Uma sequência de prints anexados pelo deputado Lucas Bove ao processo no qual é acusado pela ex-esposa, Cíntia Chagas, de agressões físicas e psicológicas expõe crises de ciúme da influenciadora. Em um dos casos, Cíntia exigiu que o parlamentar demitisse uma assessora. “Ela é bonita”, justificou. Em outra ocasião, mandou Bove apagar uma foto que havia postado ao lado de uma influenciadora bolsonarista: “Ridículo. Que ódio. C@ralh0. Apaga”.
Em uma mensagem enviada a Cíntia Chagas, Lucas Bove exibe um hematoma na lateral do corpo dele. O parlamentar sustenta que teria sido agredido pela então companheira após um evento em Barretos (SP), em 25 de agosto do ano passado. “Cotovelada voltando de Barretos”, escreveu na imagem enviada à então companheira, que não respondeu.
No processo, a defesa do deputado sustentou que “o relacionamento amoroso vivido pelas partes era prejudicial e tóxico para os dois, sendo situação conhecida pela literatura aplicada como um contexto de exaltação mútua, que impede qualquer caracterização de ocorrência criminosa”.
Uma das situações relatadas por Lucas Bove se refere à exigência feita por Cíntia Chagas para que ele demitisse uma de suas assessoras na Assembleia Legislativa de São Paulo. Em uma longa mensagem enviada pelo WhatsApp, em 13 de setembro de 2022, a influenciadora cobrou o parlamentar.
“Não dou conta”
Na ocasião, escreveu Cíntia Chagas: “Eu não vou tolerar essa mulher andando com você pra cima e pra baixo, como sua assessora. Eu não dou conta psicologicamente disso. Ela é da turma da sua ex, ela é bonita, ela vem do seu passado, já viveu coisas com você. Ela tem história com você. É simplesmente impossível para mim”.
A influenciadora continuou: “Posso até falar que aceito para colocar panos quentes, mas não vou dar conta, me conheço. Nossa rotina vai virar um inferno. A minha vida vai virar um inferno. Ainda que você dê todos os argumentos que deu, nenhum deles entra na minha cabeça. Acordei com algo que parece herpes na boca (nunca tive, aliás) só de remoer a possibilidade. Há coisas de que damos conta, há coisas de que não damos. E eu não dou conta”.
“Quer que eu diga que tudo bem, que aceito? Posso até dizer, mas não será verdadeiro. O que eu vejo sou eu calada, tentando aceitar, e a gente se separando, posteriormente, por causa disso”, emparedou Cíntia Chagas.
Cíntia envia uma foto da boca para mostrar as lesões causadas na mensagem, e Bove responde: “Boca linda”. O deputado responde a outra mensagem de Cíntia alegando que ele tenta diminuir o que ela está sentindo. “Não estou diminuindo”, diz. “Só não há como racionalizar. É um absurdo. Você querendo controlar quem eu contrato. Você vai sair perdendo com isso e vamos acabar brigando mais”, pontuou ele.
“Você quer aliviar uma dor que advém de uma loucura sua e vai prejudicar tudo. A mim, a você. O trabalho de ambos”, argumentou Bove. “Não quero controlar nada”, rebateu Cíntia. “Só não dou conta. Eu não dou conta”, disse. “Vamos trabalhar isso. Apenas se acalme”, respondeu o deputado. “Não”, retrucou a então namorada.
“Estourar assim não é a solução. Amor, deixa eu trabalhar. Está tudo bem. Depois falamos”, prosseguiu Bove. “Eu não quero ter de trabalhar nada. Eu vou acabar me separando de você. Acredite”, ameaça Cíntia. Em outro print da conversa, a influenciadora diz para o parlamentar ficar com a assessora. “Você já está fazendo do seu jeito. Vai ficar com ela aí. Casal lindo. Aliás, não apareça aqui hoje. Fica com ela aí. Leva ela pra passear”, concluiu Cíntia.
O deputado manteve a servidora, que disse conhecer há mais de 10 anos, em seu gabinete na Assembleia Legislativa de São Paulo.
“Apaga a foto, c@r@lh0”
Lucas Bove também apresentou à Justiça prints da reação de Cíntia Chagas a uma foto publicada por ele em seus stories no Instagram dia 29 de março de 2023, durante um jantar. Na foto, o deputado aparecia abraçado com outra influenciadora bolsonarista.
“Não gostei. Acabei de ver. Exagerado. Não é sua amiga. Apaga. Parece provocação pra mim. Não gostei mesmo. Diz que deu pau no celular, mas apaga”, escreveu Cíntia. “Ah, amor. Não tem como apagar”, responde Bove. “Pode apagar”, insiste a influenciadora. “Não começa. Tirei [foto] com todos. Não vou apagar. Não começa”, repetiu o deputado.
Cíntia começa a parecer mais irritada com a resistência de Bove em deletar a publicação. “Tá histérico isso. Pqp”, diz. “Zero provocação. Tá ridículo isso. O problema foi com você”, responde o deputado. A influenciadora então envia novamente a postagem para Bove. “Olha isso”, escreve. “Não viaja. Para com isso”, pede o deputado. “Você não abraça ninguém assim. Ninguém. Nunca vi. Apaga”, reclamou Cíntia.
“Foi só pra foto. Não viaja. Eu não vou apagar”, disse Bove. Cíntia então escreve várias vezes em caixa alta: “Apaga”. Bove tenta encerrar a conversa. “Com licença, vou seguir com o jantar aqui”, diz. Cíntia responde “ok”, mas continua enviando mensagens. “Olha essa foto. Sem noção. Parecem namorados. Apaga. Ridículo. Por que tá fazendo isso? Vocês não são amigos. Tenha compostura. Apaga. Não apagou. Apaga. Manga da camisa puxada, agarrados. Que ódio. Ridículo. Apaga”, repetiu Cíntia, que, em seguida, telefonou para o então namorado.
Lucas Bove ignorou duas ligações de Cíntia e então respondeu: “Vou te ligar. Aguarde. Para de ser assim. Estou na mesa. Não vou atender”. As mensagens parecem deixar a influenciadora ainda mais irritada: “Aguarde o caralho. Apaga. Apaga”.
Cíntia enviou outra postagem de Bove e telefonou mais uma vez. “Olha pra isso. Olha. Olha bem. Não creio que você vai fazer isso. Eu te ouço e tudo”, reclamou. “Cíntia, presta atenção. Eu não disse que não vou apagar, estou pedindo pra você aguardar, se acalmar e parar de espernear. Você não vai ganhar no grito”, avisou o parlamentar. “Você está me humilhando”, respondeu Cíntia.
Em outro print da mesma conversa, Bove negou ter feito a postagem para provocar a namorada. “Larga de ser egocêntrica. Ridícula. Se acha”, disse. “Não precisa me ligar. Nem voltar. Passa o fim de semana aí. Se não apagar, me esquece”, reagiu a influenciadora. “Ok, então. Na ameaça, esquece”, respondeu o deputado.
No diálogo, que se estendeu por 40 minutos, Cíntia e Bove trocam ofensas, e o deputado acabou apagando a foto que deu início à discussão. Ao chegar ao hotel onde estava hospedado, ele disse ter postado outra imagem em que não estava abraçado com a amiga.
Divórcio e denúncia
Na denúncia feita contra Lucas Bove, registrada após o término do relacionamento, Cíntia Chagas anexou fotos de marcas em seu corpo, supostamente deixadas pelo ex-marido. Em sua defesa, Bove alegou que Cíntia era “adepta de apertões” e que os hematomas exibidos por ela na denúncia ocorreriam com consentimento. As imagens, assim como os prints apresentados pelo deputado, são de 2022 e 2023. Eles se casaram em maio de 2024 e se separaram em setembro.
No contrato do divórcio, o casal incluiu uma cláusula de confidencialidade no valor de R$ 1 milhão, que depois foi reduzida a pedido de Bove. Pela cláusula, os dois se comprometem a “não divulgar os termos ou motivações do presente divórcio, sob qualquer ângulo ou circunstância, ainda que tacitamente, bem como devem se abster de realizar quaisquer postagens e/ou publicações de conteúdos críticos e/ou ofensivos entre si em redes sociais ou mídias eletrônicas ou convencionais, especialmente relacionadas ao desfecho do casamento”.
Outra cláusula do divórcio proíbe Lucas Bove de entrar em contato com Cíntia por qualquer meio. Nesse caso, o valor da multa é de R$ 400 mil. “O Sr. Lucas compromete-se a não entrar em contato com a Sra. Cíntia, por qualquer meio e/ou por terceiros, direta ou indiretamente, por qualquer razão ou justificativa”, diz o documento.
“No caso de descumprimento das disposições estabelecidas nesta cláusula, a parte infratora estará sujeita ao pagamento de uma multa no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais). O pagamento da multa não prejudica o direito da parte lesada de buscar outras medidas legais para garantir o cumprimento das obrigações aqui estabelecidas e tampouco elimina tal cláusula, permanecendo esta válida mesmo após alguma infração por alguma das partes”, diz o acordo.
Com informações do Paulo Cappelli/Metrópoles
