Meio-dia…
O sol ri entre dentes!
Somente as cascaveis,
Agitam seus anéis,
Em ritmos doentes!
Estendem-se na areia,
Essas gentis donzelas…
Quando nem todas elas,
Têm as barrigas cheias!
E de todos os covis,
Lacraias venenosas,
Ressurgem preguiçosas,
Sedentas e febris!
Como quem não dormia,
Essas terríveis damas,
Fazem do chão suas camas,
Bem no meio do dia!
Nesse momento o mundo,
Solta um suspiro fundo,
Diante disso tudo;
Até parece chorar,
Quisera poder falar,
E não ser um mundo mudo!
Meio-dia…
Vento estático de denso…
Ar palpável…denso ar!
Vê-se a vagar;
Urubus maltrapilhos em seu lutos!
Sedentários, andarilho
Homens cultos,
Ferrovias, bondes, trilhos,
Viadutos,
E esses vivos que disputam
O mesmo ar!
E o ancião sem nexo
Já não mira perplexo
O espelho…
Lhe pesa em cima
O reflexo,
Porém não sente
O complexo
De estar velho!
Porém nesse dia,
O almoço pensado,
Está superado,
Barriga vazia!
E quando ele come,
Olhar apagado,
Apenas cansado,
De ser esse homem!
Meio-dia…
Cimento-armado
E ladrilhos,
Cachorradas e novilhos
Pastam juntos…
Homens, mulheres e filhos
Qual defuntos,
Mortos-vivos que disputam
O mesmo ar…
E nos galhos privativos,
Arranha-céus dessas
Matas,
Buscam soluções
Sensatas,
Os urubus pensativos…
Porém não há soluções,
Apenas horas que escoam,
Portanto essas aves voam,
Em busca de outras razões.!
Hora iguais a aeroplanos
Em espaços mal-vestidos!
Hora em telhados dormidos,
Urubus cotidianos!
…são esses nobres senhores,
Aqueles tais voadores,
Lembrados pelo poeta!
…que em suas poses discretas,
Ainda procuram Deus
nos voos errantes seus…
Itaguaraci Macedo
Químico e poeta