Incansável e importuna, a imprensa televisionada desfavorece o novo governo. Contumaz e ávida por trabalho, tudo reproduz. Noutro dia, foi a pronúncia do Presidente Lula, quando o mesmo lamentou: “Eu tô preocupado, porque se você for fazer uma licitação, pra comprar um colchão, vai demorar noventa dias e eu, sinceramente, tô cansado de ficar no hotel. Eu não sei quanto tempo vai demorar ainda, porque vai depender de um acerto com o Tribunal de Contas, pra saber se é possível comprar as coisas, em caráter emergencial, sem passar por um processo de esperar noventa dias, numa licitação pra comprar uma cama, pra comprar um colchão” …
Ora, o crivo sensorial midiático está desajustado, desatento e longe de apoiar o Executivo Federal, lançando nota do desabafo presidencial, indo de encontro com tantos outros males atuais, que sobrevêm aos ombros do Chefe de Estado. Logo agora com centenas de brasileiros sendo acusados e enquadrados, ao que parece, no artigo 359, M, da CF/88? Com esses nacionais sendo submetidos a situações desumanas, sem colchão para dormir ou lugar para atender às necessidades fisiológicas básicas, vem a notícia de um desabafo do Presidente sobre colchão e hotel? Francamente…
Imputaram o art. 359-M – tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos – aos manifestantes que buscavam por liberdade de expressão do artigo 220 da CF/88. A baderna instalada pela manifestação do pensamento, sob qualquer forma desordeira, naquele mesmo local, em Brasília, já teve, em momentos outros, mais tolerância presidencial. Por isso, é quase inacreditável a atribuição daquele crime, partindo tal postura do atual governo socialdemocrata.
Inconcebível, talvez, vindo-se de uma personalidade que alcançou o inalcançável, que atingiu o inatingível, daquele que mais se elegeu Presidente do Brasil- segundo palavras suas- mesmo após estar inelegível, por sentença transitada em julgado, colegiada, em alguns tribunais. Mesmo assim, recebeu a posse de Ministro, antes, categoricamente contrário a suposta candidatura. O Presidente habilmente alcança o troféu de maior articulista político da história do país.
Diante de tantas incongruências, contradições, deslizes, recuos e falta de afinação de sua equipe de governo, os dizeres do Presidente ficam muito expostos à sarcástica e sem coração mídia televisiva, a velha imprensa. Sempre inconsequente, até intenta boas defesas, mas o que mais consegue é dar munição à oposição. E, convenhamos, soma-se aos ministros, com sua lista infindável de embaraços, afrontando de morte o talento diplomático de Lula.
Com esses ministros recém empossados, que alegam, dentre outras coisas, em discurso, sem permissão, revisão de reforma previdenciária, fim de saque-aniversário de FGTS, retorno de incidência de imposto federal aos combustíveis, tudo e mais um pouco com altíssima repercussão negativa. Não bastasse, vem embaixador argentino, para discutir a criação da ressuscitada moeda única, do famigerado MERCOSUL. Outra vez, o Presidente atolado de situações a resolver, teve mais essa para recuar e desmentir. Totalmente prejudicial. Quanta desarmonia, o que escancara uma desorganização republicana sem precedentes. O mercado, todo dia, toma chuva de bombardeios de um governo que não conversa entre si.
Como se isso fosse pouco, o novo governo também enfrenta problemas com o passado de membros do alto escalão, como acusações de ligações com milicianos e grupos paramilitares. Soma-se a isso decisões administrativas, como a da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que causou desconforto e preocupação no mercado. Lá vai o governo avaliar e voltar atrás.
Outra brilhante ideia trouxe maus ventos e provocou repercussão ruim: ministro que sugeriu que empresas condenadas por corrupção voltassem a realizar obras do governo federal – inclusive as que responderam na lava-jato, em troca de abatimento das multas obrigadas a pagar por envolvimento com práticas ilegais. Sinceramente…
Ademias, Lula enfrenta o problema, mais do que notório, de ausência de atuação preventiva, na segurança pública do país, desaguando em colo da Defesa Nacional. Presidente da República é um só, gente, não pode, ainda que queira, se transformar em trinta e sete, para orientar a condução diplomática do seu plano de governo.
É atribulação infinita, que, há muito, não se via por aqui… Todos aguardam ansiosos pelo Brasil que Lula prometeu, em campanha. Todos esperam que o binômio necessidade-oportunidade seja combinado com o desenvolvimento-dignidade ao povo brasileiro. Que a equipe de governo e a velha imprensa terminem seus desencontros sistêmicos e o Brasil cresça.
Baderna politiqueira
