A morte do arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, considerado um dos maiores arquitetos do mundo e pai do conceito de “cidades-esponja”, foi confirmada nesta quarta-feira (24). Ele e mais três pessoas estavam a bordo de uma aeronave que caiu na zona rural de Aquidauana, Pantanal de Mato Grosso do Sul. Não há sobreviventes.
Yu foi recentemente uma das principais atrações da Bienal de Arquitetura, que acontece em São Paulo. Ele palestrou na abertura do evento, que ocorreu no último dia 19. Depois, seguiu em missão ao Pantanal sul-mato-grossense para conhecer a região.
Segundo amigos do cineasta Luiz Ferraz, outra vítima do acidente, ele e Kongjian Yu gravavam também um documentário sobre as “cidades-esponja”.
Yu era professor da Universidade de Pequim e diretor do escritório de arquitetura paisagística Turenscape, um dos maiores do mundo, fundado em 1998.
O arquiteto nasceu em 1963 na vila Dongyu, Jinhua, província de Zhejiang, China, em uma família de agricultores. Ele foi o criador de uma das ideias mais inovadoras da arquitetura moderna, chamada de “cidades-esponja”, desenhadas para absorver um grande volume de água.
Ele falou sobre o conceito em entrevista ao Fantástico no ano passado. “Eu sou de uma pequena vila que tem um rio. Vivi 17 anos como agricultor, isso me ensinou como trabalhar com a natureza”, contou.
O arquiteto era também consultor do governo chinês. Projetou obras em mais de 70 cidades, que hoje são capazes de receber mais chuva do que caiu ano passado no Rio Grande do Sul.
A noção de cidade-esponja ganhou força após uma tragédia em Pequim em 2012, quando chuvas intensas provocaram a morte de quase 80 pessoas. Na ocasião, a Cidade Proibida — construída séculos antes com um sofisticado sistema de drenagem — permaneceu seca.
O episódio reforçou a crítica de Yu: cidades modernas dependem demais de infraestrutura de concreto, canos e bombas, mas negligenciam soluções naturais que permitem à água infiltrar no solo. A partir daí, a China passou a investir fortemente em projetos de cidade-esponja.
Yu era graduado na Universidade Florestal de Beijing e doutor pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Segundo a revista Fapesp, em seus premiados projetos em cidades chinesas, Yu adotou a natureza e a metodologia conhecida como soluções baseadas na natureza para absorver, limpar e usar as águas fluviais e pluviais – em vez de expulsá-las com pressa das áreas urbanas com canalizações.
O acidente
O avião de pequeno porte caiu na noite de terça-feira (23). A queda aconteceu ao lado da pista de pouso da Fazenda Barra Mansa, uma área turística do Pantanal conhecida por receber visitantes do Brasil e do exterior.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o avião arremeteu durante a manobra de pouso. Funcionários que trabalham no local presenciaram o acidente e utilizaram um trator e caminhão-pipa para chegar à aeronave, que explodiu ao atingir o solo, e combater o fogo.
O g1 não conseguiu contato com a administração da fazenda até a última atualização desta reportagem.
Segundo a delegada Ana Cláudia Medina, do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), as vítimas são, além de Kongjian Yu:
A aeronave era um modelo Cessna, prefixo PT-BAN, de pequeno porte. De acordo com a delegada, o avião explodiu após atingir o solo e os corpos foram carbonizados.
Equipes do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado, junto com o Corpo de Bombeiros, estão no local do acidente para iniciar a retirada dos corpos. As causas da queda ainda são desconhecidas e serão investigadas inicialmente pelo Dracco.
Fonte: G1