A Câmara de Vereadores de Macapá resolveu transformar a política local em um palco de teatro barato nesta terça-feira (19). Ignorando o contexto do episódio e as polêmicas que cercam o denunciante, o Legislativo aprovou a abertura de uma comissão processante contra o prefeito Antônio Furlan (MDB), acusado de agredir um jornalista durante uma vistoria de obra municipal.
O caso ganhou repercussão no domingo, quando imagens circularam mostrando uma confusão durante a tradicional Agenda de Domingo. Em meio ao tumulto, Furlan interveio para proteger servidoras municipais que estavam sendo agredidas pelo cinegrafista Iran Froes — o mesmo que agora acusa o prefeito de violência.
Reconhecendo que sua reação foi enérgica, Furlan utilizou as redes sociais na segunda-feira para pedir desculpas à imprensa e à população. “Jamais permitiria esse tipo de situação. Sempre tive respeito e a melhor relação com os profissionais de comunicação, e isso vai continuar”, afirmou o prefeito, destacando que agiu movido pela necessidade de impedir que a agressão contra as servidoras continuasse.
Ainda assim, a Câmara decidiu levar adiante o pedido de abertura da comissão. O documento protocolado na Casa tem 30 páginas, reúne imagens da confusão e apresenta uma narrativa detalhada dos fatos — escrita pelo próprio Iran Froes, que agora posa de vítima, mas já esteve no centro de outras polêmicas políticas.
A comissão formada pelos vereadores Ruzivan de Jesus (PRB), Alexandre Azevedo (Podemos) e Alessandro Monteiro terá a missão de apurar a denúncia e instaurar processo administrativo por quebra de decoro contra o prefeito. O gesto, no entanto, é visto por analistas como uma tentativa explícita de desgastar politicamente Furlan e beneficiar setores ligados ao governo estadual.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, a postura da Câmara é contraditória e oportunista.
Em vez de investigar a fundo o histórico do denunciante e as circunstâncias da confusão, os vereadores optaram por atacar o prefeito que, na prática, agiu em defesa de mulheres agredidas. “É uma inversão de valores. Um prefeito que tenta proteger servidoras agora é tratado como agressor”, resumiu um cientista político.
A contradição não para por aí: há vereadores da própria Casa que respondem a processos na Lei Maria da Penha por agressão contra mulheres. Mesmo assim, eles se colocam como paladinos da moralidade ao julgar o prefeito.
Na visão de muitos eleitores, a movimentação da Câmara não passa de uma grande palhaçada institucional, que expõe o Legislativo ao ridículo e coloca os interesses políticos acima da verdade e da justiça.