Toda alternância de poder, conquanto normal nos países que se inclinam à democracia como regime de governo, é sempre caracterizada por expectativas frustradas, tanto dos vencedores eufóricos quanto dos vencidos raivosos. Faz parte do processo de mudança. Embora a expectativa dos vencidos seja sempre que o governo que entra inicie os trabalhos agonizando, no atual estágio brasileiro temos uma singularidade que espanta, qual seja, a de que os derrotados, em loucura coletiva, ainda alvitram a deflagração de um golpe com a ajuda das forças armadas. Para tanto, não desistem de ficar na frente dos quartéis, tão eficiente para uma ruptura quanto café amargo para curar porre.
No início do governo, Lula, como velha raposa, montou sua equipe amparado no discurso da diversidade, tal qual pregou em campanha, trazendo até mesmo àqueles quadros que não se alinham com a maioria das pautas da esquerda, como é caso de Simone Tebet. Isso, logicamente, como qualquer mudança, traz desconforto, como traz qualquer sapato novo. Nesse contexto, até mesmo os mais ideológicos, como é o caso do senador eleitor Flávio Dino, que assumiu a condição de “xerife do bem” na pasta da justiça, saborearam o gosto amargo de fazer sarrafo baixo para contemplar aliados, trazendo até mesmo quem se opunha ao chefe, postulando, em épocas transatas, sua prisão. Esses inconvenientes na escolha da equipe de governo foram o sal a mais na composição do time do experiente Lula.
No tocante as primeiras medidas de governo, o mercado ou a famosa Faria Lima, como era de se esperar, chiou e chiou bastante. O aceno de Lula para a “gastança social” com o suposto ou alegado arrepio das regras da responsabilidade fiscal, fizeram a bolsa despencar dando azo as mais negativas expectativas de governo. Ora, um mercado que foi beneficiado pelas mãos de Paulo Guedes, seu agente mandachuva no governo, não poderia reagir de maneira diferente, afinal, suas agendas foram plenamente atendidas no governo que se despediu do planalto. O Brasil da direita conservadora era bem mais atraente para o capital do que o governo da diversidade proposto por Lula.
Lula, em certa dose, lembra muito a história do florentino Maquiavel. Como disserta Maria Teresa Sadek, com aguçada análise, na coleção “Os Clássicos da Política”, Maquiavel era apresentado, ora como mestre da maldade, ora como conselheiro que alerta os dominados contra a tirania dos dominantes, capaz de provocar tanto ódio, mas, também, tanto amor. Lula é assim, tal qual Maquiavel, provoca tanto ódio, mas, também tanto amor. Poucos o conhecem na profundidade, tarefa possível somente para aqueles que se dispõe a analisá-lo sem a miopia ideológica e com discernimento intelectual alto. Para Maquiavel foi necessário o trabalho duro de Rousseau, de Spinoza, de Hegel, para reabilitá-lo, diante da infâmia daqueles que o julgavam sem conhecer profundamente seu trabalho. O caso de Lula se assemelha ao do autor florentino. Lula precisa da voz do povo com a ajuda da formulação intelectual qualificada para ser compreendido, mas isso não se faz em uma semana.
A primeira semana de Lula
