Ciro Gomes, ainda em campanha, apostava que o ex-presidente seria preso por suas ações negacionistas e criminosas durante a pandemia. Ciro Gomes, com sua conhecida contundência vernacular, dizia que era impossível não admitir tal hipótese diante das provas concretas de prática de crimes contra a humanidade. Depois das eleições e com o acontecido em 8 de janeiro, passou-se a acreditar nas dificuldades que o ex-presidente iria enfrentar por apoiar abertamente um bem engendrado projeto de golpe de Estado. O problema é que o Brasil tem um histórico de “passar o pano” em protagonistas de crimes políticos, quando até torturadores confessos já foram poupados do alcance da lei.
A grande virada no passado histórico do Brasil em anistiar golpistas, sobretudo militares e políticos, parece ter um bom sinal com o aprofundamento das investigações dos atos golpistas de 8 de janeiro. Nesse pacote, estão todos os atos praticados pelo ex-presidente que afrontaram a ética republicana. O negacionismo, tão aplaudido pelos seguidores fanáticos do ex-presidente, que ajudou a por na vala triste de óbitos da pandemia 700 mil brasileiros, cuja estatística põe o Brasil entre os países que tiveram as maiores baixas do período pandêmico, poderá ter sua reprimenda legal com a apuração rigorosa dos atos criminosos do ex-gestor do Brasil.
A quarta-feira negra do ex-presidente é um bom sinal contra a impunidade soberana que tanto se combate discursivamente no Brasil, sobretudo no campo político. O extremismo político de direita no Brasil está vivo e precisa ser enfrentado, máxime quando defende a ruptura institucional. A PL das fake News é um movimento político necessário de reação contra o neofascismo que é celebrado dia a dia nas redes sociais e que tem íntima ligação com a propaganda política do ex-presidente. A busca e apreensão na casa do ex-presidente é um marco histórico que desafia a complacência dos poderes da república com atos que corroem a república. Para um ex-chefe de estado que já defendeu a ditadura, homenageou um de seus maiores torturadores e que cunhou a terrível frase de que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”, uma busca e apreensão é pouco!