A crise financeira dos Correios chegou ao ponto mais crítico em mais de uma década. A estatal acumula 13 trimestres consecutivos de prejuízo e encerrou setembro de 2025 com um rombo estimado em R$ 6 bilhões apenas em 2025.
A deterioração das contas, que já se arrastava desde 2022, ganhou mais velocidade em 2024 e 2025, pressionada pela queda de receitas, aumento de despesas e mudanças profundas no mercado de entregas, com a ampliação da concorrência e a criação do Remessa Conforme, conhecido como “taxa das blusinhas”.
O governo federal, que vem sendo pressionado a socorrer a empresa, já sinalizou que qualquer tipo de apoio financeiro depende da apresentação de um plano de recuperação sólido, com metas claras e cortes estruturais.
Nessa segunda-feira (8/12), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a falar sobre o assunto. Ele, que já tinha indicado a possibilidade de apoio financeiro aos Correios, admitiu que o Tesouro está encarregado de um plano de reestruturação e que teria espaço para aporte da União na estatal.
Ele disse, ainda, que o aporte seria de até R$ 6 bilhões, mas reforçou que as negociações não foram fechadas. De acordo com Haddad, o valor poderia ser previsto tanto em crédito extraordinário quanto em Projeto de Lei.
De toda maneira, ele alerta que existiriam contrapartidas para que o plano seja levado adiante. Em outras palavras, a estatal precisa arrumar a casa.
Entenda a crise dos Correios
A estatal vem enfrentando queda no volume de envios há anos, primeiro com a diminuição de faturas físicas, depois com o avanço das empresas privadas de logística. Em 2024, a estatal já registrava prejuízo de R$ 2,6 bilhões, mais de quatro vezes o déficit do ano anterior. De janeiro a setembro, o resultado negativo acumulado chegou a R$ 6,05 bilhões.
A empresa perdeu receita com serviços postais tradicionais e também viu despesas aumentarem, especialmente com juros e manutenção da estrutura. Os Correios são a maior rede logística do país, presente em 100% dos municípios, inclusive em áreas onde o serviço é deficitário por conta da acessibilidade.
Arte/Metrópoles
Como a “taxa das blusinhas” agravou o cenário
Um dos elementos que mais ajudaram a acelerar a crise dos Correios foi a mudança no comércio eletrônico internacional. Até 2023, plataformas estrangeiras como Shopee, Shein, AliExpress e Temu vendiam ao Brasil com isenção de imposto de importação para compras até US$ 50.
O aumento do volume de pacotes vindos da Ásia impulsionou o uso dos serviços de tratamento e encaminhamento dos Correios, uma das poucas áreas da estatal que vinha crescendo.
Com a criação da chamada “taxa das blusinhas”, que passou a cobrar imposto de importação sobre compras de até US$ 50, o fluxo de encomendas internacionais caiu. Isso atingiu diretamente uma das linhas de receita mais dinâmicas da empresa.
Embora os Correios não dependam exclusivamente desse nicho, a queda no volume reduziu o faturamento de um segmento que vinha compensando parcialmente a queda das cartas e dos serviços tradicionais.
Empréstimo travado pelo Tesouro
Para tentar estancar a sangria financeira, os Correios negociaram um empréstimo de R$ 20 bilhões com um consórcio formado por bancos públicos e privados. A ideia era garantir liquidez imediata, quitar dívidas urgentes, financiar a reestruturação e dar fôlego para reorganizar a rede logística.
No entanto, os bancos exigiam juros de aproximadamente 136% do CDI, acima do limite permitido pelo Tesouro Nacional para operações garantidas pela União, que é de até 120% do CDI. Diante disso, o empréstimo foi vetado.
A estatal afirma que está tentando renegociar a operação, mas também admite que busca alternativas emergenciais caso a linha de crédito não avance. Na prática, isso significa que outras medidas podem ser aceleradas, como a venda de imóveis, corte de contratos, antecipação de receitas e aprofundamento do programa de demissão voluntária (PDV), que já está em 15 milhões.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deixou claro que o governo não vai liberar nenhum tipo de socorro sem antes receber e aprovar um plano de recuperação formal. Isso inclui medidas de eficiência, ajustes de gestão, reorganização logística e redução expressiva de custos.
Para viabilizar o apoio sem estourar o orçamento, o governo incluiu na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 uma previsão que permite desconsiderar até R$ 10 bilhões em despesas destinadas a planos de reequilíbrio de estatais, incluindo os Correios, do cálculo da meta fiscal.
O plano de reestruturação dos Correios
- Fechamento de agências deficitárias, podendo chegar a mais de mil unidades;
- Venda de imóveis ociosos, com expectativa de arrecadar cerca de R$ 1,5 bilhão;
- Programa de demissão voluntária de até 15 mil funcionários para enxugar a folha;
- Revisão de contratos e cortes administrativos;
- Ampliação de parcerias e busca de novos nichos de receita.
Especialistas alertam que o maior risco é de estrangulamento da operação, ou seja, sem dinheiro para custeio, manutenção da frota, modernização de sistemas ou pagamento de fornecedores, a empresa pode enfrentar atrasos, falhas em entregas e perda de contratos importantes.
Isso resultaria em uma queda de qualidade que retroalimenta a crise, já que quanto pior o serviço, mais clientes migram para concorrentes e isso derruba ainda mais a receita.
Fonte: G1

