Nos últimos anos, estudos têm associado o aumento do tempo diante de telas com o crescimento dos diagnósticos de bruxismo na população, especialmente entre crianças e adolescentes. Contudo, ainda restam muitas lacunas para entender o que pode estar levando à combinação entre estes dois fenômenos.
Uma das hipóteses é que as pessoas estão passando boa parte do tempo diante de telas em jogos eletrônicos, que podem ser tanto um gatilho para o estresse como um inimigo da regulação do sono, dois fatores que aumentam a frequência de bruxismo.
“A luz emitida por esses dispositivos, conhecida como luz azul, é um estimulante cerebral, o que tende a afetar a produção do hormônio do sono. Como o bruxismo já é frequente entre crianças e jovens, o uso em excesso dos videogames pode estar potencializando esta tendência”, explica o cirurgião-dentista Rogério Penna, de Goiânia.
O que é o bruxismo?
- Bruxismo é o transtorno em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes, principalmente durante o sono, mas pode ocorrer também durante o dia.
- O bruxismo acontece de modo involuntário. Ele causa dores de cabeça e nos músculos do rosto, desgaste dos dentes e doenças nas gengivas.
- Em casos graves, pode levar a fraturas e distúrbios na articulação de ossos da face, como maxilar, mandíbula e têmporas.
- As causas do bruxismo ainda não foram completamente esclarecidas. Sabe-se, porém, que ele é mais frequente em pessoas que sofrem de ansiedade, estresse, refluxo e apneia do sono (ronco).
- O bruxismo nem sempre provoca sintomas, ainda que algumas pessoas sintam dores faciais, de ouvido ou de cabeça quando acordam, a maioria só descobre tê-lo quando vão ao dentista.
- O tratamento pode ser feito com o uso de placas para conter a mastigação, a placa oclusal, mas também pode envolver o tratamentos de problemas de ansiedade crônica e estresse em paralelo.
Pesquisa avalia relação do bruxismo com os jogos eletrônicos
Para encarar este problema de frente, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (Forp/USP) investiga a possível ligação entre a prática de e-sports e o desenvolvimento do bruxismo.
O estudo é focado em atletas digitais com mais de 18 anos. Os dados preliminares da pesquisa, ainda em andamento, confirmam a associação.
“Os gamers estão expostos a fatores como estresse competitivo, longas jornadas em frente às telas, privação do sono, uso de psicoestimulantes e alta exigência de desempenho, que podem estar relacionados ao desenvolvimento do bruxismo”, explica Caio Sberni Pinheiro de Souza, mestrando que é um dos coordenadores da pesquisa.
Os pesquisadores buscam novos voluntários para obter dados mais robustos. Os interessados devem responder a um questionário on-line que pode ser acessado aqui. A ideia é analisar como fatores como estresse, rotina intensa e hábitos emocionais dos jogadores podem se relacionar ao distúrbio de apertar ou ranger os dentes de forma inconsciente.
O tempo estimado para o preenchimento do questionário é de 10 minutos, com perguntas sobre rotina, dores, estado emocional e qualidade de vida. Se mais de 60% das respostas indicarem sinais de bruxismo, o jogador pode ser convidado a participar de uma nova etapa.
Nela, será feito um monitoramento durante sete dias, por meio de registros orais em um aplicativo de celular, para analisar os comportamentos ao longo do dia. Ainda não há data para a publicação dos resultados finais.
A proposta do grupo é gerar dados que ajudem na criação de estratégias preventivas e terapêuticas. Um dos objetivos é ampliar o debate sobre como o universo digital afeta não só a saúde mental, mas também funções físicas como a mastigação. “O bruxismo não pode ser visto isoladamente. Ele revela sobrecarga emocional e tensões acumuladas”, indica Caio.
Para gamers que já sofrem com o problema, Caio recomenda medidas preventivas para evitar o agravamento do bruxismo. “O gerenciamento do estresse, a melhoria da qualidade do sono e o acompanhamento odontológico com especialista em disfunção temporomandibular são essenciais”, conclui o dentista.
Sinais que pedem atenção
O bruxismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta cerca de 40% da população brasileira. Entre os sintomas mais frequentes estão dores de cabeça, desconforto na mandíbula ao acordar e desgaste dental.
Penna destaca ainda que a prevenção passa por mudanças de hábitos. “Atividades relaxantes, qualidade do sono e o acompanhamento odontológico são essenciais. A aplicação de toxina botulínica em alguns casos também tem se mostrado eficaz”, aponta.
Fonte: Metrópoles