No Brasil, temos um presidente que acredita que a pandemia é uma estratégia política de seus opositores para prejudicar o seu governo. Para ele, a pandemia é adversário político não um caso grave de saúde pública. Tanto assim que, sem qualquer pudor, trocou de ministros da saúde como treinador de basquete troca jogadores durante uma partida. Até hoje o presidente viaja pelo Brasil dando, solenemente, uma banana para as medidas sanitárias obrigatórias. O presidente não está só nessa jornada de (des)combate à pandemia. Há uma multidão de seguidores que ignoram os riscos e como kamikazes experimentam o óbito como ato de civismo e coragem que refletem o alinhamento com o pensamento do presidente.
O comportamento dos brasileiros que minimizam os riscos comprovados da pandemia é estimulado por teóricos do caos que fazem esdrúxulas comparações com outros indicativos de causas de mortes nas amostragens estatísticas. Tudo isso reflete o nível cultural do nosso povo, avesso à realidade científica e harmonizado com a brutalidade dos que acham que as medidas restritivas são comandos facultativos, cuja observância podem ficar ao alvedrio de cada indivíduo. A realidade é triste e contrasta com a realidade dos países asiáticos onde o povo, por seu nível cultural, acatam as medidas higiênicas sem a necessidade do uso do braço forte do Estado.
Em Macapá, pequena mostra do que ocorre no Brasil, o povo e os governantes deram a mão no trabalho de desserviço de combate à pandemia. De repente, uma onda de “liberou geral” contagiou governantes e governados numa incivismo coletivo que poderá custar vidas e dinheiro. O pior é que por aqui também entrou o componente político, estímulo eficiente para perpetrações de loucuras individuais e coletivas dos governados, sob o olhar irresponsável e complacente dos governantes. O resultado dessa histeria coletiva, reflexo do nível cultural do povo, será perdas de vida e elevados gastos públicos evitáveis.
Helmut Schmidt, político alemão, citado pelo filósofo Byung-Chul Han, afirmou durante as catastróficas inundações de 1962 que “é nas crises que se demonstra o caráter”. A frase é forte e contundente e se aplicada no atual momento, revela quão sem caráter estamos nos revelando, porque em meio a grave crise da pandemia, interesses subalternos estão prevalecendo, reforçando a tese de que nível cultural do povo, de fato, determina o sucesso ou fracasso nas grandes empreitadas, posto que o caráter é genuína expressão cultural.
Vicente Cruz
Presidente do Conselho de Administração, advogado sênior e Estrategista Chefe do IDAM (Instituto de Direito e Advocacia da Amazônia)
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