Um estudo feito por pesquisadores de mais de 20 universidades dos Estados Unidos, incluindo médicos de Harvard e de Brown, revelou que crianças que têm um índice de massa corporal (IMC) elevado antes dos 4 anos apresentam maior chance de desenvolver obesidade após os 9.
A conclusão faz parte de um estudo conduzido pelo programa ECHO, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA e publicado na Jama Network nesta quinta-feira (22/5).
Os dados foram coletados entre 1997 e 2024, com base em medições periódicas de peso e altura de 9.483 crianças registradas em prontuários médicos, relatórios familiares e visitas presenciais. A análise revelou dois tipos principais de crescimento do IMC durante a infância.
A maioria (89,4%) seguiu uma trajetória considerada típica: o IMC caiu entre o primeiro e o sexto ano de vida e voltou a subir de forma gradual até os 9 anos. Um grupo menor (10,6%) manteve IMC estável até os 3,5 anos e, a partir daí, apresentou elevação acelerada até chegar à pré-adolescência.
Entre as crianças acompanhadas, meninos representaram 51,9% da amostra. A metodologia exigiu que cada uma tivesse pelo menos quatro medições de peso e altura entre 1 e 9 anos. Isso assegurou o monitoramento contínuo das trajetórias de crescimento.
Grupo de risco pode ser identificado cedo
Aos 9 anos, as crianças do grupo atípico estavam entre o 1% de crianças com maior peso na sua mesma faixa etária, ou seja, no 99º percentil.
O grupo típico apresentou IMC mínimo por volta dos 6 anos e crescimento gradual até os 9, com média de 17,3. Já o grupo atípico manteve IMC praticamente estável entre 1 e 3,5 anos e depois teve aumento linear expressivo até atingir média de 26,2 aos 9 anos.
A obesidade infantil
A definição de obesidade infantil é diferente da de adultos, que tem valores fixos como referência. Para crianças, o que vale é a comparação com a média da mesma faixa etária em um mesmo país. Para ser considerada acima do peso, a criança deve estar no 85º percentil e com obesidade, acima do percentil 95.
De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) de 2023, vinculado ao Ministério da Saúde, uma em cada sete crianças no Brasil apresenta excesso de peso ou obesidade. Os dados revelam que 14,2% das crianças brasileiras menores de cinco anos enfrentam problemas de peso.
“O fato de podermos identificar padrões incomuns de IMC já aos 3,5 anos mostra o quão crítica é a primeira infância para prevenir a obesidade”, disse o pesquisador Chang Liu, da Universidade Estadual de Washington, líder da pesquisa.
Impactos na saúde a longo prazo
Liu destaca que o excesso de gordura corporal, quando presente desde a infância, está associado ao surgimento precoce de condições graves como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
A endocrinologista pediátrica Maylla Moura Cabral, da Atma Soma, que não participou da pesquisa, destaca os efeitos a longo prazo da obesidade infantil. “Para as crianças, a obesidade traz uma série de problemas cognitivos, como baixo desempenho na escola, falta de atenção, má qualidade do sono, bullying e depressão. No decorrer da vida, elas tendem a ser adultos obesos e a desenvolver doenças articulares, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e outras condições crônicas”, alerta.
O que fez algumas crianças engordarem?
Fatores como tabagismo materno na gravidez, IMC elevado da gestante antes da concepção e ganho de peso acima do ideal durante a gestação foram ligados à trajetória atípica. Peso alto ao nascer também apareceu como elemento de risco.
“O estudo oferece oportunidades importantes para reduzir a obesidade infantil, como ajudar mulheres grávidas a parar de fumar e controlar o ganho de peso saudável, bem como monitorar de perto as crianças que apresentam sinais precoces de ganho rápido de peso”, afirmou Liu.
Os dados sugerem que as estratégias mais eficazes devem começar antes dos 4 anos, com ações voltadas não apenas à criança, mas também ao ambiente familiar e gestacional. A amamentação, o controle de peso durante a gravidez e a cessação do tabagismo materno estão entre as medidas para evitar a obesidade em crianças.
Fonte: Metrópoles