Noutros tempos, o mundo reinante se desfez e levou à extinção os dinossauros. Hoje, o mundo não é dominado pelos gigantescos elefantes e baleias ou por animais fortes como os tigres e os touros. O planeta é dominado pelos seres humanos.
A dominação humana não é uma simples relação de lei do mais forte ou do mais capaz, sobre as demais espécies. O ser humano se espalhou por todos os continentes, aprendeu a produzir alimentos e não se satisfez. Na sua incontrolável vontade de ter poder, transformou o mundo. Não satisfeito, criou armas capazes de destruir a si próprio e alterou tanto os ciclos naturais e o meio ambiente que produziu armadilhas para a sua própria sobrevivência.
Hoje, do jeito que as coisas seguem, a grande pergunta é se sobreviveremos ao que estamos fazendo. Não são só garrafas plásticas e lixo em praias, rios e mares que definem os riscos ao meio ambiente. Não são só os desmatamentos descontrolados, queimadas ou a exploração mineral desenfreada que afetarão o futuro da vida conhecida no planeta, nem a poluição por esgoto orgânico e dejetos industriais e o inapropriado armazenamento do lixo químico. Não é problema da gestão de tudo isso pelos países pobres ou menos desenvolvidos, como alguns imaginam.
Dentre os países ricos e poderosos, os EUA, recentemente, declarou extintas mais 23 espécies animais que lá viviam, inclusive o pica-pau-bico-de-marfim que inspirou a criação do Pica-pau – aquele famoso personagem de desenho animado. Poderíamos concluir que criticam o resto do mundo, sem fazer o dever de casa. Caminhamos rumo ao abismo que criamos.
O maior vilão a nos desafiar está no conjunto dos botões mais perigosos do mundo, capazes de gerar os lançamentos de misseis balísticos armados com ogivas nucleares ou de ocasionar o erodir dos mecanismos de controle das usinas nucleares, como se viu em Chernobyl (União Soviética) e em Three Mile Island (EUA).
É naturalmente previsível que o temido “fim do mundo” venha pelo armagedom nuclear ou pelo armagedom ambiental.
De fato, incidente nuclear de grandes proporções pode gerar incontrolável catástrofe ambiental e o fim da vida, tal como conhecida.
Portanto, o fim do mundo por inviabilidade da vida causada por catástrofe ambiental pode ser a causa final, ocasionada, aí sim, por ações humanas de descontrole no cuidado com o meio ambiente ou por ações humanas que gerem catástrofe nuclear que acabe gerando o caos ambiental.
O pior cenário imaginado em filmes de ficção científica talvez esteja longe de revelar o que realmente está por vir. Chama a atenção a complacência da população e da comunidade científica e política ante essa situação óbvia.
Está em poder da humanidade e dos gestores políticos das maiores potências acabar inteiramente com a ameaça de guerra nuclear – e de desligar as usinas nucleares existentes, optando por produzir energia através de meios menos arriscados e poluentes.
100 mil anos!?
Esse é o prazo pelo qual se pretende guardar na Finlâdia os resíduos nucleares, em caverna apelidada de “tumba nuclear”. Nem dá para se entender o alcance disso tudo, ali armazenado por tanto tempo, enquanto nos EUA se armazena em “tonéis” nas próprias usinas e há incontável quantidade de barris na Alemanha e em outros locais.
Como o ser humano foi capaz de criar e construir usinas e ogivas nucleares sem que tivesse antes resolvido definitivamente a guarda e o armazenamento dos respectivos dejetos?
Assim, se repentinamente resolvêssemos acabar com todo o material nuclear hoje existente em usinas e ogivas, já teríamos muitos problemas com o lixo nuclear hoje depositado por aí.
No fim, a questão é que podemos eliminar a possibilidade de guerra nuclear e acabar com as ogivas, mas não nos livraremos tão facilmente da mudança climática que já se inicia.
Curiosamente, Guerra Nuclear iniciada intencionalmente ou por acidental disparo de mísseis causariam “o fim” como processo rápido da mesma aceleração da mudança climática que gradativamente acompanhamos e que, exatamente por essa sua “lenta” progressividade, não nos parece tão perigosa.
Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.
Esse paradoxo cobra-nos mais do que podemos dar. A impotente humanidade assiste ao seu gradativo ocaso.
O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) tem por base o progressivo desarmamento. Os países que as possuem não se desarmaram e impediram que outros países as desenvolvessem. Com isso, apenas “parte” foi cumprida, o que, na prática, indica que não alcançou o seu pleno objetivo. Além disso, curiosamente, o Art. 6º do referido Tratado (Anexo ao Decreto Presidencial 2.864/98, com a adesão do Brasil) fala na necessidade de “boa fé” das partes que o assinam.
Apesar de acharmos ser óbvio que quem o assinou o fez por boa-fé, parece que esta qualidade está diretamente ligada ao não sucesso do Tratado, na medida em que as grandes potências não se desarmaram, como previsto… Isso gera suspeitas e reações não infundadas daqueles que de boa-fé agiram e não se armaram. Meio que dois pesos e duas medidas, quando o exigível e necessariamente valoroso seria que todas agissem com a sua autêntica boa-fé, o que nos leva a crer que os plenos objetivos poderiam já ter sido alcançados se, desde 1970, quando entrou em vigor, progressiva e gradativamente tivessem sido desmontados os seus arsenais.
São 50 anos, muito menos tempo do que levaram para se criar, projetar e montar, desde fins da 2ª Guerra Mundial e o exemplo danoso do poderoso bombardeio em Hiroshima e Nagasaki.
O tema cresce em importância pois nesses dias se divulgou que a China testou novo míssil hipersônico com capacidade nuclear, deixando o mundo em alerta.
O curioso é que vemos tudo com os olhos do bem contra o mal. Aceitamos de boa-fé que todos devam se desarmar. Somos manipulados e levados a crer que o bem e o mal não poderiam se armar… Mas, se o dito “bem” se arma contra o “mal” e se vale disso para ameaçar com guerras e criar embargos comerciais, quem é o malvado, afinal de contas?
Toda ação leva a uma reação e é o que temos visto nas últimas décadas. Hesitação e não consumação de boas ideias e ansiadas iniciativas deixam no meio do caminho um rastro de incertezas.
Adiamos o que deveria já estar resolvido e, assim, sob o comando dos donos do poder, caminhamos ingênuos e em silêncio, enquanto nos distraem com assuntos distorcidos, como a atribuição de exclusiva culpa do “agronegócio” pelo desmatamento, o boicote a produtos nossos e de outras nações etc.
A luta dos mais poderosos nessa economia globalizada se dá num patamar tão alto que nem conseguem ver que na base da pirâmide se morre de fome e sede e na África se nega vacinação contra o Covid às pessoas… Parece que se esquecem de que ninguém está imune ao que acontece no mundo.
Enquanto isso, seguimos como marionetes rumo ao futuro que nos é destinado pelos manipuladores dos cordéis, tendo apenas a sensação de impotência e a consciência de que não escrevemos a História que pode nos dizimar.