Um piloto, conhecido como Wílson da Natal, foi pousar com o avião carregado numa pista muito pequena de garimpo, onde havia chovido muito. No final da pista, o avião atolou. Um dos recursos que usamos nesses casos é sentar, lá atrás, na cauda do avião, para aliviar o peso da roda da frente, conhecida como bequilha, e então girar com as rodas de trás, desatolando-o. Wílson adotou esse processo comum. Descarregou o avião, tirou toda a carga. Um homem sentou-se na cauda, segurou-se ali, na deriva, e fez o avião girar. Wílson foi acelerando o motor do avião, saindo do atoleiro, e seguindo na direção da cantina que tinha ficado lá atrás, no princípio da pista. Porém, já vazio, resolveu ir embora, deixando para a segunda viagem seu acerto com o dono da carga. Logo alcançou velocidade de decolagem. Entretanto, o avião começou a querer entortar a direção e o rumo e a vibrar. Como era pista de “caixão”, árvores altas nas cabeceiras e dos lados, não havia mais jeito de abortar a decolagem, sob pena de entrar mata afora. Resolveu:
– Vou tirar! Vou fazer voar!
O avião, com um comportamento muito estranho, vibrando tudo! Não aceitava velocidades inferiores a cento e quinze milhas, como também não aceitava acima de cento e trinta ou quarenta milhas. Ficou naquele meio-termo e doido para cair para um lado.
Wilson começou a chamar todo mundo pelo rádio, porque já previa o pior. Achava que quebrara alguma coisa, o avião estava esquisito, estranho. Outros aviões na área foram se aproximando dele, procurando ver o que acontecera, externamente. Logo notaram e, estupefatos, comunicaram o que ocorria ao preocupado piloto:
— Olhe para trás. Tem um cara sentado na cauda do avião!
— Vocês estão brincando comigo, porra! numa hora desta, caraí!
— Nada disso, olhe para trás burro, O cara tá sentado lá!
Quando olhou, viu um barbudo sentado na cauda do avião, com as perninhas dobradas para trás e o braço encaixado na deriva, bem agarrado. O vento açoitava as narinas do “carona”, que ficava com bochechas de palhaço, e os olhinhos fechados de tanto vento.
Wílson não entrou em pânico, mas levou um grande susto e ficou com medo de sair das proximidades daquela pista para passar a uma maior, o que o faria transpor selva bruta. Ficou rodando ali, e como a pista era próxima do Rio Novo, ele ia para cima do rio profundo, passava sobre ele na menor velocidade possível, fazendo sinal para que o homem pulasse na água. E o barbudo, mal se agüentando por causa do vento, levantava o dedinho fazendo que não, dando a entender que de jeito nenhum pularia. Piloto mandando o homem pular, e ele repetindo não.
Com tantos outros aviões circulando sua volta, Wílson foi se acalmando. Resolveu então que percorreria os oito minutos, cruzando o matão bruto, para ir até a pista de Armando, onde poderia entrar mais veloz e talvez pousar com o cara sentado lá atrás, pois até ali, aquilo era uma novidade na aviação. O centro de gravidade do avião totalmente deslocado. Evidentemente, se ele reduzisse muito a velocidade, a cauda, excessivamente pesada, chegaria pousando primeiro que as rodas do avião, e ia ser um espetáculo aquele avião com o nariz lá em cima com o cara sentado lá atrás; se muito veloz, vararia a pista e iria mato a dentro, merda do mesmo jeito.
Mas, na pista do Armando deu certo. Ela é muito comprida. Conseguiu entrar bem veloz e pousar com sucesso, apoiado na torcida que todos faziam.
Para a história não ficar sem final, quando Wilson parou e desceu do avião, o barbudo pulou logo no chão. Todo mundo, preocupado, pensando que ele estava traumatizado, e o vagabundo desce gritando:
— Eu sou o barba de aço! Eu falei que voava neste troço em qualquer lugar! Daqui pra frente, avião que não me couber, vai me levar na cauda!