Oi Lula, como vão indo os entendimentos de sua posse? Espero sinceramente que tenha o melhor dos acertos neste bando de candidatos a cargos que agora afluem de volta e em torno de você. Tempinho atrás, lá em Curitiba, praticamente era só mesmo a Janja que lhe visitava. Mas, que fazer; política é assim mesmo…
Vamos conversar hoje desde o início não só do Brasil, mas até de outros mundos. Vamos falar de “protetores religiosos” e suas ferramentas para uso por aplicação presencial de suas ideias, ou sejam, os srs. índios.
Ao início dos novos descobrimentos no mundo que se expandia, nenhuma nau deixava portos europeus, espanholas ou portuguesas, sem dentro estarem padres da igreja europeia dominante na ocasião, também conhecida como católica. E olhe, o Papa mandava até em casamento de rei. (Vide caso inglês). Feroz e temido, dava ordens explícitas, caso encontrado uma nova seita, religião ou crença que pudesse ameaçar a hegemonia ocidental de sua igreja, a determinação era sumária, fossem eliminados todos os sacerdotes, os homens cultos e crentes. Assim foi com Cortez na América Central (México) e lá se foram os Astecas, como também se foram os Incas com Pizarro no Peru. Este último, encontrando Atahualpa a nomeada majestade por aquele povo como Rei Sol, inofensiva religião, recusou-se a matá-lo simplesmente, dizendo só o fazer com ordens direta da Corte. Os padres fizeram com que mandasse um navio de volta à Espanha para obter a ordem direta do Rei. E assim aconteceu. Por pressão papal, regressaram trazendo por escrito que se eliminasse não só o Rei Sol, como aos literatos praticantes e qualquer outro que possuísse o mínimo saber sobre crenças e artes. E lá se foram também os Incas.
Remanescentes Incas e Astecas, castrados de suas avançadas culturas à época, até os dias de hoje sobrevivem com diferenças sociais e carências na sociedade moderna.
Cá no Brasil meu caro Lula, tentou-se à ocasião fazer algo parecido. Vieram Jesuítas, para uma catequese, mas diferente de Anchieta, outros da ordem, enveredaram-se pelos caminhos “políticos” de novas pretensões teológicas, com ideias e teorias de bolsões autônomos. Assim como em Portugal, sede da colônia, procuraram proceder outras pregações, também politizadas. Resultado, aconteceu o episódio das Missões, que muito custou ao Brasil colônia acabar com ela. Foi preciso que lá fosse um bandeirante porreta chamado Diogo Jorge, o Velho, que deu um cacete em tudo e a todos, acabando com o sonho de território de protetorado religioso independente, culminando também com a determinação de ordens reais de expulsão de jesuítas não só do Brasil, como também de Portugal.
Ainda bem que os jesuítas de hoje, já voltados para a cultura e educação, tem se tornado grandes mestres do ensino mundial. Mas voltemos aos índios… Lula, a primeira coisa que tem que ficar bem claro, que o maior conselho possível a dar, ao longo dos meus 80 anos e dos meus mais de 50 anos de Amazônia e em parceria de vida comum com os senhores índios das mais diversas tribos, valendo, Carajás de Coxini, Xavantes de Paulo Lunda, Caiapós de Paiakan, Tucanos de Alvaro (aqui entre nós, cujo povo escraviza os Macus), Xikrins do rio Cateté de Maradona, Cintas-largas do Piú Pajé, Mundurucus de Dionisio Cristi, Yanomami de Aribina, e outros. Muito aprendi com todos eles, principalmente uma realidade nunca vista, nunca publicada e nunca difundida. Tudo ao redor deles sempre a atender sonhos, utopias, quimeras de gentes letradas, mas alheias a eles, os relegando e negando suas maiores necessidades.
Visto isso Lula, uma opinião me permito dar, nada faça antes de proceder a um importante e primeiro estudo real do que seja uma comunidade indígena, e mais, as araras são aves silvícolas, principalmente a azul, ultraprotegidas por lei, e elas lá vão se acabando de tantas penas retiradas ao enfeite e “fabricação” de falsas lideranças indígenas. Tudo para atender propósitos televisivos, de arrecadação de fundos, de propagandas e mais grave, mentiras ao exterior denegrindo a todos e a própria comunidade nacional dos que os cercam.
E mais Lula, vou dizer, você nem precisa acreditar no que agora lê, mas estude, pesquise, procure, talvez ache, pode ser…. porém, ao longo da minha jornada por tantos e remotos cantos, não conheci nenhuma liderança em comando de vontades indígenas do sexo feminino. Liderando a elas próprias, sim, mas as etnias, muito pelo contrário, a quase totalidade do que eu conheci, na cultura deles a mulher sempre tem até que pedir permissão para poder falar. O que muitas vezes provoca confusão é que mulheres, exceções poucas, logo, aprendem a falar a língua do dominador, restando as verdadeiras lideranças, o silêncio perante dialogo impossível por desconhecido que é.
Seria muito bom se você pudesse verificar, para não semear, perdendo mais que dinheiro, tempo, em terras áridas, pois que, mais importante que notícia e foto em jornal para uma administração responsável, é solucionar o que acontece perenizado no mundo deles, em nossa Nação.
O Brasil precisa conhecer para criar uma legislação que os atenda principalmente como nacionais, coisa que ao copiar o sistema americano, deixamos de fazê-lo. Pois, mesmo com presenças reconhecidas e legitimadas, eles não são donos e proprietários com direitos de porr# nenhuma. A Constituição manda ouvi-los, até para mineração na terra deles. Alguém já os ouviu, Lula? E essa lei maior tem 35 anos. Melhor seria criar comissões especiais no Congresso Nacional e enviá-los a comunidade indígena, não a seus supostos interlocutores, e muito menos a ordens religiosas ou lideranças indicadas por elas.
Você não precisa acreditar em nada do que lhe disse acima, mas não duvide das historicamente comprovadas, e até eu la vou me tornando história. Faça apenas um levantamento e um sério estudo do pesadelo tumultuado que hoje vivemos, índios e vizinhos, causado por interessados em utopias, sonhos ou simplesmente dinheiro.
Semana que vem lhe escrevo mais.
JOSÉ ALTINO MACHADO
Macapá, 04/12/2022
P.S Que se ressalve o magnífico trabalho secular desenvolvido pela Ordem dos Salesianos, enquanto outras sem nenhum conceito ou respeito ao espírito e sentimento de Nação navegaram/am tendo as letras da discórdia como ilustres companheiras.