Foi numa consulta com uma ginecologista no interior de São Paulo que a corretora de imóveis Ana Paula recebeu a indicação de fazer implantes de hormônio e tomar injeções de vitaminas B12 e D. O tratamento parecia simples e acessível, mas, já na terceira aplicação, surgiram complicações graves. A paciente desenvolveu uma infecção e, em seguida, uma intoxicação causada pelo excesso de vitaminas.
“Ela indicou que eu tomasse na clínica dela três injetáveis de vitamina B12 (nas nádegas) e três injetáveis de vitamina D”, conta. “Na terceira injeção começaram os problemas.”
O quadro se agravou rapidamente. Houve encapsulamento no local das injeções e inflamações recorrentes nas nádegas. A corretora passou a sentir dores constantes, dificuldade para andar, trabalhar, se exercitar e até mesmo para dormir.
“A minha vida de um ano para cá realmente modificou muito. Não posso fazer academia, não posso trabalhar direito, não posso dormir direito.”
Sem apresentar deficiência de vitaminas nos exames prévios, Ana Paula poderia ter feito apenas a reposição oral, caso fosse necessário. Em vez disso, sofreu uma reação imunológica ao corpo estranho injetado, explicou Clayton Macedo, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
“Ela tinha dosagens prévias com valores normais das vitaminas. O que ela fez foi uma reação imunológica”, afirma Macedo.
O processo inflamatório resultou em quatro cirurgias para tentar retirar o líquido formado na região. A paciente chegou a enfrentar risco de sepse, uma infecção generalizada.
Apesar da gravidade, a médica responsável minimizou os sintomas relatados. A corretora contou que ouviu da profissional que não estava exagerando, mesmo diante da ameaça de septicemia em dezembro. O medo se somou às sequelas físicas, e Ana Paula segue em tratamento. “Fiquei com risco de sepse, septicemia, né?”, relembra.
O caso expõe os perigos da suplementação sem necessidade real. Especialistas reforçam que vitaminas são importantes, mas, em excesso, podem causar reações graves e até fatais. No caso da vitamina D, a sobrecarga pode comprometer fígado, rins e o sistema imunológico. Para médicos, a regra é clara: só tomar quando houver deficiência comprovada e sempre com orientação adequada.
O que excesso de vitamina D pode causar no corpo?
Especialistas explicam que, em excesso, a vitamina D pode aumentar a absorção de cálcio no corpo. Esse cálcio pode se acumular nos rins, formando pedras, ou se depositar em órgãos como coração e cérebro, causando intoxicações silenciosas e de alto risco e até falência múltipla dos órgãos.
“A vitamina D ela aumenta a absorção de cálcio. Esse cálcio é filtrado na urina, pode se combinar com oxalato formando cálculos, pedras nos rins. Mas ela pode também se depositar nos órgãos, no caso do rim, uma doença grave chamada nefrocalcinose, mas pode ocorrer também no coração, no pericárdio e pode dar uma intoxicação cerebral.”
Apesar de essenciais, as vitaminas tornam-se tóxicas quando consumidas em excesso. Elas podem comprometer fígado, rins e sistema nervoso central, com efeitos muitas vezes imprevisíveis e até fatais, como alerta do Dr. Drauzio Varella.
“O mercado de vitaminas no Brasil movimenta mais de bilhões de reais por ano. Isso quer dizer que tem muita gente que toma sem necessidade. Quando elas estão bem indicadas, devem ser administradas por via oral, como nos alimentos, a menos que você tenha um problema digestivo que dificulte a absorção. Se não for esse o seu caso e algum profissional receitar vitaminas injetáveis e especialmente por soro na veia, desconfie.”
Fonte: G1