Ficou evidente na leitura das missivas cívicas que o povo brasileiro, representado por trabalhadores, empresários, intelectuais, jornalistas, organizações da sociedade civil e o clero temem pela normalidade democrática. Na carta da USP, por exemplo, seus interlocutores afirmam que “ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições. Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”.
A leitura de todas as cartas retrata, com inusual fidelidade, nossa realidade. O Brasil vive uma instabilidade produzida por um presidente avesso ao trabalho, mas ferrenho nas ações contra as instituições democráticas. Desde o primeiro dia de seu governo Bolsonaro atira sem piedade no judiciário, na imprensa, nos órgãos de segurança pública, enfim, num apelo dramático para que o executivo triunfe de forma autoritária ditando regras duras contra as instituições e o povo. A verdade é que somente com o ensaio do pretendido golpe, Bolsonaro e seus adeptos já fizeram um estrago relevante na reputação das instituições, na maioria das vezes usando a erva daninha da modernidade que são as fakes News.
A grande virtude das missivas patrióticas foi despertar aqueles que apesar do perigo que corre a democracia não estavam se importando com o estrago institucional em curso. Foi ótimo ver estudantes, operários, clero, jornalistas, OAB, empresários e tantos outros, saírem do estado letárgico em que se encontravam e se preparar para uma reação cívica. Viu-se, claramente, que a bandeira brasileira está sendo usada do lado errado, servindo de suporte por quem quer a todo custo uma ruptura democrática. O ato que teve como enunciado a defesa do estado democrático de direito finaliza com um apelo magnânimo ao concluir que “a solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa, necessariamente, pelo respeito ao resultado das eleições.” Goffredo Telles Júnior vive.