O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) deixou a presidência do Senado em 2021 após ver fracassar uma manobra que esticaria a sua permanência no posto por mais dois anos. Contrariado, o parlamentar de pouco prestígio, assumiu o controle das principais negociações políticas, ditando desde o andamento de projetos importantes à distribuição de cargos e verbas, e garantiu um bom trânsito entre petistas e bolsonaristas. Ainda chamado de presidente por alguns de seus colegas, Alcolumbre é tido como um nome certo a voltar a comandar o Senado em 2025 — tanto que hoje as articulações já miram mais além e e vislumbram até a reeleição dele, em 2027. Se nada acontecer, esse longo e ambicioso projeto tem tudo para se consolidar. Mas há quem acredite que algo ainda pode acontecer.
Faltando pouco menos de seis meses para a eleição, as senadoras Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Eliziane Gama (PSD-MA) costuram uma união de forças para rivalizar com Alcolumbre na disputa. A dobradinha prevê que as duas devem, desde já, ir a campo em busca de votos. Mais adiante, elas vão avaliar quem aglutinou mais apoio e, com base nisso, decidir quem será a candidata. A campanha começa na próxima semana, quando a dupla dará início a um giro pelo país com o objetivo de se colocar como uma alternativa viável. A intenção é conversar com lideranças políticas, ouvir as demandas e prometer uma gestão diferenciada. Na largada, a primeira dificuldade é caseira. Hoje, não há garantia sequer de que seus próprios partidos vão apoiar a empreitada. Por isso, o marco zero do desafio será uma reunião em São Paulo, prevista para a próxima quarta-feira, 21, com os dirigentes do PSD e do Podemos para garantir o aval dos caciques.
Depois dessas conversas, as senadoras devem embarcar rumo ao Nordeste, passando por cidades de Sergipe, Pernambuco e Alagoas. A ideia é buscar primeiro os partidos mais alinhados para, desde já, confirmar a adesão. Com dez senadores, o MDB é considerado uma peça central na disputa. Por isso, Eliziane recentemente se reuniu com o ex-presidente José Sarney (MDB) para pedir a bênção e o apoio à candidatura. O ex-presidente, apesar de aposentado há uma década, ainda é ouvido com frequência sobre articulações de bastidores e mantém influência na bancada do seu partido. Outro importante eleitoral é o próprio presidente Lula. Embora o Palácio do Planalto oficialmente garanta que vai ficar distante da eleição, o aval do petista é considerado essencial para o sucesso do projeto. Tanto Eliziane quanto Soraya já estiveram com o presidente.
Apoiadores da candidatura feminina espalham que o governo e o PT preferem um nome diferente ao de Alcolumbre, que estaria fazendo acenos demais à oposição em busca de votos, e que Eliziane ou Soraya seriam nomes mais confiáveis para estar à frente do Congresso no fim do terceiro mandato de Lula — Eliziane é uma antiga aliada do ex-ministro da Justiça Flávio Dino, enquanto Soraya, que entrou na que entrou na política na esteira de Jair Bolsonaro, rompeu com o ex-presidente e agora se firma numa posição de independência. “Não dá para ficar nas mãos do Alcolumbre, do Pacheco e do Lira”, teria afirmado Lula, segundo relato de Thronicke. Já do lado do senador do União Brasil, a candidatura das mulheres é vista apenas com uma forma de “marcar posição” e não terá adesão de todas as senadoras, que também compartilham diferenças políticas e ideológicas entre elas. “Só um desastre tira a presidência do Davi”, afirma um aliado de Alcolumbre, que lança dúvidas, inclusive, sobre a real intenção da dupla. Não raro, candidaturas “alternativas” são apresentadas como uma forma de alcançar algum tipo de de barganha.
Essa possibilidade, segundo elas, não existe. “Nós temos um objetivo claro e não tem outro espaço de negociação. Chegou a hora de uma mulher assumir a presidência do Senado”, disse Eliziane Gama, devolvendo a provocação: “Na política, você tem duas formas de perder uma eleição, que é achar que já ganhou ou achar que já perdeu. Eu estou otimista e acho que a gente tem uma avenida para trabalhar ”. Em 200 anos de existência, a presença feminina ainda é uma relativa novidade no Senado. Eunice Michiles foi a primeira mulher a ser eleita, em 1979. De lá para cá, a bancada feminina cresceu e atingiu tamanho recorde nesta legislatura, chegando a quinze representantes.
Presidir o Congresso, porém, seria um feito inédito e grandioso para as mulheres. Simone Tebet (MDB-MS), atual ministra do Planejamento, foi a primeira a tentar. Em 2021, ela disputou o cargo com Pacheco e foi derrotada, mas multiplicou seu cacife político. A caminhada é difícil, e o adversário, tinhoso — mas não convém duvidar da fibra dessas mulheres.
Fonte: Veja