Réus confessos pelo assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz deram versões diferentes em seus depoimentos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Um dos pontos dos depoimentos que divergem é a origem da arma utilizada no crime: a submetralhadora MP5, de calibre nove milímetros.
Em seu relato, Lessa disse que recebeu a MP5 das mãos de Edmílson Oliveira da Silva, o Macalé. A arma, segundo Lessa, foi adquirida junto ao ex-assessor de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), Robson Calixto da Fonseca, o Peixe.
Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, estão presos acusados de serem os mandantes do crime. Segundo a investigação, Macalé foi um intermediário entre Lessa e os dois.
“Ele só aceitaria (a MP5) se ele verificasse a arma em todos os sentidos. Inclusive, se tinha munição”, disse Lessa.
Élcio de Queiroz, motorista do Cobalt prata, usado no crime contou uma outra história: que a MP5 era de Lessa e que havia sido adquirida meses antes do crime.
“Ele tinha muito carinho pela arma”, disse Élcio sobre Lessa.
Até no descarte da MP5, a história contada na audiência é diferente. Lessa fala que viu Macalé entregando a arma ao miliciano Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho, em Rio das Pedras.
Élcio diz que Lessa lhe contou que serrou a arma e jogou no mar da Barra da Tijuca. Buscas foram feitas na região e nada foi encontrado.
Na sexta-feira (30), foi o primeiro dia de depoimento de Élcio de Queiroz no STF e o 15º dia de depoimentos na audiência de instrução e julgamento do caso Marielle no tribunal. Os depoimentos acontecem por videoconferência. Lessa depôs na quarta e na quinta.
Motivação: outra divergência
Outro ponto de discordância entre os executores é que Élcio falou que ouviu de Lessa que o crime era de cunho “pessoal”. Questionado pelo representante da PGR, o promotor Olavo Pezzotti, Élcio conta que isso só faria sentido se houvesse algum caso de afronta de Marielle com Lessa.
“Nunca ouvi nada da senhora Marielle. Não sabia que ele iria praticar o homicídio. Me senti enganado”, revela Élcio.
Lessa chegou a dizer que estava há meses de Marielle. Ele também conta que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão infiltraram uma pessoa no PSOL, Laerte Silva de Lima para passar informações sobre a vereadora.
Aumento de patrimônio
Élcio conta que após o crime percebeu o amigo de 30 anos ter um aumento patrimonial. Segundo ele, Lessa comprou uma lancha após destruir a quem tinha em um acidente, comprou um carro novo para a mulher e colocou blindagem nova, além de viajar para os Estados Unidos.
“Confrontei o Ronnie. Falei: ‘olha, a madrinha (era como Élcio chamava Elaine, mulher de Lessa) está incomodada por você pagar dois aluguéis e ter tanto gasto’. Eu percebo que não tem lastro. Tudo bem, tinha gatonet, máquinas, salário da PM, mas não dava. Passei a desconfiar”, contou Élcio.
Ronnie Lessa, em sua delação, contou que receberia como recompensa dois terrenos no alto de um morro no bairro do Tanque, em Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade.
O ex-policial também era conhecido por comercializar armas. Ele responde um processo, em sigilo, na Justiça Federal. Horas depois de ser preso, a Polícia Civil apreendeu 117 fuzis M-16 incompletos na casa de um amigo de Lessa. O armamento era falsificado, mas se montado seria capaz de atirar.
Antes de Élcio, outras nove testemunhas prestaram depoimento chamadas pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Élcio volta a depor na segunda-feira (2). A partir de 9 de setembro começam os depoimentos das testemunhas escolhidas pelas defesas e aprovadas pelo juiz relator, o ministro Alexandre de Moraes.
Com informações de G1