“A minha casa fica lá detrás do mundo
Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar
O pensamento parece uma coisa à toa
Mas como a gente voa quando começa a pensar”.
Nas terras do Sul o frio faz o seu carnaval de arrepios, pingos congelantes, cortinas de neblina e aquele ar gelado que nos abraça até com nevascas.
Oh, meu São Francisco de Paula de montanhas nas terras altas de verdes campos ou descampados onde fitei o infinito pela vez primeira.
Dizem que o céu é mais azul nos campos do Sul. Talvez seja. O que lembro é da fogueira no centro do galpão e o crepitar dos nós de pinheiro aquecendo a casa inteira, enquanto, entre a dança de cuias de chimarrão e os canecos de gemada para os pequenos, um peão contava histórias encantatórias de suas lutas e lidas campeiras.
Pedacinho do Brasil ao sul do Equador conhecido por poucos e tão diferente quanto distante do extremo norte ou do Oiapoque nas terras baixas escaldantes do Amapá, pontos contrastantes de um gigante, de um país que se iguala pela diversidade ou multiplicidade multiplicada nas condições socioambientais, nas culturas e genealogias ancestrais.
Ainda bem que é possível voar quando se começa a pensar. Voar e entrelaçar sonhos e aspirações de todos os recantos e rincões, basta não carregar o bichinho da destruição, no lugar dele levar o sorriso da compreensão expresso no estender das mãos de encontro a outras mãos.
“E é por isso que eu gosto lá de fora
Porque eu sei que a falsidade não vigora” (Lupicínio Rodrigues, 1947)