Um dos mais brilhantes jornalistas do nosso tempo, J.R. Guzzo, escreveu e publicou nos idos de 15/07/2022 um artigo, ainda muito atual, que deveria ‘abrir os olhos’ de todos: O Brasil, o mundo e as angustias da Europa’, que com a devida vênia do mestre transcrevo alguns trechos.
“O ministro do Exterior da Índia, recentemente, disse numa reunião internacional que os europeus fariam bem de ter em mente uma coisa muito simples: os problemas da Europa não são os problemas do mundo. Foram meia dúzia de palavras, em torno de uma ideia sem nenhuma complicação — mas, provavelmente, estão entre as afirmações mais relevantes, realistas e inteligentes feitas há muito tempo por um homem público na cena mundial. É um chamado exemplar à realidade: o mundo, muito simplesmente, não é como eles querem que seja. Vende-se na Europa, nos Estados Unidos e nas suas franjas a noção de que ‘o planeta’ está morto de ansiedade com a proibição das sacolas de plástico, a multiplicação das ciclovias e a promoção das hortas orgânicas. É falso — apenas isso. Mais do que tudo, estão convencidos que as suas ‘agendas’, ou o que as elites apresentam como ‘agenda’, são a lista de deveres de casa que os 8 bilhões de habitantes do mundo têm de cumprir, obrigatoriamente.
É o caso da ‘agenda 2030’, uma coleção de desejos montada por bilionários que vão à reunião anual de Davos, na Suíça, fundações que torram dinheiro grosso em favor da virtude e um punhado de governozinhos globaloides, controlados por uma casta de funcionários que não foram eleitos por ninguém e têm horror à ideia de que alguém, além deles, queira mais bem-estar nas suas vidas. Segundo eles todos, o mundo não pode mais progredir, nem dar oportunidades aos bilhões que têm pouco ou nada, em termos materiais. O capitalismo, ali, é um crime; só se aplica aos que já têm o capital hoje. Se o sujeito tem US$ 50 bilhões e faz uma doação de 1 bilhão, todos os seres humanos deveriam fazer a mesma coisa, não é? Para preservar o meio ambiente e ‘salvar o clima’, o mundo que está fora da Europa e dos Estados Unidos tem de voltar à Idade da Pedra. As minorias são mais importantes que as maiorias — e por aí vamos. É isso, a ‘agenda’ dos ricos. Tudo bem. Querem ser roubados em US$ 900 por dia? Que sejam.
Querem morrer de fome para preservar a natureza? À vontade. Mas a agenda da Europa não tem de ser a agenda do mundo, como disse o ministro do Exterior da Índia.
Também não deve ser, obviamente, a agenda do Brasil. Mas nossas elites querem que seja, é claro — e acaba sendo, na vida pública, no mundo oficial e na ‘sociedade’. Como sempre acontece, e está acontecendo de novo agora, a mídia, as classes culturais e os ‘progressistas’ brasileiros engolem com casca e tudo seja lá o que vier de Nova York, de Londres ou de Paris; são, possivelmente, os mais excitados importadores de más ideias do mundo. É bem sabido, desde que a Corte de Dom João VI desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, que o animal mais parecido com os habitantes da elite brasileira é o macaco — nada revela tão bem um brasileiro rico, ‘culto’ ou ‘influente’ quanto a sua ânsia permanente de copiar o que se faz na Europa e nos Estados Unidos. (Imaginam, ao fazer isso, que são avançados e estão a par dos últimos passos da civilização; não percebem o quanto são subdesenvolvidos típicos.) Continua assim, mais de 200 anos depois. O resultado é que o Brasil assume como sendo suas um monte de preocupações que têm pouco ou nada a ver com as realidades efetivas do país. Poderia ser apenas mais uma palhaçada, como a linguagem neutra ou as campanhas do Uber contra o ‘racismo’, a ‘fobia’ anti-LGBT+ e tudo o que é visto como politicamente irregular. Mas acaba sendo mais que isso — passa a influir no debate político e nas decisões dos que mandam no país, e por esse motivo começa a afetar a legislação, os atos de governo e o comportamento das empresas.
O Brasil está produzindo alimentos demais, e isso vai contra as noções de virtude das cabeças mais avançadas da Europa
É pior, na verdade: o Brasil não apenas imita os europeus e americanos em sua busca inesgotável por causas cretinas, ou que não têm nada a ver com as necessidades brasileiras, mas tornou-se, ele próprio, um dos maiores alvos da perseguição ‘globalista’. O Brasil é um horror, talvez o maior horror de hoje, para a ‘agenda 2030’ — para os delicados burocratas que comandam os governos do Primeiro Mundo, para os bilionários socialistas de Davos, para os departamentos de marketing de multinacionais que se converteram à prática ‘do bem’. Sua ideia fixa, acima de qualquer outra, é a Amazônia e a sua floresta. O Brasil, segundo eles, não tem o direito de governar a Amazônia, que deveria ser declarada ‘área internacional’. De atores de Hollywood a reis da Escandinávia, de governos da Europa às universidades de primeira linha, mais a ‘comunidade científica’ mundial, todos exigem que a vida humana cesse para a Amazônia e os 20 milhões de brasileiros que vivem ali; só devem existir árvores, bichos e peixes. Numa ação paralela, querem parar o agronegócio brasileiro — o Brasil está produzindo alimentos demais, e isso vai contra as noções de virtude das cabeças mais avançadas da Europa, como é o caso da Holanda, onde se acha uma boa ideia proibir as pessoas de cultivarem o solo.
Toda essa gente tem aliados ativos na vida pública e privada do Brasil. Banqueiros de esquerda, por exemplo, escrevem manifestos anunciando ‘boicotes’ fatais contra a economia brasileira por parte dos grandes fundos de investimento internacionais e das múltis mais globalizadas, para punir a nossa pouca atenção à ‘crise do clima”. Os boicotes nunca aparecem no mundo das realidades; a produção e as exportações do agro brasileiro batem novos recordes a cada ano. Mas fazem grande sucesso nos salões, na mídia e nos meios ‘bem informados’. Também há as ONGs, é claro — essas fazem dia e noite, e frequentemente com dinheiro público, um trabalho de agressão em tempo integral contra tudo o que o país tem de bom, ou tenta construir para se desenvolver. Há as classes intelectuais, a universidade pública e o universo artístico. Há as empresas socialistas. Há as agências de publicidade inclusivas. Há o Ministério Público, a justiça e as ‘agências reguladoras’. Há, em geral, tudo o que se descreve como ‘esquerda’. Querem, todos eles, um Brasil desenhado por funcionários das agências temáticas da Comunidade Europeia, ou por executivos da Disney, ou por professores de Harvard; acham que o que é virtude em Bruxelas tem de ser virtude em Piracicaba. Não imaginam, nunca, que o Brasil faça parte dos 90% do mundo que estão fora da Europa e dos Estados Unidos; acham que estamos nos 10%. São um atestado da falência de si próprios.”
Não há muito o que comentar sobre o irrepreensível artigo do mestre Guzzo, entretanto, fica bem claro que um estulto, independentemente se sua ideologia é de esquerda, direita ou centro, é um estulto. Agora somente nos resta lutar para que a estultícia não domine o Brasil. Não costumo escrever sobre política, mas, CHEGA, BASTA parem com a tal ‘partidarização’. Parem de dividir o Brasil entre esquerda e direita. Será que ainda não perceberam que a técnica usada pelos dominadores do mundo é ‘dividir para conquistar’? O Brasil é um país ‘uno’, não importam as origens, cor da pele, sexo, ideologias ou religiões, isto é o que nos faz grandes e importantes, as divisões nos enfraquecem e desmerecem, somos todos brasileiros.
“Os homens às vezes são senhores de seus destinos: a culpa, caro Brutus, não é das estrelas, mas de nós mesmos, que somos subalternos.” William Shakespeare em Júlio César.