Em matéria publicada na Folha de São Paulo, o jornalista Marcos Candido denuncia um esquema envolvendo a venda de coautorias em artigos científicos para candidatos a programas de residência médica. Entre as publicações envolvidas está a “Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences”, uma revista de odontologia com sede em Macapá, no Amapá.
Candidatos a programas em grandes universidades como USP (Universidade de São Paulo) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) têm recorrido a este tipo de prática para incrementar seus currículos.
A publicação de um artigo na revista de Macapá custa entre R$ 395 (via Pix) e R$ 435 (no cartão de crédito), e permite a inclusão de até 12 autores. Segundo relatos, os médicos recebem um modelo de artigo pronto, com orientações sobre como redigir cada parte do texto.
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) recebeu uma denúncia sobre o esquema e iniciou investigações preliminares. A prática tem sido classificada como fraudulenta pela Associação Médica Brasileira (AMB), que afirma que a compra de coautorias em artigos nos quais o candidato não teve participação efetiva é uma violação ética e ilegal.
A revista sediada no Amapá tem sido citada em casos como o de um artigo sobre anestesia e doenças musculares, assinado por médicos de diversas cidades brasileiras, incluindo Aracaju, Florianópolis e Taubaté. Parte dos autores foram convocados para a segunda fase do processo seletivo de residência da Faculdade de Medicina da USP.
Eber Coelho Paraguassu, cirurgião-dentista e editor-chefe da revista em Macapá, negou irregularidades. Em nota, afirmou que a revista segue um processo editorial rápido e rigoroso, e que não há motivo para rejeitar artigos que estejam em conformidade com as normas. Ele ainda ressaltou o compromisso da publicação com a ciência e a seriedade acadêmica.
A USP, por sua vez, repudiou veementemente práticas fraudulentas e reforçou a necessidade de uma produção científica legítima, fundamentada no esforço e dedicação dos pesquisadores. Além disso, professores da instituição sugeriram criar um comitê para avaliar os currículos e anular pontos provenientes de revistas suspeitas.
A denúncia traz um alerta sobre os impactos da comercialização de coautorias para a credibilidade da ciência, especialmente em uma região como o Amapá, onde iniciativas científicas podem contribuir significativamente para o desenvolvimento local. No entanto, o caso expõe como a integridade acadêmica tem sido desafiada por práticas questionáveis que afetam não apenas instituições de prestígio, mas também a percepção do valor das pesquisas realizadas em diferentes partes do Brasil.