Há o que ser comemorado, sem dúvida, era o término de um período em que a escravizar pessoas no Brasil era usual e legal. Não apenas de afrodescendentes, mas também de indígenas.
Mas há principalmente que se refletir com sobriedade e honesta visão sobre o que significa a escravidão passada e presente no transcorrer do marco civilizatório.
No presente, a escravidão já foi abolida de fato?
A origem da escravidão está ligada a dois fatores fundamentais, o econômico e o social.
No FATOR SOCIAL houve e ainda há muitas posturas primitivas e repletas de preconceitos, de crenças enganosas na suposta superioridade de povos, raças, tribos e tudo o mais que se possa relacionar a preconceitos e ignorância.
No FATOR ECONÔMICO o pobre é tido pelos que tem mais dinheiro e poder, e pior, aceita, a condição de que é inferior, isso tudo estimulado através de disfarces, de hipocrisia.
Se lançarmos um olhar aos primeiros registros que temos da escravidão no ciclo da história humana, ela começa quando aqueles que venciam guerras descobriram ser mais vantajoso, em vez de sacrificarem aos deuses os prisioneiros, manter eles como escravos, servindo aos vencedores.
Assim, nas civilizações antigas: Grécia, Roma, Egito, Babilônia e as demais, a escravidão era constante. Atendiam a uma demanda de trabalho, a demanda econômica. Importante registrar que não importavam cor, etnia, crença. O objetivo era totalmente economia e poder.
E assim foi também em nosso país. A economia colonial baseava-se na produção da lavoura canavieira e na exploração de minas e para que esses empreendimentos fossem lucrativos foi aqui introduzida a escravidão. A forma mais aviltante de exploração do trabalho.
Esse é o passado que percorremos e que muitas vezes acreditamos superado. Sim, nem tudo foi em vão, ao longo dos séculos, alcançamos alguns passos à frente, mas quantos passos de retrocessos são perceptíveis a cada dia em que o dinheiro fica escasso.
Na modernidade, em pleno século XXI, a escravidão assume facetas diferentes, camuflagens. É fato que enquanto as pessoas não tiverem condições de suprirem suas necessidades básicas com dignidade, que significa com trabalho digno, elas estão escravas dos que lhes garantem esmolas de sobrevivência.
E o que é um trabalho digno? Aquele em que a pessoa tenha ganhos justos, seja ela um empreendedor, um funcionário ou um ambulante…
E sobre isso há dados, por exemplo, “desde a década de 1970 existem denúncias de que o trabalho escravo – apesar de constituir um crime – continua praticado no Brasil. O método empregado é o mesmo que se usava com os imigrantes, ou seja, forçar o trabalhador a endividar-se, de modo que ele seja forçado a trabalhar para pagar sua dívida. Para evitar fugas, capangas armados são espalhados nas fazendas, atuando como “neofeitores” ou capitães do mato” (In:https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/escravidao-ontem-e-hoje).
E no mundo a situação não é diferente, a exploração do ser humano pelo ser humano continua em grande escala. No Brasil, ela não ocorre apenas nas lavouras ou no interior do país, ocorre também nas grandes cidades. Ocorre em diversas frentes.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em maio de 2005, existem cerca de 12,3 milhões de escravos no mundo, dos quais entre 40% e 50% são crianças. Destaque-se que o tráfico humano e a exploração sexual fazem parte do quadro moderno de escravidão. Estamos em 2022 e os dados continuam crescentes.
O que se faz óbvio é que a miséria, a fome, o desemprego, os baixos ganhos são combustível dessa situação cruel. E a causa ou origem está na falta de ações governamentais, DESDE EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, PASSANDO POR OMISSÃO AO INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO E CULMINANDO NA INCOMPETENCIA DE CRIAR CONDIÇÕES PARA QUE INVESTIMENTOS GEREM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MERCADO QUE VALORIZE O TRABALHO E O TRABAHADOR, para mudar o cenário de nossa sociedade de mendigos para uma sociedade autossustentável. Esta irresponsabilidade de gestores públicos é o sustentáculo deste triste espetáculo. E somente seu voto pode abolir a escravidão atual.