Destarte, convém dissipar essa interpretação, trazendo à colação a acepção etimológica da quintessência.
Quintessência vem da conjunção das palavras quinta e essência. O prefixo quinta significa um quinto elemento que, com os outros quatro (água, terra, ar e fogo) dava origem aos corpos celestes no escólio de Aristóteles, enquanto que essência é o que há de melhor, de mais apurado, importante ou excelente; grau mais elevado ou melhor de alguma coisa; essencial.
Já sob a ótica maçônica, ao ser elevado ao grau de Companheiro Maçom, vislumbra-se de plano a importância do Quinto Elemento ou a Quinta Essência, obrigando-nos a uma reflexão sobre seu significado e relevância prática para a vida maçônica.
Podemos afirmar que o quinto elemento é a energia pura emanada do centro do Criador, presente na matéria e em tudo, pelo que os antigos sábios o consideravam a causa e origem dos outros quatro elementos (terra, água, ar e fogo), éter para os antigos alquimistas e para Aristóteles. Além dos quatro elementos já conhecidos, deveria haver uma substância etérea que intermeasse em todos os demais compostos, mantendo os corpos celestes afastados da terra pela gravidade.
Pelo conceito maçônico, o “quinário” seria o requinte das coisas, fazendo parte do grau que visa à perfeição que deve atingir o Companheiro para propiciar a elevação ao próximo grau.
O quinto elemento se impõe aos quatro anteriores, prevalecendo a quintessência sobre o quaternário dos outros elementos.
Para Jorge Adoum (Grau do Companheiro e seus mistérios, ed. Pensamento: São Paulo, s/d), pelo quaternário se manifesta a matéria, mas se não se une ao quinto – que é a vida – toda a materialização morreria. O homem é quinário porque tem em si os quatro elementos e um Espírito que lhe dá alento e vivifica os quatro, fazendo ideia da vida, da animação, do ser e da união do espírito ao corpo.
Os cinco sentidos são as expressões do quinário com as cinco funções vegetativas (respiração, digestão, circulação, excreção e reprodução).
Cumpre ao homem esmerilhar esses cinco sentidos e multiplicá-los, pois um sentido bem educado resulta em talento interno.
A vista é o primeiro sentido. Podemos tirar de Jesus Cristo a seguinte lição: “A lâmpada do corpo é o olho (interno, a glândula pineal); de modo que, se teu olho for sincero todo teu corpo será luminoso; mas, se teu olho for mau, todo teu corpo será tenebroso. Assim, se a luz que em ti há são trevas, quanto serão as mesmas trevas?”.
O segundo sentido ou talento é o ouvido, que determina o que pensa e crê o homem, sendo a base da fé e da confiança.
Assim, os iniciados devem ouvir o sublime, o belo das artes visando atingir um sentido esotérico no ser psicológico e no intelecto, para formá-lo e embelezá-lo.
Olvide-se a injúria, a calúnia, a vituperação, a crítica e tudo que possa malferir a natureza humana.
Na vida devemos agir sempre com tato, ou seja, tal é a relevância do conselho que disso depende o êxito ou malogro, porque agir com tato é prudência, com amor ou talento.
Quanto ao gosto, o homem usa a Inteligência para selecionar seus alimentos com o escopo de manter o corpo sano. Mas para a alma, deve buscar o gosto espiritual para transcender do vulgar para o requinte do superior, elevado, visando sofrear os instintos que, não domados a tempo, serão obstáculos.
No olfato está sedimentada a ciência da respiração, influenciando a parte mais sutil e delicada do nosso ser: o sistema nervoso simpático e a inteligência. Devemos purificar nosso ambiente mental para poder respirar átomos puros que têm relação umbilical com o pensamento.
Assim, deve-se desprender o cheiro de santidade que exala um olor agradável não perceptível no plano físico do olfato, mas penetrante no sentido psíquico.
Citando o Livro Sagrado, Boanerges B. Castro (O Simbolismo dos Números na Maçonaria, Ed. Aurora: Rio de Janeiro, 1977) transcreve com sabedoria excerto do Velho Testamento: “Gen. II: 6 – Mas uma neblina (AR e ÁGUA) subia da TERRA (pela ação do calor, ou seja, FOGO) e revogava toda a superfície do solo. 7 – Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida e o homem passou a ser uma alma vivente”.
O homem foi moldado com os quatro elementos, mas esses por si sós não eram suficientes para torná-lo um ser vivente. Daí acrescentou-lhe uma quinta essência para dar-lhe vida, com o “fôlego da vida”.
É um simbolismo marcante porque o homem é composto primordialmente por água e pequena parte de outros elementos químicos (terra) não realiza a função orgânica sem o calor (atributos do fogo) e sem a oxidação (só possível com o ar). Mas um morto também reúne todos esses elementos, o que enseja concluir que não bastam só os elementos físicos. É necessária a existência de um quinto elemento que os unam e propicie a condição de vitalidade.
A PRESENÇA INDELÉVEL DA QUINTESSÊNCIA NA SUBIDA DA ESCADA DE JACÓ: Na primeira incursão do aprendizado, devemos trabalhar em cima da pedra bruta para transformá-la em pedra polida, habilitando-se para a construção da moral da humanidade e consagrando os cinco sentidos do homem: tato, olfato, visão, audição e paladar, que fazem parte da quintessência.
E depois, tendo na mão a régua e o compasso que representam a ordem, fazem-se os círculos que devemos trabalhar sobre eles e a outra ferramenta faz a linha, passando pelo centro representando o equilíbrio que devemos ter na nossa vida. Esses riscos traçam as cinco ordens da arquitetura: a dórica, jônica, coríntia, compósita e toscana.
No terceiro degrau, as ferramentas são substituídas por outra que tem uma função ativa e representa o desenvolvimento da inteligência e da compreensão. Este novo instrumento significa vontade inflexível aplicada com inteligência. Essa fase é dedicada às artes liberais: a gramática, retórica, lógica, música e astronomia, relacionando-se também à quintessência.
Seguindo a escadaria, o simbolismo é moralidade e o controle das ações e é dedicado à memória dos grandes filósofos que inspiram a humanidade: Solon, Sócrates, Licurgo, Pitágoras e Jesus de Nazaré (I.N.R.I.).
E no degrau derradeiro não se faz uso de ferramentas, o que significa a procura do seu gênio individual, dedicada à glorificação dos trabalhos e os sinais significam fartura e abundância e a palavra a estabilidade e firmeza. Os passos são relacionados à quintessência, seguindo uma linha reta em cinco finalizando em dois oblíquos, significando a busca da verdade em outros caminhos, na qual a criatura divina se arrisca.
À GUISA DE CONCLUSÃO: Um homem sem o fôlego da vida, o quinto elemento que é a energia una, nada mais é que um cadáver.
E o homem vivo é formado de cinco elementos e sua representação simbólica na Maçonaria é o pentagrama ou um astro cintilante pelas flamas, o símbolo do companheiro maçom.
Assim, ao passar pelos cinco estágios e obtém-se acesso à VERDADEIRA LUZ (espiritual), a qual lhe propicia novos horizontes de generosos sentimentos a serem exaltados, desprezando o egoísmo, um sentimento abominável.
Essa luz, não tão forte como o sol, não tem o condão de lhe ofuscar na conquista do plano espiritual, representando a virtude da caridade, espalhando luz (tem o significado de ensino) e calor (o conforto do calor), ensinando-nos a prática do BEM no raio de alcance desta nossa caridade.
Esse astro flamejante “é o emblema do gênio que eleva as grandes causas. É a imagem do fogo sagrado que abrasa a alma de todo homem que, resolutamente, sem vaidade, sem baixa ambição, volta a sua vida à glória e à felicidade da Humanidade” (CASTRO, 1976).
Em suma, o número cinco (penta em grego) tem a denominação de quinário e sugere a quintessência, significando a perfeição que o maçom deve conquistar antes de seguir para os graus seguintes.
Não pode passar despercebido que a Felicidade é composta de cinco fases: o adorno, o amor, o socorro, o trabalho e o gozo, assim como os instrumentos de trabalho são cinco: o martelo, o cinzel, o esquadro, a régua e o avental, além de outros simbolismos no viés quinário.
Finalizando, a compreensão da quintessência é um caminho para o aprimoramento visando à perfeição, afastando-nos das trevas da ignorância, do agnosticismo beirando o ateísmo repudiável e o fato de sermos matéria sobre a qual agem variadas sensações através dos sons, dos cheiros, dos sabores e das formas das coisas.
Indiscutivelmente a quintessência anima esse corpo material, transformando o objeto inanimado e inútil em um ser a serviço do Grande Arquiteto do Universo.