Na ordem política, a dependência de recursos se vincula à vulnerabilidade na influência externa.
Abalos econômicos e governos instáveis são cenários ideias a qualquer nação que pretenda estender o seu poder e domínio. Vimos isso em vários momentos da história, nas guerras e conspirações que enfraqueceram governantes e dividiram territórios e povos – jogando uns contra os outros. Aliás, a ideia de dividir para dominar talvez explique parte do motivo pelo qual saímos de cerca de 70 países, em 1900, para 193, nos dias atuais.
Se considerarmos apenas o fator petróleo, veremos que a Inglaterra dominava jazidas pelo mundo, ao fim da 1ª Guerra Mundial, mesmo diante da poderosa Standard Oil. Anos depois, já na 2ª Guerra Mundial, a Alemanha controlava o manancial europeu e o Japão dominou o seu entorno. Esse cenário se modificou, quando empresas americanas passaram a controlar metade das reservas e jazidas mundiais.
Curiosamente, os países que mais detém petróleo em suas terras não são os mais ricos ou poderosos, como exemplifica a dona da maior reserva mundial: a Venezuela.
Sob outro enfoque, não consta que países dominantes e empresas transnacionais tenham tido gestos de empatia e de altruísmo, gratuitamente dividindo com o mundo o acesso às fontes de petróleo e gás, o mesmo ocorrendo com a conquista e divisão da Antártida, o livre acesso à pesca nas melhores regiões, às fontes de ferro, urânio, carvão, água potável e comida.
Aliás, há anos tivemos incidente por conta da pesca da lagosta, quando barco estrangeiro estava em nossas águas territoriais. Ao tempo, desenvolveu-se o argumento de que as lagostas seriam peixes, não estando presas no fundo, ao que se retrucou dizendo que “se a lagosta é um peixe, porque se desloca dando saltos, o canguru é uma ave”.
Noutro foco, o domínio do espaço também não foi aberto a todos, não apenas pelo custo. Envolve grande simbologia do poder, elementos da psicopolítica e o acesso às informações sobre localizações geográficas, monitoramento de locais estratégicos e movimentação, de tropas e pessoas.
Olhando para o espaço, o próprio futuro e o domínio do poder, muitos não se importaram com a fome pela qual passou e passa grande parte da humanidade.
Sempre cobraram caro, muito caro, pelo barril de petróleo, que acaba interferindo nos preços finais dos produtos importados e exportados.
A guerra na Ucrânia é atual exemplo de como é importante o exclusivo domínio das reservas e jazidas. O conflito se reflete diretamente na economia europeia e na submissão das pessoas e empresas ao novo regime de acesso ao gás e à energia elétrica, com o apagar noturno das luzes da Torre Eiffel, ruas ficando às escuras e o frio atingindo as residências.
Outro reflexo está no aumento da produção e consumo do carvão – altamente poluente! Em certa medida, em certos locais, usar o carro elétrico não reduziria tanto a poluição, porquanto a energia que chegou à bateria pode ter sido produzida pela queima do carvão…
Tudo está interligado. As partes, isoladamente, são apenas partes e não falam pelo todo.
Diante da pretensão de alguns em só olhar para partes é que se vê alimentada e potencializada a pretensão de maior intervenção estrangeira na Amazônia e, reflexamente, nos países da região.
Não é fato isolado e não é exclusividade do Século XXI. Há precedentes dessas intervenções, nos livros e nas relações passadas. A história demonstra casos e casos, sob a aparência de altruístas gestos, como a ocorrida aqui mesmo, quando espelhinhos foram oferecidos aos que viviam nestas terras, por ocasião do Descobrimento.
Noutro foco, sabemos que o Princípio da Reciprocidade rege a relação entre os países, materializando igualdade e respeito mútuos.
Assim, para se pensar em pseudo gestão global sobre a região, afetando a Soberania dos países onde se localiza, ter-se-ia de se pensar num mesmo modelo que se aplicasse sobre outras ricas regiões do Planeta, com ou sem florestas, como o Golfo Pérsico, as minas de Diamante localizadas no continente africano, o Ártico, a Antártida, as produtivas terras do Meio Oeste americano, etc.
Por acaso cogita-se tamanha reciprocidade? Onde estaria o ponto de equilíbrio em se alvitrar gestão global sobre quaisquer áreas do mundo?
Novamente um exemplo pode nos dar a dimensão da questão e nos levar à amplas reflexões. Como o Planeta não tem uma lixeira, ele é o próprio depósito de lixo. Povos que mal tem o que comer não consomem e não produzem resíduos nas proporções dos gigantes consumistas e, ainda assim, sofrem com o lixo alheio.
E, convenhamos, parece que o mundo não se importa com isso, do mesmo modo que não se interessa em dividir os seus acessos às fontes de riqueza natural – que são tidos por exclusivos, estando bem protegidos por potentes forças militares.
Nessa lógica perversa e pragmática, por qual motivo ainda querem exercer mais penetração na Região Amazônica? Se fosse para fazer aqui o que fizeram com as suas florestas e matas nativas, rios poluídos e regiões devastadas por continuas guerras, melhor nada fazerem. Muitos dos seus exemplos não são bons indicativos históricos, notadamente quando temos moderno e rigoroso Código Florestal.
Diante da atual crise energética na Europa, lá se destruiu florestas com 12 mil anos (Frontline, 02.5.2022), constando que a “Europa sacrifica florestas ancestrais para combater crise de energia” (Estadão, 13.9.2022). A propósito, também consta que a França teve recorde de produção de gás carbônico, pela queima de florestas (Uol, 12.8.2022).
Essas coisas não alarmam o mundo? Onde estão os que tanto questionam as coisas ligadas à Amazônia e ao cuidado com essas florestas, matas e biodiversidade? Acaso não parece haver dois pesos e duas medidas?
Associar a Amazônia apenas às florestas não faz jus ao que representa. Para começar, há 25 milhões de brasileiros na Amazônia brasileira, imensa e inesgotável fonte de pura água doce, vasta biodiversidade e riquezas minerais, descobertas e por se descobrir. Além disso, a Amazônia legal representa 59% do nosso território!
Pensar que a Amazônia é só floresta seria o mesmo que se limitar à areia e ao calor, quando se imagina o Oriente Médio. A simplificação mais atrapalha do que ajuda e seria capaz de reduzir a imagem da Austrália aos cangurus, a da China aos pandas e a do Havaí ao surfe.
A natureza tem os seus segredos aqui e no mundo e convém lembrar que parte da imensa Região Amazônica é formada por vegetação de Cerrado, que queima anualmente, assim como ocorre na Savana africana. Aliás, neste ano, lamentáveis imensos incêndios anuais ocorreram na Califórnia (EUA), consumindo 53 mil acres (Uol, 28.7.2022) e, com recorde de focos, na Europa, com 659 mil hectares queimados (Poder 360, 15.8.2022).
A população aumenta no mundo, bagunçado pela humanidade. De longe, poucos observam a maioria silenciosa e impotente, em sociedades incapazes de corrigir as sombras do passado que teimam em avançar, com novos ângulos de dominação transnacional.