscreventes.
Não somos contra compartilharmos os nossos recursos naturais, nossa importância nos sistemas geoclimáticos, mas queremos essencialmente globalizar nossa realidade social e dividirmos com a humanidade o direito de termos uma verdadeira cidadania planetária. Não se pode ter a Amazônia como Colônia Ambiental Planetária, reserva de riquezas e comodities sem nos ter a todos, juntados ao pacote. Não tem como nos descolonizar de nossa própria existência, riquezas e de nossa história.
É preciso combater essa cruel e desumana colonização ambiental da Amazônia e retirar das prezas da ONG´S o veneno social que nos encarcera por sua ecocracia da pobreza
MSc. ANTONIO FEIJÃO
Geólogo e Advogado