A participação do Brasil em Copas do Mundo sempre envolveu profundamente a nação brasileira. A Copa é capaz de arrefecer os mais extremados ânimos internos, inclusive, no momento, diminuir o número de pessoas em frente aos quartéis e fazer valer o uso da camisa da seleção em qualquer local. Na sexta-feira (02), último jogo da fase de grupo, com o Brasil já classificado, o treinador Tite resolveu desafiar a lógica futebolística colocando em campo um time reserva, desentrosado e sem ritmo, dando azo a sua vaidade gigante e contemplando suas preferências pessoais. O resultado foi o previsto: uma derrota inusitada para um país africano em copa do mundo. Tite – em louvor a sua desmedida vaidade – jurou que “o Brasil perdeu quando poderia perder”. Aqui pra ele.
Tite representa a massa de treinadores brasileiros que já não atende mais as exigências do futebol competitivo moderno. Se é certo que o jogador brasileiro ainda é monstro em talento, habilidade e genialidade, não menos verdadeiro é que hoje no futebol o importante é o resultado do trabalho coletivo, sem ênfase em grandes talentos individuais, cujo papel é desequilibrar com a genialidade quando o momento exigir e for possível. Nesse tocante, o papel do treinador é fundamental. A ele incumbe a difícil função de selecionar os melhores jogadores para seu projeto estratégico e tático, com medições precisas e análise circunspecta de seus desempenhos atuais. Nisso Tite é sofrível, como, aliás, são quase todos os treinadores brasileiros. Tite comanda um colegiado composto, na maioria, de jogadores amigos que atendem sua vaidade. Com isso, nossas chances de chegar ao hexa reduzem muito.
O ex-jogador de futebol e comentarista Walter Casagrande foi bem preciso ao analisar a derrota do Brasil para Camarões. Diz – com a autoridade de quem já esteve lá – que a falsa modéstia e a soberba de Tite podem frustrar nosso sonho. Também apontou o narcisismo de Neymar como fator que poderia prejudicar a seleção. Felizmente Neymar não tem dado ênfase a esse ponto de melhoria, ressalta. Casagrande foi inciso no caso da convocação e escalação de Daniel Alves, diz, com suavidade poética, que Daniel Alves é um ex-jogador em atividade, cuja história, embora bonita e elogiável, nunca revelou um craque protagonista, mas apenas coadjuvante. Alerta, ainda, que Gabriel de jesus, o atacante que não faz gols, está na Copa e Gabriel Barbosa, que decide jogos com gols de peso não. Segundo ele, tudo isso pela vaidade de Tite.
Estou com Casagrande! Tite é um boçal que deu certo. Sua coleção de títulos não o torna um grande treinador. Seus conceitos só convencem aqueles que não conhecem o palavreado encantador do desenvolvimento humano, aplicados à exaustão como instrumento de comunicação de sua vaidade desmedida. Miguel Seruca, treinador português que está no Amapá para troca de experiência, diz, com elogiável acerto, que os treinadores brasileiros, em sua maioria, são xenófobos e avessos ao estudo de conceitos futebolísticos e as novas metodologias, capazes de não compreender a diferença entre “jogar bola e jogar o jogo”. Tite levou um elenco para jogar bola e não para jogar o jogo. O Brasil pode ganhar a Copa, sim, mas se desborda dos conceitos evolutivos e metodológicos do futebol moderno. Nós que sempre exportamos craques, agora teremos que importar treinadores, senão passaremos a ser coadjuvantes e o protagonismo no futebol será saudade. Como ensina Salomão: “vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade”.
A vaidade de Tite e a realidade brasileira
