A bebê de um ano que na terça-feira (26) foi baleada no rosto por um tiro de airsoft disparado por um policial militar teve alta médica e deixou o hospital onde estava internada em São Paulo.
A informação foi confirmada nesta quarta-feira (27) à reportagem pela madrinha da menina e por funcionários da unidade médica. A menina ainda seguiria para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito.
A criança havia sido ferida na madrugada de terça na Rua Sete Estrelas, no Itaim Paulista, Zona Leste da capital. Ela estava com o pai numa moto quando um agente da Polícia Militar (PM) atirou na direção deles. Uma câmera de segurança gravou o que aconteceu.
A garota foi socorrida por familiares, que notaram que ela estava chorando e sangrando. Eles a levaram ao Hospital Tide Setubal, em São Miguel Paulista, onde recebeu anestesia geral, e passou por uma cirurgia de emergência para retirar o projétil, que estava alojado no rosto dela. A vítima levou pontos na bochecha. Ela não corre risco de morte.
Airsoft é uma arma de pressão com munição de plástico. Ela é usada por praticantes de tiro em estandes apropriados para o esporte. E não pertence ao armamento oficial da Polícia Militar.
Dois policiais militares que estavam na viatura que aparece nas filmagens foram afastados preventivamente pela corporação. A informação foi confirmada nesta quarta pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Os PMs já foram ouvidos pela corporação. A Corregedoria da Polícia Militar apura as condutas deles. Depois, os dois prestaram depoimentos na Polícia Civil, que investiga o caso como tentativa de homicídio. O 67º Distrito Policial (DP), Jardim Robru, quer saber qual dos agentes fez o disparo que feriu a menina já que não há confirmação oficial de quem atirou.
Até a última atualização desta reportagem a arma de pressão usada no crime não havia sido apreendida ou entregue para as autoridades. O equipamento seria particular.
“A SSP ressalta que a Polícia Militar é uma instituição legalista, que não compactua com desvios de conduta e que promove treinamentos constantes para que todos os seus integrantes ajam dentro dos protocolos estabelecidos”, continua o comunicado da Secretaria da Segurança.
Além de querer ouvir os policiais, a Polícia Civil analisa juntamente com a Polícia Técnico-Científica o vídeo que mostra quando um dos agentes que dirigia a viatura da Polícia Militar coloca o braço para fora da janela e atira na direção de uma moto, que cruzou seu caminho no sentido contrário.
No veículo estavam a menina e o pai dela, que pilotava sem capacete e sem habilitação. Ele havia pego a motocicleta emprestada de um amigo. Pela lei de trânsito é proibido andar de moto sem capacete e sem ter habilitação, além de transportar irregularmente crianças com menos de 10 anos de idade em motocicletas.
Essa infração é considerada gravíssima. Quem a comete pode receber multa como punição. O dono da moto também pode ter a carteira suspensa e o veículo apreendido por tê-lo emprestado a pessoa não habilitada.
Mas, segundo a investigação, o agente da PM não deu nenhuma ordem de parada para o piloto parar. E sequer registrou a ocorrência ou a levou para uma delegacia. Ao invés disso, o PM preferiu sacar uma arma de airsoft e disparou.
A bala foi encaminhada à Polícia Técnico-Científica para ser periciada. Foi a família da menina que procurou o 50º Distrito Policial (DP), Itaim Paulista, onde registrou um boletim de ocorrência para apurar o caso. A investigação é feita pelo 67º DP, Jardim Robru.
‘Torpeza da conduta’, diz delegado
“Não houve ordem de parada, não houve abordagem policial, nenhum tipo de registro, nenhum tipo de comunicação”, disse o delegado Gregory Goes Siqueira, titular do 50º DP. “Conduta que julgo não ser adequada. O certo seria dar ciência à autoridade de plantão para que fosse feito o registro e a consequência jurídica dos fatos adequados.”
De acordo com o delegado, o PM que atirou na criança será responsabilizado criminalmente por tentativa de assassinato.
“Adianto que a conduta se amolda ao tipo penal de tentativa de homicídio, no mínimo a título de dolo eventual [quando se assume o risco de matar]”, falou Gregory. “Entendo que o policial militar que tem um conhecimento técnico prévio deve presumir que um disparo de airsoft daquela distância, numa moto no sentido contrario, poderia causar um acidente, uma fatalidade com a criança vindo a óbito em virtude de uma conduta deliberada, consciente e voluntária”.
Para o 50º DP, o fato de o policial militar ter usado um equipamento que não pertence à corporação aumenta a gravidade do que ele fez.
“Não há justificativa para utilizar um instrumento que nem faz parte do acervo que faz parte da atividade policial: o airsoft. O que demonstra a torpeza da conduta”, falou o delegado. “Pelas imagens é possível verificar que o policial, que estava na condição de motorista da viatura, efetua um disparo, um instrumento, depois conseguiu se constatar uma arma de airsoft pelas imagens.”
Menina ficou ferida e chorou
A madrinha da menina falou à reportagem que o pediu ao pai da criança para levar a filha dele até a sua casa. Mas quando chegou lá, viram a criança sangrando no rosto e chorando.
“A gente olhou, já estava furado e um monte de sangue nela”, afirmou a mulher, que não quis se identificar. “A gente tá abalado. Se ele tivesse dado a ordem, mandado parar, eu mesmo tinha descido da minha casa, pegado a neném. Só que um erro não justifica o outro porque a neném não tem culpa nenhuma”.
“Tão falando que foi airsoft, mas se é um tiro de verdade… iam matar a menina”, disse a madrinha da criança.
Testemunhas que moram na região filmaram viaturas da PM que foram até o local após o crime. Segundo elas, policiais procuravam câmeras de segurança.
Segundo a Ouvidoria da Polícia, o policial militar que atirou no rosto da criança poderá ser expulso da corporação.
Com Informações de G1

